Título: Irmão de Jucá é exonerado
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 28/07/2011, Política, p. 3

Governo

Acusado de liberar R$ 8 milhões de forma irregular, parente do senador do PMDB deixa o cargo de diretor financeiro da Conab

A exoneração do diretor financeiro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Oscar Jucá Neto, foi oficialmente publicada ontem, no Diário Oficial da União. Irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), Neto pediu para deixar o cargo após ser acusado de pagar R$ 8 milhões, de maneira irregular, para uma empresa de armazenagem chamada Renascença. Ele estava há apenas um mês no cargo.

Segundo a revista Veja, Jucá Neto aproveitou a ausência do presidente da Conab, Evangevaldo Moreira dos Santos, e do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, ambos em viagem, para autorizar o pagamento. Como não havia dinheiro no caixa da empresa, ele transferiu recursos de um fundo destinado à compra de alimentos. A Justiça acabou penhorando uma área de estacionamento da Conab como garantia de pagamento.

A ação de Jucá Neto gerou desconforto no próprio PMDB. Para evitar sinais de conivência da cúpula partidária ¿ o ministro da Agricultura é afilhado político direto do vice-presidente Michel Temer ¿, a sigla resolveu entregar a cabeça do diretor financeiro para o Palácio do Planalto.

Essa não foi a primeira vez que Jucá Neto deixa um cargo na máquina federal apontado como suspeito de práticas irregulares. Em 2009, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, exonerou todos os apadrinhados políticos lotados na Infraero ¿ entre eles, Jucá Neto ¿, alegando que pretendia "limpar o nome da Infraero". Na época, Romero Jucá defendeu o irmão e reclamou da postura de seu companheiro de partido, classificando o ato como "leviandade".

Aliados na berlinda O senador Romero Jucá sabe que outros de seus aliados estão na mira do Planalto. No setor elétrico, a presidente Dilma Rousseff pretende trocar Luiz Henrique Hamann, diretor financeiro de Furnas e indicado por Jucá para o cargo. No início do ano, a presidente nomeou Flávio Decat para a presidência da subsidiária, mas acabou não substituindo a diretoria, o que tornou Decat refém de um grupo de subordinados ainda ligados ao PMDB.

O único que permanece com o prestígio intacto é o próprio parlamentar roraimense. A interlocutores próximos do partido, ele tem se queixado de que tantas denúncias envolvendo direta ou indiretamente seu nome derivam da ambição do PT em lhe tirar a liderança no Senado. "A bolsa de apostas é para saber se Jucá será ou não líder do governo que assumir em 2015", brinca um aliado da presidente, referindo-se ao fato de Jucá ter ocupado o posto nas gestões de Fernando Henrique Cardoso, de Luiz Inácio Lula da Silva e, agora, de Dilma.