Título: Gasto com juro é recorde
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 30/07/2011, Economia, p. 17

Despesa financeira do governo sobe quase 30% no primeiro semestre e chega a R$ 119,7 bilhões

O aumento da taxa Selic para combater a inflação teve um efeito perverso sobre o volume de juros pagos pelo governo. No primeiro semestre, o montante chegou ao recorde de R$ 119,748 bilhões, um aumento de quase 30% em relação aos R$ 92,205 bilhões apurados em igual período do ano passado. Foi o pior resultado para o semestre de toda a série estatística do Banco Central (BC).

No período acumulado em 12 meses, até junho, a despesa com os juros somou R$ 222,912 bilhões, o equivalente a 5,73% do Produto Interno Bruto ( PIB), a soma de todas as riquezas produzidas no país. É dinheiro que não acaba mais. Os dados envolvem governo federal, estatais, estados e municípios.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, admitiu que a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 12,5% ao ano, tem um peso considerável sobre as despesas com juros. Nada menos do que 66,8% da dívida do setor público é indexada à Selic. Outros 26% são atrelados a indicadores de inflação, como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

No primeiro semestre de 2010, a Selic acumulada foi de 4,3%. Em igual período deste ano, depois dos aumentos decididos pelo Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa saltou para 5,53%. Cada ponto percentual a mais na taxa Selic acarreta um aumento de 0,28 ponto na dívida líquida, que é o valor do endividamento já descontado dos créditos que o governo tem a receber.

Em junho, a conta dos juros foi de R$ 18,988 bilhões. Embora tenha sido a mais alta já registrada no mês, ela caiu em relação aos R$ 22,175 bilhões de maio. A redução, segundo o chefe do Depec, deveu-se ao recuo do IPCA, que caiu de 0,45%, em maio, para 0,15% no mês passado.

A valorização do real também teve impacto na dívida líquida do setor público, já que uma parcela do endividamento é indexada à variação cambial. Nesse caso,o efeito foi positivo. Com o dólar em queda, esse pedaço contribuiu para que a dívida não subisse tanto. Mesmo assim o montante total passou de R$ 1,531 trilhão, em maio, para R$ 1,542 trilhão, em junho. Em relação ao PIB, contudo, houve ligeira queda, o que é explicado pelo crescimento da economia. A relação dívida líquida/PIB saiu de 40,2%, em dezembro, para 39,7% em junho.