Título: Brasileiros fazem a festa
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 28/07/2011, Economia, p. 12/13

Enquanto o governo se desdobra para frear a valorização do real frente ao dólar, os consumidores fazem a festa. Eles aproveitam para comprar produtos importados, que ficaram mais baratos com o derretimento da moeda norte-americana. Viagens ao exterior, bons queijos, vinhos e eletrônicos são apenas alguns dos tantos itens influenciados pelo câmbio. Deixando os riscos macroeconômicos de lado, o bolso do brasileiro agradece. O pesadelo do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que a divisa baixasse a R$ 1,50, seria o sonho de muita gente.

A secretária Deborah Azevedo Leitão, 49 anos, torce para que o dólar continue minguando. Ela é apaixonada por perfumes e garantiu: os importados são os melhores. "Estou esperando baixar mais um pouco ¿ e estou confiante de que irá ¿ para comprar os meus preferidos", confessa. Para ela, o mercado interno deveria investir mais na qualidade para acirrar a competição com os produtos que vêm de fora. "Se encontrássemos itens de qualidade e baratos, não compraríamos os importados."

Para Deborah, a desvalorização do dólar não é o único problema a ser solucionado pelas autoridades monetárias. "O Brasil enche de tributos os produtos que vêm do exterior e não se preocupa com o consumidor. Do que é produzido aqui, o melhor é exportado e o pior vai para o comprador nacional", queixa-se. "Muitas amigas minhas vão a Miami ou Nova York, nos Estados Unidos, fazer compras e não se arrependem. Pagam até a metade do preço por algumas mercadorias."

O enfraquecimento do dólar também aliviou o orçamento do servidor Daniel Ventura Teixeira, 53 anos, um grande apreciador de vinhos. "Gosto muito dos chilenos, mas costumo comprar os argentinos, espanhóis e portugueses também", afirma. Ele destaca que o brasileiro, hoje, pode escolher rótulos que eram inviáveis há alguns anos. "Analisando por essa perspectiva, o derretimento é bom para quem prefere os importados, mas ruim para a economia. É muito complexo."

Viajar também ficou mais fácil. "Olhei pacote para Fernando de Noronha (PE) e acabei indo para Madri, na Espanha, que estava bem mais barato", conta Teixeira. O advogado Marcos Antônio Tavares, 32 anos, já está com as malas prontas para ir à Argentina. "Já marquei a passagem para outubro e estou ansioso", diz. Em 2009, ele foi ao exterior pela primeira vez ¿ Orlando e Nova York (EUA). "Os preços já eram atrativos, mas hoje está bem melhor." Ele não pretende parar por aí: já planeja outra viagem ao exterior para o ano que vem, ainda sem destino certo.

Os eletrônicos do advogado também vêm de fora. "Só comprei porque minha cunhada trouxe para mim", justifica. Ainda assim, ele acredita que o governo deve controlar a situação. "Tem de haver equilíbrio. Se a queda representa perigo à economia do país, as autoridades devem intervir, porque podemos sofrer depois, caso a indústria nacional quebre."

Gôndolas Quem vai ao supermercado nota a invasão de importados nas gôndolas. No caso do Veneza, em Brasília, azeites vindos de outros países representam 80% das vendas do produto. "Há preferência por esses itens. Entre os uísques, por exemplo, os importados já representam 70%. Nos queijos, o número é menor, mas ainda expressivo, 20%", sublinha o gerente da rede, Givanildo de Aguiar. Ele adianta que, se o dólar continuar caindo, a tendência é de que essas mercadorias se tornem maioria nas prateleiras.

Caso as estratégias do governo sejam ineficientes e o dólar continue despencando, pessoas como a comerciante Silvana Lima, 48 anos, poderão experimentar alimentos estrangeiros. "Costumo comprar pelo preço. Por isso, nunca provei o importado. Mas, se a moeda continuar em baixa, poderei levar esses produtos para casa. Tenho curiosidade", ressalta. Já o securitário Renan Barbosa, 50, já incorporou alguns itens estrangeiros à sua mesa. "Gosto muito dos queijos e azeites. Reparei que os preços já estão mais baixos", atesta.