Em uma semana de atuação como articulador político do governo, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) aprofundou negociações com aliados para reorganizar o governo. As conversas incluíram a indicação do ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para o Ministério do Turismo, o que deve ocorrer hoje.

Ontem pela manhã, Temer encaminhou a votação do projeto da terceirização. À tarde, se reuniu com os líderes do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO); do PMDB, Leonardo Picciani (RJ); do PSC, André Moura (SE); e do PP, Eduardo da Fonte (PE). O assunto foi segundo escalão. Antes dessa conversa, Temer bateu o martelo sobre o destino de Eduardo Alves com a presidente Dilma Rousseff. As nomeações começam a sair nos próximos dias. As prioridades seriam o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) e o INSS.

À noite, o vice-presidente se reuniu com os senadores Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Romero Jucá (PMDB-RR). Depois, seguiu para jantar no Palácio do Jaburu com a bancada mineira do PMDB. Hoje, tem café da manhã com líderes do PMDB na Câmara. Voltará a discutir preenchimento de cargos no segundo escalão, entre outros assuntos.

O nome de Alves para o Ministério do Turismo vinha sendo cogitado desde o fim do ano passado. A expectativa era a de que ele fosse confirmado após a divulgação da lista de investigados pela Lava-Jato, caso seu nome não estivesse lá. Mas, mesmo depois de constatada a ausência, a indicação, que desagradava a Renan, não saiu. O atual ministro, Vinícius Lages, é afilhado político dele e segue sem destino político no governo.

O governo apresentou para o destino de Lages opções como a presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), diretoria em algum banco ou presidência da Infraero. Nenhuma das propostas foi aceita por Renan. Assessores avaliam que Renan continua inconformado, mas não quer fazer sugestões para não aparecer como alguém que quer indicar ministros.

A entrada de Temer no xadrez político, segundo avaliação de parlamentares, desestabiliza em certa medida a dobradinha criada entre Renan e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para medir forças com o Palácio do Planalto. Esse movimento, de acordo com as mesmas fontes, pode ser mais prejudicial para Cunha do que para Renan. “O presidente do Senado é mais da política. Com ele, tem mais conversa”, diz um deputado do PT.

“Nós ou eles”
Com seis mandatos como deputado federal e três passagens pela Presidência da casa, além do cargo de vice-presidente, Michel Temer é respeitado pelas bancadas da base de apoio ao governo tanto quanto pelos partidos de oposição, à diferença de Cunha, que encarna, na visão de parlamentares, o “nós ou eles”. Cunha, na visão de um parlamentar petista, “teve que engolir” a chegada de Michel Temer à articulação política. De outro lado, o mesmo PT teve de “aceitar” Temer como novo homem forte do governo, capaz de ofuscar o protagonismo de Dilma e de deixar ainda mais explícita a contradição do partido, de divergir e, ao mesmo tempo, necessitar do apoio do PMDB para garantir a governabilidade.

O futuro próximo do governo, do PT e do próprio Temer, vai depender de como se resolverão no Congresso questões como a CPI da Petrobras — onde o partido do vice-presidente atua em conjunto com o oposicionista PSDB —, o ajuste fiscal, o preenchimento das vagas do segundo turno, as dívidas dos estados e a regulamentação do trabalho terceirizado, entre outras questões.

Até agora, a avaliação é que a entrada de Temer foi a solução que permitiu a retomada do diálogo. “Está bem melhor, melhorou muito”, diz um aliviado líder do governo na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE). Para ele, mais importante que o levantamento matemático de possíveis apoios e votos ao governo é a mudança de clima que se operou com entrada em cena de Michel Temer. “O clima é outro”, resume Guimarães.