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Ex-presidente rebate declaração da petista de que prática de desvios no País é 'senhora idosa' e afirma que esquema na Petrobrás é fato novo

 

São Paulo - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) rebateu a afirmação da presidente Dilma Rousseff (PT) de que a corrupção é uma "senhora idosa" no Brasil. Em entrevista à Globo News, na noite dessa quinta-feira, 19, o tucano disse que o escândalo de corrupção na Petrobrás traz à tona algo completamente novo em termos de corrupção praticada no País, em que uma organização de pessoas estabeleceu um sistema de sustentação de partidos e ligação a empresas para abastecer os caixas das legendas. "Isso é um fato novo. Essa corrupção não é uma senhora idosa, é uma mocinha, um bebê quase", disse o tucano.

 

 

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FHC repetiu a declaração que tinha dado ao longo da semana de que, pela proporção que a corrupção ganhou na Petrobrás, considera impossível que o ex-presidente Lula e Dilma não soubessem, pois algo assim acaba sendo do conhecimento de todos no governo.

 

 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso

 

 

A declaração de Dilma foi feita um dia após os protestos contra o governo, no domingo, 15. Na avaliação do Palácio do Planalto, a corrupção foi o principal motivo que levou a multidão às ruas. Ao afirmar que práticas de desvios são antigas no País, Dilma tenta rebater tentativas da oposição de associar a corrupção ao seu governo.

 

O ex-presidente argumentou que, em seu governo, a indicação política para cargos de diretoria na estatal, feita por partidos da base, era bem mais incomum. Ele se disse lembrar de duas indicações políticas - de José Coutinho Barbosa e do hoje senador petista, mas à época integrante do PMDB, Delcídio Amaral.

 

Impeachment. Apesar de dizer torcer para que Dilma possa terminar seu mandato, FHC voltou a defender que o impeachment, diferentemente dos clamores por golpe militar de alguns grupos, é um instrumento da democracia. E comparou os pedidos para afastamento da petista àqueles que ele viu durante o seu segundo mandato (1999-2002). "Esse 'Fora Dilma' é como o 'Fora FHC'. A Dilma hoje simboliza, é alvo dessa irritação. Mas não creio que seja transcrito em passos exatamente para tirá-la do poder. Vai depender da comprovação de delitos e da opinião pública", afirmou.

 

Mas o tucano ponderou ver diferenças entre as crises enfrentas por Dilma e por ele, em seu segundo mandato. "Foi diferente. No meu governo, eu perdi popularidade mas não credibilidade, continuei com apoio do Congresso, de setores econômicos", afirmou.

 

 

Em pouco mais de meia hora de entrevista, FHC foi mais crítico ao governo Dilma, mas não deixou de mencionar o governo Lula. Disse lhe doer pensar que o Brasil não soube aproveitar o boom das commodities da década passada para dar um impulso de desenvolvimento. "Me dói como brasileiro, ver a perda de oportunidades históricas e a responsabilidade é do partido que está no poder, sem dúvida", afirmou.

 

Ele também afirmou que, no primeiro momento de crise de falta de apoio ao governo Dilma, havia uma sensação de que o governo Lula tinha sido bom e que ela havia conduzido mal a sucessão. Mas que, agora, a população passa a identificar como um processo somado e não quer "nem um nem outro".

 

Sobre os cartazes e manifestações no dia 15, mesmo que minoritários, mas que pediam a volta da ditadura, FHC avaliou que são resultado da falta de coordenação atual entre as forças políticas organizadas. O vácuo, permite, segundo ele, o alastramento de ideias radicais. Mas, Fernando Henrique não acha que há espaço para esse tipo de ideia prosperar. "Eu não me amedronto com isso. Em muitos momentos da história, essa irritação é natural, mas não creio que isso vá prosperar pois a sociedade brasileira está bem organizada."

 

Na frente da petista, tucano muda discurso

Em Goiás, Dilma ganhou afagos de Marconi Perillo, mas tucano adotou outro tom em evento com correligionários em São Paulo

 

 São Paulo - Primeiro tucano a elogiar publicamente a presidente Dilma Rousseff na quinta-feira, 19, durante passagem da petista por Goiás, o governador do Estado Marconi Perillo não poupou críticas a ela e até endossou os protestos de 15 de março contra a presidente durante encontro do PSDB no Instituto Fernando Henrique Cardoso, na capital paulista, em 9 de março.

 

 

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“Jamais concordei com as intolerâncias e injustiças contra a presidente. Venho aqui para receber uma presidente da República que foi legitimamente reeleita e que tem meu apoio a sua legitimidade. Não podemos ser vitimas de uma minoria que age contra a democracia, o republicanismo tem que prevalecer”, disse Perillo na quinta-feira, em Goiânia, em evento do qual participou ao lado de Dilma.

 

Há cerca de duas semanas, no entanto, na companhia de correligionários em São Paulo, ele falou sobre o difícil cenário do governo. “Essa química explosiva de crises ética, moral, política, econômica e social acaba sendo sintetizado pela crise de credibilidade do governo que tem nos engessado. Estamos engessados só discutindo essas crises.”

 

“Eu tenho visto pela internet, pelas redes sociais, convocações do dia 15 que nunca imaginaria ver, de empresários, profissionais liberais, de pessoas que nunca se meteram em política e estão convidando todo mundo. Pessoas de alta credibilidade, ou seja, as pessoas perderam a paciência”, afirmou.

 

No encontro com tucanos, Perillo lembrou ainda das dificuldades econômicas do País e citou os protestos que estavam marcados para 15 de março. “A resposta (à atual situação) vem no dia 15 e certamente virá dois meses depois porque a situação vai se agravar cada vez mais e as pessoas perderam a paciência.”

 

 

A presidente Dilma Rousseff, ao lado do governador de Goias, Marconi Perillo (PSDB) 

A presidente Dilma Rousseff, ao lado do governador de Goias, Marconi Perillo (PSDB) 

 

 

‘Reconhecimento’. Na quinta-feira, em seu Estado, Perillo mudou o discurso e fez questão de afirmar que não faz oposição à presidente. “Sou de um partido que faz oposição à senhora, mas eu não. Nunca ninguém ouviu uma palavra minha que não fosse de reconhecimento e agradecimento pelo que a senhora fez por Goiás”, afirmou o tucano.

 

Dias antes, porém, o governador havia dito que os prefeitos e governadores “não aguentam mais, 72% de tudo que se arrecada nesse País fica com o governo federal, só que todas as demandas da sociedade recaem sobre nossos ombros”.

 

No Instituto FHC Perillo também avaliou a situação do PT e lembrou declaração do senador tucano Aloysio Nunes Ferreira de que não quer o impeachment, quer ver Dilma “sangrar”. “Acho que o desfecho dessa vitória do PT, com todos os desdobramentos que a gente vê, vai significar - e daí o fato de o Aloysio (Nunes Ferreira) falar em sangramento, o fim da hegemonia do PT, não tenho dúvida sobre isso”, disse o governador.

 

Ainda segundo Perillo, se o PSDB tivesse vencido as eleições, teria adotado a mesma política econômica - de ajuste fiscal - do governo e seria acusado pelos petistas de ser neoliberal. “Se nós tivéssemos vencido, eles estariam colocando o MST nas ruas contra a gente. Iam nos chamar de neoliberais. Eles teriam mentido e estariam passando por bons meninos hoje.”

 

Em nota divulgada nesta sexta-feira, 20, Perillo diz que suas declarações no Instituto FHC foram “respeitosas, sem agressões ou ataques pessoais à presidente” e que não há incoerência em seu posicionamento. “No evento de ontem com a presença da presidente, condenei a intolerância e a hostilidade em nível geral, mas especificamente porque fui alvo de uma claque petista, composta por alguns radicais. Se sempre fui respeitoso, seria natural a recíproca em relação à minha pessoa.”

 

O governador diz que defendeu a governabilidade “porque o País não pode parar”. “As generalizações em nada contribuem.”