O Ministério da Saúde indicou que aconteceram fora da pasta e sem anotação na agenda oficial as reuniões do ex-titular Alexandre Padilha para tratar de parcerias com o laboratório Labogen com o ex-deputado André Vargas (ex-PT-PR). A empresa e o ex-parlamentar são investigados na Operação Lava-Jato. “Não posso fazer menção em uma nota técnica ou em sindicância de reuniões que tenham sido tratadas fora da agenda pública de trabalho”, comentou o ministro da Saúde, Arthur Chioro, em entrevista coletiva ontem à noite. Ele fez as afirmações com o objetivo de negar a acusação do juiz Sérgio Moro, segundo a qual a pasta omitiu a participação de Padilha nas negociações. “Não consta da agenda de trabalho, da nossa atividade de reuniões, este evento. Por isso que ela não consta da nota técnica”, disse Chioro.

Padilha admitiu ter recebido o ex-deputado André Vargas (ex-PT-PR), mas nunca indicou onde foram esses encontros. Ontem à noite, o sucessor dele na pasta afirmou que todas as informações oficiais sobre audiências envolvendo o Labogen foram repassadas à Polícia Federal, ao Ministério da Justiça, a Sérgio Moro e à Controladoria-Geral da União (CGU). Chioro citou “todos os eventos formais”, realizados entre técnicos e dirigentes do Ministério da Saúde com o Labogen e os laboratórios da Marinha e EMS, parceiros na tentativa de produção de um medicamento. Foram repassadas agendas, trocas de e-mail e atas de reuniões para a Justiça.

Em despacho que determinou a prisão do ex-deputado acusado de receber vantagens em contratos com a Saúde e a Caixa Econômica, o juiz diz que o órgão comandado por Chioro omitiu fatos em relação a Padilha. No caso da Labogen, a suspeita é que Vargas atuou para favorecer a empresa, aliada ao doleiro Alberto Youssef, apesar de a parceria ter sido cancelada depois de estourar a Lava-Jato.

Debates éticos
O atual ministro disse que não recebe parlamentares em audiências fora da agenda. Afirmou que isso não é usual. Recentemente, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, encontrou-se com advogados, mas não registrou no site da pasta o assunto tratado e o cliente que eles representavam: a Odebrecht, investigada na Operação Lava-Jato. Um outro encontro com advogado de empreiteiras nem sequer foi mencionado, mas o ministro afirma que foi apenas um cumprimento na antessala de seu gabinete. Ambas as situações causaram debates éticos no Congresso.

O doleiro Alberto Youssef afirmou que o encontro de Padilha com Vargas ocorreu no apartamento funcional do então deputado. O doleiro diz que estava presente com sócios do laboratório suspeito e com o ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Ontem, Vaccarezza negou mais uma vez ter participado da reunião. “Não falei com uma pessoa sequer no ministério sobre o Labogen”, afirmou o ex-deputado ao Correio, que é investigado em outro inquérito, que corre no Supremo Tribunal Federal, por envolvimento na Lava-Jato. Vaccarezza disse ao jornal que “não lembra” se Vargas algum dia tratou com ele ou comentou sobre a situação do Labogen.

O doleiro Alberto Youssef disse que se reuniu, no apartamento funcional do então deputado André Vargas, com ele, com o então ministro Padilha e com o então deputado Cândido Vaccarezza para tratar do Labogen

A assessoria de Padilha não prestou esclarecimentos ao Correio até o fechamento desta edição. Em 12 de março, o ex-ministro e secretário de Relações Governamentais da prefeitura de São Paulo negou a versão de Youssef sobre o encontro no apartamento. Ele disse ao jornal O Globo que “não tem registro de qualquer encontro ou evento na casa do então vice­presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas, cujo objetivo específico tenha sido tratar do tema questionado”.

Padilha admitiu o encontro mais uma vez, como fizera em abril do ano passado na TV Cultura, mas não informou o local da reunião. “O ex­ministro, por dever do cargo e quando convidado, participou de encontros e eventos com parlamentares”, disse a nota de 12 de março. Ele ainda afirmou que cumpria “missão institucional” ao tratar de propostas de parcerias ao receber propostas de produção de medicamentos. Em abril de 2014, Padilha disse que encaminhou as propostas “tecnicamente”.