A cada 36 horas, um acidente com morte ocorrre nas rodovias que cortam o Distrito Federal. As causas da tragédia quase sempre estão associadas a quatro fatores: ultrapassagem indevida, excesso de velocidade, alcoolemia ao volante e distrações na direção do veículo. No ano passado, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF-DF) registraram 236 acidentes fatais. Somente nas rotas distritais, 93 pessoas morreram em 2014.

O Correio mapeou os pontos críticos de acidentes em seis rodovias federais que passam pelo DF: as BRs 020, 040, 060, 070, 080 e 251. Com base nos registros da PRF-DF, é possível apontar os trechos onde os acidentes com morte são recorrentes (leia no Pontos críticos na capital). A mesma informação foi pedida ao DER e ao Departamento de Trânsito (Detran) no último dia 13. Mas as duas autarquias não responderam à solicitação da reportagem até o fechamento desta edição. O DER informou que é preciso fazer um estudo para ter os pontos com mais acidentes. E o Detran — que não é responsável pelas rodovias do DF, mas faz o levantamento dos locais anualmente — não enviou qualquer resposta.

O mapa dos pontos críticos nas vias serve como alerta para quem vai pegar as estradas no feriado prolongado de 21 de abril e para quem as usa rotineiramente. A maior preocupação da PRF em relação às mortes nas BRs é com as ultrapassagens indevidas. As colisões frontais representam cerca de 4% dos acidentes. Segundo a agente Pamela Vieira, chefe do Núcleo de Comunicação da PRF-DF, o percentual é relativamente baixo. O problema é que esses 4% de acidentes são responsáveis por mais de um terço das mortes. “Isso mostra que o índice de letalidade de um acidente desse tipo é altíssimo. Foi isso que levou a PRF a sugerir o aumento do valor das multas de ultrapassagens, que entrou em vigor em novembro do ano passado”, explica a policial.

Apesar de não ser uma das rodovias mais movimentadas, a BR-080 — via de ligação entre Brazlândia e Padre Bernardo (GO) — chamou a atenção pela quantidade de tragédias no primeiro trimestre deste ano. O Correio contabilizou pelo menos oito mortes em três acidentes ao longo dela, entre 1º de janeiro e 31 de março. A quantidade de vítimas é praticamente a mesma registrada durante todo o ano passado, quando nove pessoas morreram em seis ocasiões.

A reportagem percorreu os 71km entre Brazlândia e Padre Bernardo. Motoristas e comerciantes apontam o trecho conhecido como sete curvas como um dos mais perigosos. O asfalto é bom e a sinalização no asfalto está nova. Mas faltam placas alertando sobre riscos. Pelo menos três vezes por semana, o eletricista Ronan Menezes, 27 anos, e o colega de trabalho, o motorista Moacir Borges Santana, 24, pegam a estrada rumo a Brazlândia para fazer entregas. Eles afirmam que, nas sete curvas, todo cuidado é pouco. “É uma parte perigosa da estrada. Nem todo mundo sabe que isso existe. O traçado da pista é traiçoeiro. Se estiver chovendo, fica pior ainda”, explica Ronan. Ele critica a precariedade do acostamento e a falta de sinalização.

No posto de Brazlândia, os caminhoneiros são aconselhados a prestar atenção em todo o trecho. “Faço esse caminho há 10 anos. Venho do Norte do Brasil, cortando pelo Centro-Oeste até o Sul. Essa estrada é uma das mais complicadas de todo o meu trajeto”, observou o motorista de caminhão Nilson Motta, 45 anos. O colega dele, Márcio Lanes, 45, disse que não se arrisca a dirigir na BR-080 à noite. “As estradas brasileiras deveriam ter mais luzes e mais placas de trânsito para indicar, por exemplo, trechos perigosos.”

Riscos

Das sete rodovias federais que cruzam o DF, duas chamam a atenção pela quantidade de fatalidades: a BR-020, que liga o DF ao Nordeste, e a BR-070, um dos caminhos que levam a Pirenópolis (GO). Nos dois casos, os trechos urbanos — entre Sobradinho ePlanaltina, no caso da 020, e de Ceilândia e Águas Lindas (GO), na BR-070 — são os mais arriscados. Na primeira, as colisões frontais em partes de pista simples representam quase metade de todos os acidentes ocorridos em 2014. Também é grande o número de atropelamentos. “Tem muita gente atravessando a rodovia. E o perfil da vítima atropelada é idoso, criança ou pessoa alcoolizada. Não tem passarela no trecho urbano e o condutor nem sempre consegue frear a tempo”, explica a agente Pamela, da PRF.

Já nas BRs 060 e 070, a pista é duplicada e bem sinalizada. As causas mais frequentes de acidentes, segundo a PRF, são a embriaguez do condutor ou do pedestre e o excesso de velocidade. Na BR-040, retornos mal planejados contribuíam para as tragédias. A pedido da PRF, a concessionária que administra a rodovia fechou o que ficava em frente ao shopping da cidade. Neste feriado prolongado, haverá fiscalização local nos trechos com maior índice de acidentes. “Temos feito muita fiscalização. Mas a situação só vai mudar se o condutor e o pedestre adotarem um comportamento mais consciente”, defende a agente Pamela.

Memória

2015

Fevereiro
Três acidentes com mortes no mês. A colisão entre um Fiat Stilo e um caminhão na BR-080 matou os quatro ocupantes do carro. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o motorista do carro perdeu o controle do veículo e invadiu a faixa contrária. Já na BR-040, três carros bateram e deixaram quatro mortos na altura de Cristalina (GO), após ultrapassagem indevida em um trecho com faixa contínua da estrada. Por fim, um homem de 45 anos morreu também na BR-040, após o carro dele bater de frente com um ônibus, próximo a Cristalina. Segundo a PRF, a vítima, a bordo de um VW Voyage, tentou fazer uma ultrapassagem sobre a ponte.
2014

Agosto

Uma pessoa morreu e seis ficaram feridas em um acidente entre dois carros na DF-001. No sentido Gama/Recanto das Emas, um veículo acertou outro que estava parado no acostamento.

Abril
Três motos e dois carros de passeio se envolveram em acidentes. Das oito pessoas envolvidas nas colisões — na Epia, na BR-070 e no Lago Sul —, dois motociclistas e um motorista morreram no local.

Março
Entre 11 e 13 de março, ocorreram dois acidentes com vítimas na BR-020. No primeiro, uma Toyota Hillux saiu da pista, capotou e bateu numa árvore. Uma pessoa perdeu a vida. No outro, o motorista de um Gol bateu na traseira de uma motocicleta Honda CG. O motociclista morreu na hora.

2013

Junho
A colisão frontal entre um Gol e um Palio deixou quatro pessoas mortas na DF-128. Segundo informações da PM, o Palio teria invadido a pista contrária.

Março
Uma batida frontal entre um Ford Ka e uma carreta deixou uma pessoa morta. O acidente ocorreu entre Brazlândia e Ceilândia. A suspeita é de que o motorista do carro, Jean Benedito de Souza, 36 anos, tenha dormido ao volante.