Apesar de o Palácio do Planalto não se pronunciar oficialmente sobre a última fase da Operação Lava-Jato, que resultou na prisão de o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, ministros comentaram possíveis desdobramentos das denúncias de corrupção na imagem do governo. O titular da Defesa, Jaques Wagner, negou que a prisão possa pressionar a presidente Dilma Rousseff. Já Eduardo Braga, de Minas e Energia, reconheceu que as investigações da Polícia Federal atrasam o cronograma de produção da Petrobras. A aprovação da liberação dos acordos de leniência pelo Tribunal de Contas da União (TCU) ontem, por outro lado, alivia a pressão sob o governo.

Wagner defendeu a atuação de Dilma e procurou descolar a presidente de Vaccari. “É a história da vida dela pessoal, da vida política. Eu acho que tem coisas que não colam mesmo que a oposição queira, porque é transparente a postura dela de conversa”, afirmou, durante evento no Rio de Janeiro. De acordo com ele, qualquer partido político é uma entidade de direito privado e, por isso, Vaccari não faz parte do governo. O ministro deixou claro que cabe ao Judiciário, e não ao Executivo, julgar crimes.

Para Wagner, casos como o da Lava-Jato, não são prerrogativa do seu partido. Ele apontou a reforma política como caminho para evitar a corrupção. O ministro defendeu a redução de custos das campanhas e a limitação do financiamento privado delas, além do fim da coligação proporcional. “Nós precisamos ter partidos mais fortalecidos, e essa regra atualmente é destruidora de legendas”, completou.

O ministro de Minas e Energia ressaltou que a Petrobras precisa superar os “gargalos” provocados pelas investigações de repasses da empresa para partidos políticos. Após audiência pública na Câmara, Eduardo Braga afirmou que é fundamental retomar o cronograma de investimentos “importantes, necessários e com impacto para o presente e o futuro” da estatal. De acordo com ele, apesar do momento de dificuldades que passa, a Petrobras registrou recordes de produção.

Braga reconheceu a importância das investigações realizadas pela Polícia Federal e de se punir os culpados pelos desvios, mas enfatizou a preocupação com os resultados da estatal. “O combate à corrupção é absolutamente correto e tem de ser feito. Mas não podemos parar uma empresa como a Petrobras” disse. A expectativa do ministro é que os acordos de leniência possam ajudar a resolver a situação com as empresas envolvidas na Lava-Jato.


Acordos
No mesmo dia da prisão de Vaccari, o TCU aprovou, por unanimidade, a liberação dos acordos de leniência tratados na Controladoria-Geral da União (CGU). O ministro do TCU Augusto Nardes, relator do processo, rejeitou medida cautelar pedida pelo Ministério Público para suspender os acordos. Eles funcionam como uma delação premiada para as empresas, que poderão contribuir com as investigações da PF em troca de redução de pena. Cinco empresas já apresentaram pedidos à CGU.

O TCU definiu que o Ministério Público Federal (MPF) será ouvido durante a análise desses acordos. O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, defendeu diversas vezes a questão. A principal preocupação do governo é que as operações das empresas não sejam completamente inviabilizadas, devido ao impacto da atuação delas no desempenho econômico do país. As regras sobre a aplicação dos acordos de leniência foram estabelecidas em decreto publicado em 18 de março, que regulamentou a Lei Anticorrupção.