Desde que atingiram o fundo do poço, em 30 de janeiro, as ações preferenciais da Petrobras (sem direito a voto) registraram uma alta superior a 52%. O papéis mais negociados da empresa chegaram a ser cotados a R$ 8,18, diante da falta de transparência nas contas da companhia e das denúncias de corrupção. A estatal não publicou balanço assinado por companhia de auditoria, responde ações judiciais no exterior e acabou perdendo o grau de investimento. Em fevereiro, a agência de classificação de risco Moody’s cortou o rating da Petrobras, de Baa3 para Ba2, nota de grau especulativo.

Aos poucos, no entanto, as ações da petroleira ganharam fôlego. Ontem, as preferenciais encerraram o pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) cotadas a R$ 12,49, uma valorização de 1,79% ante o dia anterior. O movimento de alta, em pouco mais de 70 dias, agregou mais de R$ 50 bilhões de valor de mercado à Petrobras. “Houve, lá atrás, um exagero no pessimismo. Porém, o que vai acontecer a partir de agora, apesar de as perspectivas serem boas, dependerá da divulgação do balanço no fim do mês”, destacou Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV Corretora.
Segundo Silveira, várias transformações contribuíram para o impacto positivo nos papéis da companhia. Houve mudança na direção da empresa, foi divulgado um projeto de venda de ativos para capitalizá-la, entrou um empréstimo da China, de R$ 11,5 bilhões, e o preço do petróleo no mercado global parou de cair. “Se tudo acontecer como o planejado e o balanço vier com números críveis, a tendência é de melhora. Vale ressaltar, no entanto, que o nível de confiança ainda está muito baixo. Comparando o valor de mercado da Petrobras com o de outras petroleiras globais, o tombo foi drástico”, destacou.



Para o economista Robson Pacheco, especialista no setor de petróleo e gás, a alta das ações tem também relação com a variação cambial. “O dólar subiu e as ações ficaram muito mais baratas para investidores estrangeiros. Isso estimulou a compra”, destacou. Segundo ele, é possível que ainda haja oscilações positivas ou negativas dos papéis da Petrobras. Mas será por pouco tempo, porque todos os aspectos negativos já estão embutidos no preço. “As investigações de desvio de dinheiro e pagamento de propinas afugentam os investidores. Os que não entendem decontabilidade, principalmente, se assustam”, assinalou.

Bolsa

Ontem, apesar da alta da Petrobras, o Ibovespa (índice das ações mais negociadas na BM&FBovespa) fechou em queda de 0,48%, aos 53.981 pontos, repetindo a comportamento dos três últimos pregões. Apesar do forte avanço dos papéis da Vale, ações de bancos, de frigoríficos e de empresas exportadoras pressionaram o indicador para baixo. Segundo analistas, no caso das instituições financeiras, os preços foram deprimidos pelos rumores de que o governo poderá aumentar a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) no setor, de 15% para 17%, para ajudar no ajuste fiscal.

O dólar comercial teve queda de 1,97%, cotado a R$ 3,063 para a venda. Também nesse caso, a avaliação do mercado é de que as perdas da moeda norte-americana não continuem por muito tempo, porque o real ainda está muito valorizado. A tendência é que a divisa fique a um preço bem mais alto, mas oscilando entre R$ 3,05 a R$ 3,10.