O Banco Central (BC) vai manter o aperto monetário e, segundo a maioria dos analistas de mercado, deve aumentar a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual na próxima quarta-feira (29). Caso a previsão se confirme, a Selic irá para 13,25% ao ano, provocando a elevação de juros em todo o mercado financeiro e encarecendo o crédito para empresas e pessoas físicas. A maioria dos especialistas, porém, acredita que o ciclo de alta não vai terminar e aposta em mais um reajuste de 0,25 ponto na reunião seguinte, no início de junho. Com isso, a taxa permaneceria em 13,50% até o fim de 2015.

A inflação acima dos 8% e o dólar valorizado, que pressiona ainda mais os preços, justificam a manutenção do ritmo de aperto, explicam analistas. O discurso do presidente do BC, Alexandre Tombini, de que a autoridade monetária “continuará vigilante” e que os esforços “ainda não se mostram suficientes” para levar a inflação para a meta, de 4,5%, no fim de 2016, reforça a previsão dos especialistas.

A alta dos juros é usada pelo BC para restringir o consumo e, desse modo, segurar os reajustes de preços na indústria e no comércio. Com a nova ajuste na taxa básica, bancos e financeiras devem reajustar suas tabelas e os juros cobrados do consumidor, que já estão em níveis bastante altos, tendem a subir ainda mais. Segundo o BC, no cheque especial, por exemplo, a taxa média chegou a 220,4% ao ano em março, a maior em 20 anos. No cartão de crédito, os encargos bateram em 345,8%.

José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Investimentos, é um dos que acreditam numa alta de 0,50 ponto percentual nesta semana, e em mais uma elevação em junho, de 0,25 ponto. “O BC deve repetir o comunicado que fez na última reunião”, aposta Camargo. José Francisco de Lima Gonçalves, do Banco Fator, reforça a previsão. “A Selic deve acabar o ano em 13,50%”, disse.

O economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, faz mesma estimativa, embora ache que há motivos para o aperto ser menor. “Para ele, o fraco crescimento econômico justificaria o fim do processo de alta quando a Selic chegasse a13%, mas a inflação é resistente, e a alta dos preços administrados, como energia elétrica e gasolina, além da valorização cambial, vão continuar pressionando a carestia. “Como Tombini tem enfatizado que não vai medir esforços para controlar a inflação, deve manter o ciclo de aperto”, assinalou.

Duas vozes discordantes foram do Flavio Serrano, economista do Besi Brasil, e de André Perfeito, da Gradual Investimentos. Serrano aposta numa Selic em 13% ao fim do ano. “Como os dados são muito fracos, a confiança da indústria é a mais baixa desde 1998, e não tem mais como ajustar a inflação de 2015, acho que o Copom vai elevar a taxa básica em 0,25 ponto nesta semana e encerrar o ajuste”, disse. Perfeito tem a opinião mais radical, mas na direção oposta: Selic de13,25% agora de 14,50% no fim do ano. “As expectativas de 2016 ainda não estão ancoradas. O aperto tem que ser maior”, acredita.