Título: Dieta pobre
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Fonte: Correio Braziliense, 30/07/2011, Opinião, p. 22

A urbanização trouxe profundas modificações na vida dos brasileiros. É natural. Morar na cidade é muito diferente de morar no campo. Habitação, trabalho, transporte, consumo, educação e saúde ganham novos paradigmas. A alimentação não foge à regra. Cresce a variedade, mas a qualidade deixa a desejar. O saudável cede crescente espaço ao condenado por médicos e nutricionistas.

Pesquisa do IBGE mostrou cenário preocupante. Segundo o levantamento, a dieta do brasileiro é pobre em nutrientes e rica em calorias. O velho arroz, feijão e carne ¿ combinação considerada perfeita para completar a cadeia proteica ¿ ainda goza da preferência nacional. Mas faltam frutas, verduras e legumes. No lugar de vitaminas, cálcio, fibras e sais minerais, adultos e crianças abusam de açúcares e gorduras.

O estudo revela diferenças de hábitos de consumo entre as classes sociais. Na mesa dos que ocupam o topo da pirâmide, encontram-se mais frutas e verduras do que na dos da base. Mas, curiosamente, os 40 milhões de brasileiros que ascenderam para a classe média não adquiriram bons hábitos alimentares. Ao contrário. À medida que a renda cresce, aumenta a procura por comidas com alto valor calórico e baixo valor nutritivo.

Especialistas apontam várias razões para a mudança de hábito. Entre elas, fazer as refeições fora de casa, cada vez mais comum nas grandes cidades. A distância, a falta de tempo, o trânsito congestionado e o alto custo das passagens desestimulam ou impedem a manutenção do costume de juntar a família em torno da mesa durante o almoço ou o jantar. Profissionais escolhem lanchonetes ou restaurantes próximos ao local de trabalho, onde impera a oferta de massas, frituras e alimentos gordurosos. Por seu lado, escasseiam saladas e pratos leves. Vale lembrar também a publicidade, que embala com celofane produtos dos quais a população deveria fugir.

O levantamento do IBGE aponta para caminhos a serem seguidos. Um deles: projetos educacionais para a alimentação saudável. A escola pode e deve assumir papel de ponta na mudança de hábitos. O cultivo de hortas como atividade do currículo contribui para a formação dos alunos. As cantinas precisam ser proibidas de vender alimentos que levam à desnutrição ou à obesidade. Outro: pacto com a indústria para reduzir os teores de sódio e gordura dos alimentos processados. Mais um: campanhas educativas destinadas não só a chamar a atenção para os problemas acarretados pela má nutrição. Mas também para os benefícios do prato magro, variado e colorido.