A presidente Dilma Rousseff encontrou-se ontem rapidamente com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante participação na Cúpula das Américas, no Panamá, e confirmou uma visita de trabalho ao país, em 30 de junho. A expectativa é de que a viagem retome negociações importantes desde que as relações entre os dois países ficaram estremecidas quando se tornaram públicas as denúncias de que os EUA espionavam o Brasil. O vazamento foi feito pelo ex-agente da Agência Nacional de Segurança (NSA) Edward Snowden, em 2013.

Naquele mesmo ano, a presidente cancelou a viagem oficial que faria aos Estados Unidos para uma visita de Estado, em 23 de outubro. Os vazamentos feitos por Snowden revelaram que o governo estadunidense monitorou conversas da própria presidente e também dados da Petrobras. A interceptação de telefonemas de Dilma e de cidadãos foi considerado “fato grave” pelo Brasil. À época, o governo brasileiro cancelou a viagem por considerar que os Estados Unidos ainda não haviam dado resposta satisfatória.

A última vez que Obama e Dilma se encontraram foi em 2014, durante o G20. A expectativa é de que o evento de junho marque a retomada das negociações de alto nível entre as duas nações. Conversas importantes para o Brasil, como algumas relacionadas a medidas de facilitação de comércio, foram interrompidas. O Planalto não divulgou o teor da conversa entre os dois presidentes. Não havia expectativa de Obama se desculpar, já que o compromisso dos EUA de não repetir os atos de espionagem já havia sido aceito pelo Brasil.

Dilma fará uma visita de trabalho, menos importante que a de Estado, nos termos diplomáticos. “Espero com muita satisfação por esse encontro, em que vamos discutir temas como mudança climática, energia, educação, ciência e tecnologia. (...) Estou muito feliz que a presidente Dilma poderá ir a Washington em junho, quando poderemos não apenas aprofundar nossas discussões, mas também fazer planos concretos para cooperação”, disse Obama.

“Nós reconhecemos que nações tomadas ao longo de vários meses, o governo americano disse não apenas ao Brasil que os países amigos não serão espionados”, disse. “Quando ele (Obama) quiser saber de algo, ele liga para mim”, completou a presidente, em entrevista após o curto encontro com o colega.

Na cúpula, Dilma se reuniu também com os presidentes da Holanda, Mark Rutte, e da Argentina, Cristina Kirchner. Com Rutte, Dilma tratou da Conferência Internacional de Segurança Cibernética, sobre a compra da BG, empresa de energia britânica, e ouviu elogios sobre o programa Ciência sem Fronteiras e a aprovação do Marco Civil da Internet. Já com Kirchner foi abordada a situação econômica da América Latina.

Discurso

Em discurso na cúpula, a presidente Dilma disse que a América Latina está em uma situação muito melhor do que estava no primeiro evento, ocorrido em 1994. Ela disse que há menos mortalidade infantil e materna, menos pobreza e fome, por exemplo. “Mas diante de nós ainda restam um longo caminho e muitos desafios”, completou. Para ela, a integração regional pode reduzir desigualdades sociais. “O nosso objetivo é não sermos apenas produtores de commodities e sim entrarmos na economia do conhecimento.”