As dificuldades da presidente Dilma Rousseff na articulação política do governo se tornaram alvo da oposição. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse ontem que a petista inaugurou a “renúncia branca” ao delegar as negociações com o Congresso ao vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). “A grande pergunta que resta é: que papel desempenha hoje a presidente da República? Acredito que praticamente nenhum mais”, disse o tucano, referindo-se ainda ao fato de o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciar medidas contrárias às que Dilma defendia no primeiro mandato.

“Dilma introduziu a renúncia branca. Há um interventor na economia que pratica tudo aquilo que ela combateu no primeiro mandato. E ela delegou a coordenação política ao vice que desprezou. E ainda é refém dos presidentes da Câmara e do Senado”, disparou Aécio, depois de reunião da Executiva Nacional do PSDB, em Brasília. O tucano comentou ainda o anúncio do IPCA acumulado nos últimos 12 meses, que ultrapassou os 8%, e a possibilidade aventada pelo ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, de mudar o regime de partilha para concessão na exploração dos campos de petróleo do pré-sal.

“O PT, a cada dia que se passa, revela-se um engodo eleitoral”, disse Aécio. Para ele, a inflação de alimentos está descontrolada. Ele afirmou que quem sai mais prejudicada é a população carente que, em tese, seria a “defendida pelo governo PT”. “No meu governo, não haveria privatização da Caixa Econômica Federal, partidarização do Banco do Brasil ou ocupação criminosa da Petrobras”, comentou Aécio.

Sobre as manifestações convocadas para o próximo domingo, como as que ocorreram em 15 de março, ele disse que lideranças tucanas vão participar, mas não antecipou se ele próprio se fará presente. “O governo avalia que a quantidade pessoas deve ser menor, o que não diminui a insatisfação da população com esse governo.”

Derrota
Sob o comando de Temer, a articulação política do Palácio do Planalto impôs ontem uma derrota à oposição no Congresso. Seis senadores retiraram a assinatura do pedido para a criação da comissão parlamentar de inquérito (CPI) sobre empréstimos concedidos pelo BNDES. Com a baixa, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) perdeu o número de apoios necessários (27) para requisitar a abertura de uma CPI. O congressista defende a investigação citando empréstimos que considera suspeitos. Entre eles está um de cerca de US$ 5,2 bilhões para a exportação de bens e serviços para Angola.

Caiado havia reunido 28 assinaturas. Os seis senadores que retiraram o apoio — Rose de Freitas (PMDB-ES), Ivo Cassol (PP-RO), Otto Alencar (PSD-BA), Omar Aziz (PSD-AM), Zezé Perrella (PDT-MG) e Fernando Ribeiro (PMDB-PA) — são da base do governo. Embora não tenham admitido publicamente, houve pressão do Planalto para a desistência. Caiado retirou o pedido e buscará novas assinaturas para apresentar mais uma vez o documento. Ele espera que o PSB, ainda indeciso sobre o apoio à investigação, colabore com as adesões.

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Tarso Genro no ataque

Responsável, quando era ministro da extinta Secretaria de Relações Institucionais (SRI), pelas negociações que oficializaram o apoio político do PMDB ao governo Lula, o ex-governador Tarso Genro foi ácido ao comentar a decisão da presidente Dilma Rousseff de nomear o vice-presidente Michel Temer como coordenador político do governo. Por meios das redes sociais, Tarso afirmou que o PT está à margem das decisões do Executivo e tornou-se mero “acessório”. “É constatação sobre a decisão da presidente: o PT está fora decisões do governo, que são as de corte político e econômico”, criticou Tarso.

Foram, ao todo quatro, posts. Para Tarso, a prova maior do papel periférico assumido pelo PT é que a legenda nem sequer é consultada quanto às mudanças pensadas pela presidente Dilma Rousseff. Desafeto político de Dilma — em 2009, ele questionou a escolha, por Lula, da então chefe da Casa Civil como a candidata do PT ao Planalto em 2010 —, Tarso acredita que a opção por Temer embute riscos para o governo. “Medidas extremas desse tipo, se não derem certo, geram uma crise muito maior do que aquela que a medida tenta resolver”, afirmou.

As trapalhadas do governo neste caso não param. Antes mesmo do anúncio oficial, o petista Pepe Vargas deu ontem uma entrevista em que confirmou a ida para a Secretaria de Direitos Humanos (SDH), mas voltou atrás, após um telefonema. Pouco depois das 20h30, no entanto, o Planalto divulgou nota confirmando Pepe na SDH. Por lá, ontem, a ministra Ideli Salvatti despediu-se de funcionários. Ela deve assumir a presidência dos Correios.