Na semana do Dia Mundial da Saúde, é celebrado um direito sem o qual não é possível realizar nenhum outro. Trata-se de ocasião para comemorar a vida, mas também para a mobilização no combate contra o que adoece e mata. Neste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou a alimentação segura como tema do Dia Mundial da Saúde. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) destaca o combate ao uso de Agrotóxicos como componente essencial à garantia da produção de alimentos seguros e saudáveis para a nossa população.

Os Agrotóxicos são produtos químicos sintéticos usados para matar insetos ou plantas que interferem severamente no ambiente rural e urbano e, por consequência, nos seres humanos. As primeiras invenções e os usos desses produtos químicos foram destinados a matar pessoas durante a guerra. Com o fim da guerra e a descoberta de que tais armas químicas também eram capazes de eliminar outras formas de vida, como a de plantas e insetos, a indústria química passou a produzir Agrotóxicos para uso agrícola.

As intoxicações agudas por Agrotóxicos, as que ocorrem por exposição a grandes doses mesmo por um curto período de tempo, provocam irritação da pele e olhos, coceira, cólicas, vômitos, diarreias, espasmos, dificuldades respiratórias, convulsões e até morte. Exposições a menores doses, por períodos maiores, por resíduos de Agrotóxicos em alimentos e no ambiente, por exemplo, também podem provocar problemas graves, como infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer.

É importante destacar que a presença de resíduos de Agrotóxicos não ocorre apenas em alimentos in natura, mas também em muitos produtos alimentícios processados pela indústria, como biscoitos, salgadinhos, pães, cereais matinais, lasanhas, pizzas e outros que têm como ingredientes o trigo, o milho e a soja. Os resíduos ainda podem estar presentes em carnes e leites de animais que se alimentam de ração com traços deAgrotóxicos devido ao processo de bioacumulação.

Portanto, a preocupação com os Agrotóxicos não pode significar a redução do consumo de frutas, legumes e verduras, alimentos fundamentais em alimentação saudável e de grande importância na prevenção do câncer. O foco essencial está no combate ao uso dosAgrotóxicos, que contamina as fontes de recursos vitais, incluindo alimentos, solos, águas, leite materno e ar.

No Brasil, a venda de Agrotóxicos sofreu salto de US$ 2 bilhões para mais de US$ 7 bilhões entre 2001 e 2008, alcançando valores recordes de US$ 8,5 bilhões em 2011. Em 2009, o país alcançava a indesejável posição de maior consumidor mundial deAgrotóxicos, ultrapassando a marca de 1 milhão de toneladas, o que equivale a consumo médio de 5,2kg de veneno agrícola por habitante. Ao lado da grande pressão da indústria de produtos químicos, a liberação do uso de sementes transgênicas é a razão principal para o Brasil ter assumido o primeiro lugar no ranking de consumo de Agrotóxicos, uma vez que o cultivo das sementes geneticamente modificadas exige o uso de grandes quantidades de veneno agrícola.

Em substituição ao modelo de produção de alimentos com Agrotóxicos, deve-se apoiar a produção de base agroecológica. Esse modelo, além de produzir frutas, legumes, verduras e leguminosas, como os feijões, com maior potencial anticancerígeno, otimiza a integração entre capacidade produtiva, uso e conservação da Biodiversidade e dos demais recursos naturais essenciais à vida. No campeonato de consumo de Agrotóxicos, o Brasil precisa passar adiante o título de campeão mundial e criar as condições para que a a população tenha amplo acesso a alimentos seguros e saudáveis.