O presidente da Galvão Engenharia e membro do conselho de administração do Grupo Galvão, Dario de Queiroz Galvão Filho, preso ontem pela Polícia Federal, aparece na lista de brasileiros com contas numeradas no HSBC da Suíça. Em 2006/2007, seu saldo era de US$ 4.062.429,71.

Nos registros do banco, Dario é identificado pelo código alfanumérico "22666 ED" e estava vinculado a outros parentes. O saldo ligado a seu nome era compartilhado por todos. Além de Dario, outros 10 integrantes da família Galvão estão na lista do HSBC. Destes, nove operaram por meio de empresas em paraísos fiscais.

No caso de Dario, os dados do HSBC indicam que o empresário administrava seus recursos na Suíça por meio de duas offshore, a Fipar Assets Ltd. e a Montitown United Ltd., ambas com sede em Tortola, no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a empreiteira Queiroz Galvão negou irregularidade na existência das contas na Suíça, mas não mostrou documento que comprove que os valores foram declarados à Receita e ao Banco Central. Sobre a operação por meio de offshores, a empresa preferiu não comentar. Em nota, destacou que "todo o patrimônio de seus acionistas porventura existente no exterior sempre se submeteu aos registros cabíveis perante as autoridades competentes".

A Galvão Engenharia, por meio do advogado da família, José Luis Oliveira Lima, disse que não tinha "nada a declarar".

Desde fevereiro, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) publica uma série de reportagens com base nas planilhas vazadas do HSBC de Genebra. No Brasil, o trabalho é realizado com exclusividade pelo GLOBO e UOL, que já localizaram correntistas que mantiveram valores na Suíça de forma legal, declarando-os. Segundo a legislação brasileira, só comete crime o contribuinte que não informa a Receita e ao BC que tem conta no exterior.

 

Empreiteiro montou sua empresa à parte da família

Sérgio Roxo

Integrante da família Queiroz Galvão, dono da construtora homônima, Dario Queiroz Galvão Filho resolveu, em 1996, criar a sua própria construtora, a Galvão Engenharia. Apesar do parentesco, não há nenhum vínculo entre as duas empresas.

Focada quase majoritariamente em obras no país, a Galvão Engenharia sofreu mais do que as parceiras os efeitos da Operação Lava-Jato.

- A Galvão é muito dependente dos contratos com a Petrobras. Por isso, enfrenta mais problemas que as outras empresas - afirma Ricardo Carvalho, diretor da agência de classificação de risco Fitch, que acompanha o desempenho das construtoras brasileiras.

Na última quarta-feira, a empresa apresentou à Justiça do Rio pedido de recuperação judicial. No grupo de empreiteiras envolvidas na Lava-Jato, a Galvão é considerada uma empresa média.

Contratos de R$ 9 bilhões

De acordo com Ricardo Carvalho, o grupo comandado por Dario tem obras contratadas avaliadas em R$ 9 bilhões, contra R$ 27 bilhões da Queiroz Galvão, por exemplo.

Além da empresa de engenharia, a holding presidida por Dario Queiroz Galvão Filho possui um braço de óleo e gás, uma companhia de saneamento e a concessionária da rodovia BR-153 (Belém-Brasília). O grupo diz empregar de forma direta 15 mil pessoas. As demais empresas não foram incluídas na recuperação judicial.

Dario é formado em arquitetura e também estudou negócios em Harvard, nos EUA.

Em nota, a Queiroz Engenharia afirmou que a prisão de Dario "foi um ato arbitrário, sem qualquer motivação ou fundamento legal". "Dario Galvão não cometeu nenhuma conduta criminosa. Jamais foi mandante de crime algum. Compareceu a todos os atos processuais, em total respeito ao Judiciário", disse a empresa.

A companhia também acrescenta que o empreiteiro adotará as medidas legais para conseguir a sua liberdade.