Para agência de classificação de risco, expectativa é que correção de rumos em andamento ‘abrirá caminho para perspectivas de crescimento mais forte’; com a manutenção da nota, País continua com selo de ‘bom pagador’, um alívio para o Palácio do Planalto

A agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) resolveu manter a nota de crédito do Brasil dentro do patamar considerado “grau de investimento” - ou seja, manteve o selo de “bom pagador” do País. A notícia foi recebida com grande alívio dentro do governo, que avaliou que a decisão da agência mostrou um voto de confiança no plano de ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

 

A S&P manteve a nota do Brasil em BBB-, a mais baixa dentro do patamar de grau de investimento, e com perspectiva estável. Se tivesse baixado o rating, o País entraria no patamar de grau especulativo, o que traria diversas implicações negativas - o acesso ao crédito no mercado internacional, por exemplo, ficaria mais difícil e mais caro. Nas outras grandes agências de rating, a Fitch e a Moody’s, o Brasil está no segundo patamar mais baixo do grau de investimento. Ou seja, pode ser rebaixado em um nível e ainda manter o selo de bom pagador.

A S&P informou que a manutenção da nota brasileira reflete a expectativa de que o ajuste fiscal em curso terá apoio da presidente Dilma Rousseff e do Congresso Nacional, apesar do cenário político e econômico desafiador. “A perspectiva estável reflete a nossa expectativa de que a correção em andamento continuará a atrair o apoio da presidente Dilma Rousseff e, finalmente, do Congresso, que gradualmente irá restaurar a credibilidade política perdida, abrindo o caminho para perspectivas de crescimento mais forte em 2016 e nos anos seguintes”, disse, em nota.

Para os analistas da S&P, apesar das dificuldades enfrentadas pelo governo, as sinalizações de política econômica neste segundo mandato da presidente Dilma mudaram “consideravelmente”. No comunicado da decisão, a agência citou o esforço do governo para executar o ajuste fiscal e o aperto monetário por parte do Banco Central para conter a inflação.

 

 

 

 

Na avaliação do governo, a decisão mostrou que a agência considerou crível o compromisso do ministro Levy e da presidente Dilma com o cumprimento da meta fiscal de 1,2% do PIB e dos esforços da equipe econômica para colocar a economia no “trilho”.

 

 

 

O anúncio da S&P ocorreu 17 dias após uma missão da agência deixar o País, onde se reuniu com autoridades da equipe econômica, lideranças políticas e representantes do setor privado. Há uma expectativa que a agência Fitch também dê uma resposta mais rápida a respeito da nota do Brasil - representantes da agência estiveram em Brasília na semana passada.

 

Mercado. A notícia também foi bem recebida pelo mercado. Segundo Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências, a manutenção do rating é considerada um “alívio”. “É uma boa notícia, até porque a gente sabe que uma parte do mercado estava colocando no preço (a possibilidade de rebaixamento do rating”, afirmou.

 

Para Italo Lombardi, economista para o Brasil do banco Standard Chartered, a S&P deu um sinal claro de “endossar” a nova política econômica do governo. “É o primeiro sinal de instituição internacional muito importante de aprovação às mudanças adotadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy”, disse. “A S&P fez uma avaliação realista e positiva sobre ações do governo para corrigir a política fiscal.”

 

Newton Camargo Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, também acredita que a decisão da agência referenda o quadro defendido por Joaquim Levy, que promete uma mudança para melhor na política fiscal. “A S&P está apostando que o ajuste vai dar certo. É um gesto de confiança no Levy”, afirmou.

 

Segundo ele, a chegada de Levy ao ministério e a determinação do governo em alcançar a meta fiscal apontam para um quadro em que a economia vai caminhar novamente com fundamentos melhores.

 

 

 

Para entender. A nota de crédito dada pelas agências de classificação de risco serve como uma espécie de bússola para investidores e instituições financeiras internacionais. Se um país é considerado “grau de investimento”, significa que o risco de não receber de volta o dinheiro investido é baixo. 

 

No outro sentido, se é considerado “grau especulativo”, significa que é preciso tomar cuidado com o investimento. O Brasil recebeu o selo de bom pagador da Standard & Poor’s em 2008, no governo Lula. Em 2o11, a nota do País foi elevada em um degrau. No ano passado, no entanto, foi rebaixada em um degrau, e o País ficou ameaçado de perder o selo de bom pagador. / MATEUS FAGUNDES, MARCELO OSAKABE, ADRIANA FERNANDES, JOÃO VILLAVERDE, RICARDO LEOPOLDO, IGOR GADELHA E CARLA ARAÚJO