A aflibercepte é um antiangiogênico, ou seja, inibe a replicação anormal de vasos sanguíneos no olho doente. Aschner Pablo Montoya, professor de endocrinologia na Faculdade de Medicina da Universidade Javeriana, na Colômbia, explica que esse crescimento irregular é consequência do descontrole dos níveis anormais de açúcar no organismo. A glicose interfere na ação do endotélio, camada interna dos vasos sanguíneos que está por trás da resistência vascular e regula, por exemplo, o fluxo sanguíneo e as respostas às inflamações.
“O açúcar enfraquece esse protetor e causa danos, ou microangiopatias, nos capilares, os vasos sanguíneos bem pequenos que estão, inclusive, nos olhos. Isso faz com que existam aí problemas de circulação e hemorragias”, esclarece Montoya, também diretor científico da Associação Colombiana de Diabetes. Os vasos sanguíneos enfraquecidos perdem a capacidade de reter o líquido que circula dentro deles. Esse plasma, composto de sangue, lipídios, entre outras substâncias, escoa para a retina, prejudicando a visão.
Indolor
É no centro da retina que fica a mácula, uma estrutura fundamental para que uma pessoa possa enxergar. Sem ela, seria impossível focar o olhar em um objeto, o que explica o fato de pacientes com RD perderem a capacidade de centralizar a visão. Quando o líquido escapa pelos vasos danificados, “polui” o cenário captado pelas estruturas da retina. A aflibercepte, nesse sentido, regula a confusão do organismo, que passa a produzir novos vasos sanguíneos, achando que os existentes estão danificados demais para funcionar normalmente. O processo é chamado angiogênese e diminui os vazamentos.
A dose recomendada de aflibercepte, aplicada em uma injeção in loco, é de 2mg (0,05ml). O paciente, garantem oftalmologistas, não sente dor. “Ele é anestesiado e sente apenas uma pressão. Após a aplicação, vê um pouco embaçado porque o remédio está lá dentro. Entretanto, volta para casa no mesmo dia”, explica Cecília Achcar, consultora médica da Bayer. O tratamento é repetido mensalmente até que os resultados visuais e anatômicos sejam estáveis durante o trimestre seguinte.
“Se não houver melhora ao longo das três primeiras injeções, a continuação do tratamento não é recomendada. Se for continuado, os intervalos das sessões podem ser gradualmente aumentados a fim de manter os resultados visuais e anatômicos estáveis”, ressalva Achcar. Nos casos de interrupção da terapia, o esquema de monitoramento deve ficar a critério do médico, e as aplicações, retomadas, caso os resultados visuais e anatômicos se deteriorem.
Inovação
Antes do surgimento dos antioangiogênicos, a RD era tratada com terapias a laser, que “queimavam” os vasos novos decorrentes da complicação. A retina sã acabava sendo machucada com os feixes. Depois, apareceu o tratamento fotodinâmico, ou o laser frio, usado com o auxílio de um corante, a verteporfina, que marcava o vaso novo a ser queimado. Outros medicamentos disponíveis conseguiam eliminar o vaso novo e frágil que causa a RD, mas o tratamento apenas retardava a progressão da doença sem ajudar a recuperar a visão dos pacientes.
Os antiangiogênicos, contudo, oferecem a possibilidade de reverter o quadro se aplicados precocemente. No caso da aflibercepte, injeções e monitoramento podem ser feitos em intervalos maiores, sendo que, no primeiro ano, as aplicações ocorrem a cada dois meses depois de três iniciais. Após esse período, pode-se estender o tratamento de acordo com critérios médicos baseados na resposta visual do paciente. Alguns outros antiangiogênicos requerem injeções e monitoramento mensais.
Para a oclusão da veia central da retina (OVCR), um tipo comum de retinopatia diabética, por exemplo, o ganho de visão com a aflibercepte é alcançado logo nos primeiros meses de injeção. A OVCR também é uma desordem vascular retiniana muito comum entre os diabéticos. Estudos clínicos de fase 3 com a substância para o tratamento do edema macular diabético, outro tipo de RD, mostraram os benefícios logo no primeiro mês de tratamento, mantendo esse ganho ao fim de um ano.