A empresa do amigo e ex-ministro do senador Fernando Collor (PTB-AL) foi um dos alvos da Polícia Federal na 11ª fase da OperaçãoLava-Jato. O juiz da 13ª Vara Federal, Sérgio Moro, determinou que os policiais fizessem buscas na GPI Participações, de Pedro Paulo Leoni Ramos, o “PP”, que, segundo o doleiro Alberto Youssef, orientou o operador a fazer pagamentos em espécie e em contas bancárias para o parlamentar. Porém, nesse caso, o alvo eram as relações do ex-ministro de Collor com o laboratório Labogen e o ex-deputado André Vargas (ex-PT-PR).

O juiz determinou que agentes e delegados fossem ao edifício na rua Padre João Manoel, no bairro Cerqueira César, em São Paulo. O objetivo era fazer cópia dos registros de entrada e saída do prédio onde funciona a GPI Participações. Mas não foi só isso.

Moro autorizou o acesso a dados em computadores, telefones celulares e outros dispositivos com arquivos eletrônicos, com apreensão dos equipamentos e mídias, CDs, DVDs e discos rígidos. Também foi autorizado o arrombamento de cofres caso eles não fossem abertos.

De acordo com Youssef e o sócio do laboratório Labogen, a GPI ingressaria na empresa farmacêutica com o objetivo de conseguir uma parceria com o Ministério da Saúde para produzir um medicamento, o citrato de sildenafila. Mas, de acordo com as investigações, a parceria só foi fechada por intervenção de André Vargas.

O então ministro Alexandre Padilha admitiu ter recebido o grupo e ter encaminhado “tecnicamente” o caso. Mas, segundo Youssef, o ministro é quem foi ao apartamento funcional de Vargas em 2013, na presença do doleiro e do então deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), outro investigado na Lava-Jato. A parceria não vingou, mas o juiz Sérgio Moro estranhou o fato de o ministério não tê-la rejeitado logo no início, já que o Labogen nunca havia produzido o medicamente, e nem tinha capacidade para isso.

Youssef disse que não pagou propina a Padilha e nem a Vargas, mas que pretendia produzir medicamentos de forma lícita. Para isso, convidou Pedro Paulo Leoni e Mauro Boschiero, da GPI, para participar do negócio.

Conexão

Além de Boschiero e “PP”, a GPI é formada pelo economista Simá Medeiros, ex-presidente das Centrais Elétricas de Mato Grosso. Boschiero assinou um contrato entregue por Leonardo Meirelles a Sérgio Moro no ano passado, em que se negocia a compra de créditos tributários do governo estadual em poder da Cemat. Como mostrou o Correio em 10 de novembro, Meirelles disse que nessa operação obteve R$ 9 milhões e repassou a contas indicadas por Youssef.

Curiosamente, operações com créditos tributários igualmente suspeitos em Mato Grosso fizeram a Petrobras injetar R$ 180 milhões em contas de empreiteiras indicadas pelo governo estadual. A petroleira tem se recusado a comentar o caso, que é investigado pela Polícia Federal.

A reportagem não localizou “PP” nos telefones registrados em seu nome e no da GPI, nem houve retorno a mensagem de correio eletrônico enviada. A assessoria de Collor disse que tudo o que ele tinha para dizer já foi esclarecido. Há quase um ano, o senador tem afirmado não ter relações com Youssef, diz que não cometeu ilegalidades, mas se nega a responder por que recebeu depósitos em conta-corrente do doleiro.

Pacotes de lua de mel
O presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) patrocinará pacotes de lua de mel. Ele vai financiar a viagem a Búzios para dois casais sorteados ontem em evento promovido pelo prefeito de Itaboraí, Helil Cardozo (PMDB). No encontro, foram oferecidos serviços de próteses dentárias, tratamento de beleza, emissão de documentos e celebração de casamentos comunitários. A boa ação ocorre um dia depois de Cunha ser hostilizado em João Pessoa e Natal. No evento de ontem, o aliado Helil aproveitou o evento para criticar a presidente Dilma Rousseff. “Infelizmente, a sociedade paga um erro que ela não cometeu”, segundo mostrou reportagem publicada ontem no site do jornal O Globo. O prefeito foi cassado no último mês, acusado de usar telemarketing ilegal na campanha, mas conseguiu uma liminar para ficar no cargo.