Ministério Público Federal (MPF), no âmbito da Operação Lava-Jato, denunciou à Justiça Federal do Paraná o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, ambos por lavagem de dinheiro. A denúncia foi encaminhada na tarde de ontem. Os procuradores da República que integram a força-tarefa do MPF indicam que o crime específico foi praticado 24 vezes entre abril de 2010 e dezembro de 2013. O valor total da manobra para driblar a origem ilícita dos recursos chega a R$ 2,4 milhões. O MPF pede que os dois sejam condenados a pagar R$ 4,8 milhões de ressarcimento à petroleira e também o confisco de bens no valor de até R$ 2,4 milhões.

Um caso específico foi confirmado pelo dono da empresa Setal Óleo e Gás, Augusto Mendonça. Na semana passada, em depoimento na CPI que apura irregularidades na petroleira, Mendonça revelou que parte do dinheiro sujo recebido por Duque para direcionar obras na estatal foi repassada para a Editora Gráfica Atitude, a pedido de Vaccari.

O suborno que seria entregue a Duque foi relativo a contratos para a construção de empreendimentos da Setal nas refinarias Repar, no Paraná, e Replan, em São Paulo. Os investigadores comprovaram que a Editora Gráfica Atitude, ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), não prestou serviços à Setal.

Na denúncia, a Procuradoria cita que a editora já foi condenada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a pagar multa de R$ 15 mil por fazer propaganda ilegal para a presidente da República, Dilma Rousseff (PT), na edição da Revista do Brasil de outubro de 2010, no período de campanha da petista, que disputava a reeleição. Os investigadores encontraram menções ao endereço da Rua Abolição, n° 297, no Centro de São Paulo, que coincide com a sede do diretório paulista do PT.

Partidos

Em nota oficial, o procurador da República Deltan Dallagnol salientou que, embora a denúncia envolva apenas o PT, o esquema englobava outras legendas. Ele lembrou que já foram denunciados, anteriormente, operadores vinculados às diretorias controladas pelo PP e pelo PMDB. “A partidarização do olhar sobre as investigações prejudica os trabalhos porque tira o foco do que é mais importante: a mudança do sistema que favorece a corrupção, seja qual for o partido. Por isso, o MPF apresentou as 10 medidas contra a corrupção e a impunidade.”

No pedido de prisão preventiva de Vaccari, o MPF diz que as doações feitas ao PT no ano passado, possivelmente, estão contaminadas pelo esquema criminoso. A força-tarefa apontou que “ao menos parte das doações de 2014 das empresas investigadas na operação seria, na realidade, pagamento de vantagem indevida”.

Os procuradores se basearam na delação premiada de Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo Corrêa, e Augusto Mendonça, da Setal. “Eduardo Leite afirmou que João Vaccari pediu propina para o PT por meio de doações oficiais da Camargo Corrêa. Atente-se que a empreiteira, de fato, doou na campanha de 2014 cerca de R$ 35 milhões ao PT, não podendo ser descartada a hipótese que tal doação se referia ao pagamento de propina”, diz trecho da denúncia.

“Já temos uma denúncia de doações oficiais que, na verdade, escondem operações de lavagem de dinheiro relativas a valores da corrupção da Petrobras. Nós verificamos que ele (Vaccari) tem uma trajetória desse tipo de operação desde 2004”, disse oprocurador da República Carlos Fernando de Lima. Vaccari e Duque negam as acusações.

Pizzolato será extraditado dia 11

O Brasil quer trazer de volta ao país, em 11 de maio, o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henirque Pizzolato, preso na Itália. A partir dessa data, as autoridades brasileiras terão prazo de 20 dias para a transferência de Pizzolato, segundo decisão da Corte de Cassação de Roma — na quinta-feira passada, a Justiça italiana autorizou a extradição do petista, um dos condenados no processo do mensalão. Segundo o jornal O Globo, delegados da Polícia Federal vão acertar os detalhes da transferência esta semana. Um delegado e dois agentes da Interpol devem ser escalados para a missão. O ex-diretor do BB cumprirá pena na Penitenciária da Papuda, em Brasília. Pizzolato foi condenado a 12 anos e 7 meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato.

CPI faz visita à sede da Petrobras

Deputados que integram a CPI da Petrobras fizeram, na manhã de ontem, uma visita técnica à sede da petroleira, no Rio de Janeiro. Um grupo de nove parlamentares ouviu explicações de como são os procedimentos para a contratação de obras e também fizeram questionamentos sobre o balanço auditado da estatal, divulgado na quinta-feira da semana passada.

O petista Luiz Sérgio (RJ), relator da CPI, afirmou à imprensa não ser necessária a realização de uma nova auditoria no balanço da Petrobras. “O que nós temos conhecimento é que balanço já é auditado. Acho que não há nenhum dado para se colocar em dúvida. Espero que a nova presidência possa nos relatar o que está fazendo para se recuperar e para evitar que, no futuro, ocorra o que houve recentemente. Se já for uma página virada, vai ser muito bom para o país”, salientou.

O deputado Bruno Covas (PSDB-SP), sub-relator da CPI, comunicou que o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, não participou da visita por conta de um problema pessoal.

HSBC

procurador-geral da RepúblicaRodrigo Janot, está em Paris para tentar acesso a informações sob sigilo de contas de brasileiros na filial do banco HSBC em Genebra, na Suíça. Conforme o jornal O Globo, ele fez o pedido formal de cooperação jurídica internacional e vai se encontrar hoje com representantes do Ministério Público francês para discutir como acelerar o compartilhamento das informações.