A Polícia Federal (PF) prendeu ontem mais duas pessoas suspeitas de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras: o presidente da Galvão Engenharia, Dario Queiroz Galvão Filho, e o empresário Guilherme Esteves de Jesus, apontado como um dos operadores do pagamento de propinas de contratos da estatal com estaleiros. Além das prisões preventivas, um mandado de busca e apreensão foi cumprido em São Paulo. As ações são um desdobramento da nona fase da Operação Lava-Jato, batizada de "My Way", que prendeu o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, no início do mês. Dario e Esteves estão na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba.

A prisão de Dario Galvão acontece três meses após ele ter sido denunciado com outros executivos da Galvão Engenharia. O juiz Sérgio Moro afirmou que novas provas apontaram Dario como o "efetivo mandante" do pagamento de propina por parte da empresa para obter contratos com a Petrobras.

MP pede ressarcimento

Além do dono do Grupo Galvão, já tinham sido denunciados Jean Alberto Luscher, diretor da Galvão Engenharia; Erton Medeiros Fonseca, presidente da Divisão de Engenharia Industrial, e Eduardo de Queiroz Galvão, que preside o Conselho de Administração do Grupo Galvão. Eles respondem judicialmente por lavagem de dinheiro, corrupção e formação de organização criminosa. Os crimes ocorreram no período de 2004 a 2014. O valor de corrupção foi de aproximadamente R$ 50 milhões, e a quantia envolvida na lavagem de aproximadamente R$ 5 milhões. Foram 37 atos de corrupção e 12 de lavagem de dinheiro. O Ministério Público Federal pede na ação o ressarcimento de aproximadamente R$ 256 milhões.

Erton Fonseca está preso desde novembro e era tido inicialmente como o principal responsável pela distribuição de propina por parte empresa. No despacho de ontem, Moro citou como provas contra Dario o depoimento de Shinko Nakandakari, operador de esquema para a Galvão Engenharia e um dos delatores do esquema. Também são listadas trocas de mensagens entre diretores da empresa e Nakandakari para tratar de propina que citavam o conhecimento que o dono do grupo tinha dos pagamentos indevidos.

Moro diz que há "provas de materialidade de crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro e de autoria em relação a Dario Galvão, na condição de mandante destes crimes no âmbito da Galvão Engenharia".

O juiz também afirma que a prisão preventiva é justificada pelo "risco à ordem pública e a necessidade da medida para prevenir habitualidade e reiteração criminosa". De acordo com o despacho do magistrado, os pagamentos indevidos por parte da Galvão Engenharia continuaram a ser feitos no ano passado, mesmo depois de a Operação Lava-Jato ter sido deflagrada, em março. "Há provas de prática dos crimes por prolongados períodos, que se estenderam, pelo menos, de 2008 a 2014", escreve.

Outro ponto destacado pelo magistrado para justificar a prisão de Dario é que a empresa apresentou, em novembro, notas fiscais fraudulentas no inquérito policial que investiga as irregularidades nos contratos com a Petrobras. O objetivo dos documentos seria justificar acordos entre a empreiteira e empresas controladas pelo doleiro Alberto Yousseff. As notas serviriam, na verdade, para tentar dar um caráter legal ao pagamento de propina.

Sete Brasil

A prisão de Guilherme Esteves tem a ver com o esquema de corrupção na empresa Sete Brasil, criada pela Petrobras com recursos de fundos de pensão para acelerar os investimentos no pré-sal. Os investigadores suspeitam que o operador intermediou o pagamento de propina de contratos do estaleiro Jurong para a construção de seis navios-sonda. Parte da propina teria alimentado campanhas do PT. As negociações, segundo delatou Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da Petrobras, teriam sido intermediadas pelo tesoureiro da legenda João Vaccari Neto, que nega o recebimento de qualquer propina.

Tentativa de saque bancário

Esteves já foi alvo da PF em 6 de março. Ele teve documentos apreendidos e foi levado para prestar esclarecimentos na sede da PF no Rio de Janeiro. Os investigadores descobriram que, logo após sair do prédio, Esteves correu para uma agência do HSBC, no Centro, e tentou sacar R$ 300 mil. Durante a análise de imagens de câmeras de segurança da casa do operador, num condomínio na Barra da Tijuca, os policiais também flagraram uma possível ocultação de documentos. A mulher dele, Lilia Loureiro Esteves de Jesus, fugiu pelos fundos da casa levando uma pasta de documentos.

Esteves é acusado de pagar, ao menos, US$ 8 milhões em propina. Os pagamentos eram feitos através da offshore Opdale Industries Ltd, controlada por ele, para contas indicadas por Barusco e Duque na Suíça.

Barusco disse à Justiça que a multinacional pagou a Duque, US$ 4,35 milhões, enquanto diretores da Sete Brasil teriam ficado com US$ 1,73 milhão. Já o próprio Barusco admitiu ter levado US$ 2,71 milhões na operação. Os valores eram depositados em contas de empresas offshore criadas pelos executivos nos bancos suíços Cramer e Delta.

"Os pagamentos das propinas, que totalizariam cerca de USD 8.211.614,00, teriam sido feitos por intermédio de transferências no exterior em nome da off-shore Opdale Industries Ltd", afirmou o juiz federal Sérgio Moro.

Projetos para o pré-sal

Em fevereiro, o GLOBO mostrou que a Sete Brasil, um dos principais projetos para explorar o pré-sal, também foi alvo de corrupção. Em delação, Barusco informou que a propina chegou a 1% do valor do contrato firmado com cada um dos estaleiros, entre eles o Jurong, intermediado por Esteves. A Sete Brasil fechou contratos que, somados, chegam a US$ 22 bilhões. De acordo com a delação de Barusco, os estaleiros pagavam para funcionários da Petrobras, da Sete Brasil e para o tesoureiro do Partidos dos Trabalhadores (PT), João Vaccari Neto. As propinas começaram a ser pagas em fevereiro de 2013.

Em nota, a Sete Brasil diz que que contratou uma auditoria para investigar "eventuais irregularidades" e concluiu que os contratos estão dentro dos preços "vigentes do mercado". "Os resultados das investigações levaram a Administração da Companhia a concluir que todos seus contratos vigentes foram pactuados observando os termos e condições usualmente praticados pelo mercado neste tipo de operação. Não foi apontado, até então, qualquer violação às leis que regulamentam tais contratos", afirma a nota.

A Sete Brasil diz ainda que, desde que os primeiros indícios de envolvimento de Barusco foram confirmados, a empresa enfrenta problemas de financiamentos de longo prazo. Renato Duque, através de seus advogados, negou o recebimento de propina. A Galvão Engenharia negou que Dario cometeu irregularidades.