O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, denunciado pelo Ministério Público Federal por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, admitiu ter ido ao escritório do doleiro Alberto Youssef, o principal operador do esquema bilionário de corrupção na Petrobras. Alegou que foi convidado pelo próprio Youssef e informou, durante depoimento conturbado ontem na CPI que apura irregularidades na estatal, não saber o motivo do convite. Nervoso, com respostas automáticas para qualquer questionamento e classificado de “ladrão” por oposicionistas, Vaccari declarou que, quando chegou ao local, o doleiro não estava e que, por isso, teria ficado apenas quatro minutos no prédio. O depoimento irritou a oposição.
Questionado sobre a relação com o doleiro, o petista disse inicialmente que conheceu Youssef há muito tempo. “Eu conheci Alberto Youssef casualmente há muitos anos. Não tenho relacionamento com ele. Nunca tratei de finanças do PT ou de finanças em geral com ele.” Em seguida, acabou admitindo ter ido ao encontro dele. “Volto a insistir. Eu fui ao escritório do senhor Alberto Youssef sem agenda porque ele havia me convidado para ir lá. Portanto, essa dúvida que o senhor tem, eu também tenho”, respondeu.
Chamado de “um dos maiores ladrões da história do Brasil” pelo deputado Delegado Waldir (PSDB-GO), Vaccari manteve a calma e repetia o mantra combinado com o advogado. Disse que não tinha intimidade com a presidente Dilma e o ex-presidente Lula. Afirmou que só deixará o cargo de tesoureiro do partido quando o diretório nacional assim decidir. “Caros deputados, reafirmo que os termos das delações premiadas em relação à minha pessoa não são verdadeiros.” A repetição irritou o líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP). Nervoso e falando alto, o parlamentar afirmou que a prisão de Vaccari estaria perto e que o PT seria extinto. Logo em seguida, retirou-se da CPI. A deputada Maria do Rosário (PT-RS) protestou e chegou a dizer que o líder saiu correndo feito um rato, numa alusão aos animais soltos no início da sessão (leia mais na página 3). A petista declarou que não sabe como o Delegado Waldir havia passado no teste psicotécnico.
Planejamento
Vaccari iniciou o depoimento apresentando slides sobre a arrecadação dos partidos políticos para mostrar que outras legendas também ganharam recursos das empresas investigadas na Operação Lava-Jato. “Em 2014, foram R$ 222 milhões para todos os partidos das empresas investigadas. O PT obteve 25%, o PSDB obteve 24%, o PMDB obteve 21%”, afirmou Vaccari. Quando questionado sobre a afirmação do ex-diretor de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco de que o PT haveria recebido 200 milhões de dólares em propina mascarada de doação oficial, o tesoureiro deu respostas evasivas e repetidas.
Auxiliado pelo advogado, repetiu que era inocente. Durante a sessão, disse que estaria à disposição para uma acareação com os delatores. Concordou em passar por um detector de mentiras. “Eu conheci Pedro Barusco quando ele já estava aposentado. Quem me apresentou foi o senhor Renato Duque. Foi um jantar. Tive poucos contatos. Ele nunca fez parte da minha intimidade. Nunca tratei com ele assuntos sobre finanças do partido ou sobre finanças. Sempre havia mais pessoas junto e, às vezes, o Renato Duque”, assegurou.
Por diversos momentos, o tesoureiro do PT foi atacado duramente por oposicionistas. O deputado Efraim Filho (DEM-PB) foi irônico ao dizer que ele integrava uma quadrilha. “De finanças, a gente sabia que o senhor entendia. Agora também sabemos que entende de planejamento. O senhor está sendo denunciado pelo Ministério Público por formação de quadrilha. E toda quadrilha precisa de alguém para cuidar do planejamento. Foi muito bem escolhido para o cargo”, afirmou. Vaccari respondeu em seguida: “Delação não é prova”.
Respondendo a perguntas do relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), Vaccari admitiu ter se encontrado com empresários investigados, mas apenas para pedir doações oficiais ao PT. Vaccari repetiu diversas vezes que as declarações de Youssef na delação premiada, em relação a ele, são falsas. “Não tratei de assuntos financeiros do PT ou qualquer assunto financeiro com ele, porque eu não tenho conhecimento ou intimidade com ele”, disse Vaccari.
O tesoureiro atribuiu os pagamentos feitos à esposa dele por Claudio Mente, da empresa CSA Project, a um empréstimo para a compra da casa onde ele vive hoje. “Não houve qualquer irregularidade nesse processo. Foi um empréstimo mútuo, feito em 2009 e pago logo adiante”, disse. Segundo um auxiliar de Youssef, os pagamentos feitos através da CSA e de Mente seriam, na realidade, pagamento de propina.
O petista admitiu ter recebido o representante da empresa Toyo Setal, Augusto Mendonça, e tratado com ele de assuntos relativos a doações de campanha. Todas as doações, porém, teriam sido feitas de forma legal.