Na primeira vez em que o PT comandou a solenidade de entrega da Medalha da Inconfidência, na Praça Tiradentes, em Ouro Preto, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, discursou em meio a gritos de “traidor”, vaias de aliados históricos e aplausos dos convidados. O protesto veio de movimentos que tradicionalmente estão ao lado do Partido dos Trabalhadores, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (SindUte) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A cada momento em que o petista aparecia no telão ou tinha o nome anunciado, surgiam vaias dos manifestantes e aplausos dos convidados no palanque.

Cercada por grades e policiais, apenas 600 pessoas puderam permanecer na área demarcada da Praça Tiradentes – todas identificadas com uma pulseira laranja. As demais 3 mil pessoas que estiveram no local, segundo estimativa da Polícia Militar, tiveram de permanecer na área externa. O maior grupo era representado pela CUT-MG e SindUte. Uma caravana com 2,6 mil professores, segundo os organizadores, saiu ontem cedo de um encontro da educação realizado em Contagem e seguiu para Ouro Preto. Com camisas pretas com os dizeres “Luto na educação”, eles pediam o pagamento do piso salarial para os professores, que resultaria em um aumento de quase R$ 700 na remuneração mínima. “Queremos que ele (Pimentel) cumpra o compromisso e pague o piso. E vamos continuar protestando, seja um governo de esquerda, seja de direita”, afirmou a presidente da CUT-MG e do SindUte, Beatriz Cerqueira.

Panelaço
Cerca de 10 amigos planejaram uma manifestação com apitos, panelas e bandeiras para a praça, mas não puderam entrar no cercado. A primeira justificativa da Polícia Militar é que eles não poderiam portar adereços no local, já que outros manifestantes teriam sido impedidos de usar objetos. Questionado pela imprensa, um policial que conversava com o grupo informou que a fita laranja que permitiria a entrada no local já estava esgotada. Do lado de fora, o grupo fez barulho. “Somos amigos indignados com a corrupção, o desvio de dinheiro público, a apropriação da riqueza do país”, afirmou o comerciante André Brandão, que mora em Ouro Preto.

Em meio a vaias dos manifestantes, Fernando Pimentel abriu o discurso na cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência falando sobre a satisfação em ouvir as “vozes da democracia”. “Que alegria depois de 12 anos, finalmente, o povo poder comemorar o 21 de abril. Que alegria ouvir as vozes da democracia ecoando em Ouro Preto. As vozes da liberdade, ainda que usem, às vezes, palavras equivocadas”, disse. Pimentel reforçou que os protestos merecem respeito e permitem reafirmar compromissos com educação, saúde, segurança e com a “liberdade, a justiça e a democracia”.

O governador mineiro também pediu equilíbrio, em meio à crise política. “A conveniência política — momentânea, apaixonada, desequilibrada, viciada pelos impulsos mesquinhos — não patrocina a justiça. Ao contrário, é a irmã do arbítrio e a mãe da injustiça. Tiradentes é exemplo disso”, afirmou. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, recebeu a maior honraria da cerimônia, o Grande Colar. Outros homenageados foram João Pedro Stédile, líder do MST, e o advogado-geral da União, Luiz Inácio Adams.

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Ataques a Dilma

Um dos homenageados mais controversos ontem na cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência, o presidente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, não poupou críticas à presidente Dilma Rousseff (PT). Minutos depois de ser agraciado pelo governador Fernando Pimentel (PT), ele disse que o mineiro acerta, mas a “tia Dilma erra muito”, e criticou a “política burra” do superavit primário. Ainda assim, afirmou que o movimento está disposto a ir às ruas contra o que chamou de “um possível golpe”.

Para Stédile, Dilma errou ao nomear o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a quem considera um “infiltrado” dos banqueiros. Ele também criticou o ajuste fiscal anunciado pela petista. Segundo ele, as medidas foram neoliberais e contra os trabalhadores. “O governo tem que abandonar essa política burra do superavit primário. Primeiro tem que garantir dinheiro público para os investimentos na educação, na saúde e na reforma agrária e o que sobra botar para o pagamento de juros da dívida”, afirmou. Segundo Stédile, o governo está fazendo exatamente o contrário. 

Apesar das críticas, Stédile disse que o MST se posiciona contra a direita que vai às ruas. Segundo o líder, pedir golpe militar é crime previsto na Constituição, e a Polícia Federal tem que ficar “mais experta” com os cartazes que falam nisso.