A Arábia Saudita e seus aliados sunitas na região afirmaram ontem que tomarão as “medidas necessárias” para restabelecer a estabilidade no Iêmen, incluindo a possibilidade de uma ação militar direta. A declaração foi uma reposta ao presidente iemenita, Abd-Rabu Mansur Hadi, que, isolado em uma base no sul do país, pediu ajuda a nações do Golfo Pérsico para lutar contra o avanço do grupo rebelde xiita Houthi.
Se negociações de paz não puserem fim ao crescente conflito, a intervenção militar externa não está descartada. “Esperamos que isso (a resolução do conflito iemenita) possa ser feito pacificamente, mas, se isso não for feito pacificamente, certamente os países da região tomarão as medidas necessárias para proteger a região da agressão”, declarou o príncipe Saud al-Faisal, ministro das Relações Exteriores saudita.
O comentário do chanceler, feito em uma entrevista coletiva, sinalizou apoio ao presidente iemenita, que pediu auxílio militar do Conselho de Cooperação do Golfo para a luta contra os houthis. O ministro de Relações Exteriores do Iêmen, Riad Yassin, afirmou ao jornal saudita Asharq al-Awsat que os países do bloco deverão impor uma zona de exclusão aérea e mandar tropas para enfrentar o grupo xiita.
A luta entre os houthis e as forças leais a Hadi ameaça se tornar uma guerra civil, aumentando o risco de que a Arábia Saudita, o maior exportador mundial de petróleo, entre no conflito. A falta de autoridade do governo iemenita – o presidente anterior, Ali Abdullah Saleh, deixou o cargo em 2012, após 33 anos no poder – permitiu que a Al-Qaeda aprofundasse sua presença no país.
Após ter tomado a capital, Sanaa, em setembro, rebeldes houthis, movimento xiita que tem apoio do Irã, ampliaram seu controle – há pouco mais de um mês, o presidente, sunita, fugiu para a cidade de Áden, no sul. Ainda muito influente, o ex-presidente Saleh aliou-se à milícia xiita.
Os sauditas e seus aliados entre as monarquias sunitas do Golfo acusam os iranianos de estar por trás do avanço dos houthis. Riad concordou em organizar negociações de paz entre todas as facções do Iêmen para, segundo o chanceler saudita, “resgatar o país da iminência do desastre”. Negociações mediadas pela ONU já falharam – e os houthis recusam-se a negociar na Arábia Saudita.
Na quinta-feira, o palácio que abrigava Hadi sofreu um ataque aéreo dos houthis, que tomaram o aeroporto e roubaram caças. Na sexta-feira, os piores atentados da história recente do Iêmen deixaram 137 mortos em mesquitas xiitas – o grupo radical sunita Estado Islâmico, que controla amplas regiões da Síria e do Iraque e tem mostrado presença também no Norte da África, assumiu a autoria.
No domingo, os houthis conquistaram Taiz, avançando em direção a Áden. Ontem, a milícia mandou reforços para a região, com o objetivo de tomar a cidade onde o presidente está refugiado. Dois comboios dos milicianos tentaram chegar a Áden, mas tiveram de retroceder em razão da resistência oferecida por duas tribos hostis, em Haijat al-Abd e Al-Maqatara, a 40 e 80 quilômetros, respectivamente, de Taiz.
O ministro da Defesa iemenita, Mahmoud al-Subeihi, inspecionou tropas leais ao presidente em Karsh, na fronteira entre as Províncias de Lahj e Taiz, pedindo que os soldados impeçam o avanço dos houthis. Na Província de Marib, a leste de Sanaa, combates entre tribos sunitas e os houthis deixaram “dezenas de mortos”, segundo autoridades locais.
O norte – base original dos houthis – e o sul do Iêmen eram divididos até 1990. O crescente conflito traz a perspectiva de uma possível nova secessão do país.