Em pergunta sobre troca de ministros, petista diz ser preciso aprovar ajuste antes

Eldorado do Sul (RS), 20/03/2015 - A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que a prioridade é aprovar o ajuste fiscal no Congresso e o enxugamento de gastos no governo antes de se discutir reforma ministerial. As mudanças no primeiro escalão voltaram à tona após a demissão de Cid Gomes do Ministério da Educação na quarta-feira, feita sob ameaças de o PMDB abandonar a base governista se ele não deixasse o cargo.

Questionada por jornalistas sobre novas trocas de ministros, Dilma respondeu: “Eu não vou falar sobre essa questão (a reforma ministerial). Vou primeiro tratar da questão do orçamento”. E completou: “É necessário que se aprove o ajuste fiscal e que se use o orçamento para fazer um contingenciamento. A partir daí todas as demais medidas vão ser tomadas”.

De acordo com a presidente, a meta de superávit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 só será alcançada com as medidas de ajuste fiscal encaminhadas ao Congresso e com o contingenciamento planejado pelo Executivo. Dilma não deu detalhes sobre o plano e apenas afirmou que será feito “o mais rápido possível”.

A aprovação do ajuste fiscal foi defendida com ênfase por Dilma em evento com integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em Eldorado do Sul (RS), região metropolitana de Porto Alegre. A presidente participou da inauguração de uma unidade de secagem e armazenagem de grãos construída em um assentamento do MST.

“Nosso desequilíbrio é momentâneo. Aprovando o ajuste, nós saímos juntos disso no curto prazo”, disse Dilma a cerca de 3 mil pessoas. “Ajustar é da vida. Todo mundo faz isso. Não estamos ajustando porque gostamos. Mas porque o País precisa continuar crescendo.”

Dilma afirmou que o governo manteve subsídios e desonerações e reduziu juros durante a crise econômica mundial, mas alegou que agora não é mais “possível assumir tudo”.

“Nos últimos seis anos, o governo tomou todas as medidas possíveis para que a crise não atingisse o País. Aumentamos os subsídios, reduzimos juros, (fizemos) desonerações. Agora nós não temos como continuar absorvendo tudo”, afirmou.

Humildade. Antes de Dilma discursar, um dos líderes do MST, João Pedro Stédile, afirmou que o movimento não é contra o equilíbrio fiscal, desde que as camadas sociais mais baixas não sejam as mais afetadas.

“Nós queremos o equilíbrio fiscal, mas achamos que quem tem que pagar a conta não são os trabalhadores. São os ricos e os milionários”, afirmou. Stédile voltou a criticar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, dessa vez por “falta de humildade”. “Se o orçamento tem problemas, por que o seu Levy não vem discutir conosco? Os ministros da senhora, presidente, têm que ser mais humildes.” 

NA SEMANA DO ‘CAOS’, UM ALÍVIO PARA A PRESIDENTE
 
Eldorado do Sul (RS), 20/03/2015 - Na semana em que foi alvo de protestos em todas as capitais do País e na qual a aprovação do governo atingiu o índice mais baixo registrado pelo instituto Datafolha desde o período pré-impeachment de Fernando Collor, em 1992, a presidente Dilma Rousseff voltou a sentir hoje a receptividade positiva de uma plateia. Embora sua gestão tenha reduzido o ritmo de assentamentos, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) passou a assumir a defesa do atual governo diante do “caos político” vivido pela petista, como definido por documento interno do governo.

Os cerca de 3 mil militantes do MST aplaudiram a presidente em um assentamento em Eldorado do Sul, na Grande Porto Alegre, cidade onde ela tem residência. Muitos foram ao evento munidos de bandeiras e camisetas do PT. No peito, parte da plateia levava adesivos de Dilma distribuídos durante a campanha eleitoral do ano passado.

Antes da chegada da presidente, a militância puxava gritos como “Dilma, guerreira, mulher brasileira” e “No meu país, eu boto fé, porque ele é governado por mulher”. Quando o mestre de cerimônias anunciou a presidente, os militantes gritaram de pé: “Olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma”.

A petista esteve sorridente ao longo de todo o evento. Durante o discurso de uma das autoridades, Dilma posou para fotos com um chapéu de camponês que ganhou de presente, arrancando risadas de militantes e de ministros da comitiva.

‘Quase santa’. O clima de apoio a Dilma estava presente também no discurso do líder do MST, João Pedro Stédile, que definiu a presidente como “quase uma santa”. Ele fez a brincadeira quando defendia a petista das críticas vistas nos protestos de 15 de março.

“Quem estava lá (nos protestos) era uma classe média reacionária, que teve coragem de levantar a palavra de golpe. Quem faz campanha aberta para derrubar governo comete um crime constitucional”, afirmou Stédile. “Golpe para derrubar a Dilma, que é quase uma santa? Vocês acham que a Dilma cometeu algum crime?” A militância respondeu: “Não”.