ELDORADO DO SUL (RS)

A presidente Dilma Rousseff indicou ontem que condiciona uma eventual reforma ministerial à aprovação das medidas do ajuste fiscal no Congresso, que considerou "fundamental e imprescindível". Em um evento com agricultores familiares no Rio Grande do Sul, ela fugiu das perguntas sobre troca de ministros, mas não negou essa possibilidade como havia feito anteontem.

- Eu não vou falar dessa questão (da reforma ministerial), eu vou primeiro tratar da questão do Orçamento - disse a presidente, em entrevista, referindo-se ao contingenciamento dos gastos após a aprovação do Orçamento para 2015 no Congresso.

Apesar da defesa enfática do corte nas contas públicos, a presidente teve que ouvir críticas do coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile. Ele aproveitou a presença de Dilma no assentamento Lanceiros Negros, em Eldorado do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre, para atacar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e incentivar Dilma a se aproximar dos movimentos sociais. Num discurso de 25 minutos, quase a mesma duração do de Dilma, Stédile afirmou que nenhum ministro deve "se sentir superior ao povo" e recomendou humildade.

- Ser mais humilde não é para ir para o céu, é para ouvir o povo, as nossas organizações, para saber onde tem problema. Por que o seu Levy não vem discutir conosco? Não é só cortar e cortar. Podemos baixar a taxa de juros. Chame o povo para baixar a taxa de juros - discursou.

mst PROGRAMA NOVAS MANIFESTAÇÕES

O líder dos Sem-Terra também criticou o que chamou de "classe média reacionária" que foi às ruas no dia 15 de março para protestar contra o governo. Segundo Stédile, a proposta de impeachment é "golpe, crime constitucional". Stédile anunciou uma nova onda de manifestações a favor do governo para o próximo dia 7 de abril.

- Por que querem derrubar a Dilma, que é quase uma santa? Vocês acham que a Dilma cometeu algum crime? Querem é dar um golpe nos programas sociais. A classe média não aceita assinar carteira de empregada doméstica, nem ver filho de agricultor na universidade. Não é contra o governo, é contra os pobres - disse Stédile. - Companheira Dilma, não se assuste. Deixe o (Miguel) Rossetto cuidando do Palácio e venha para as ruas, onde vamos derrotar a direita e seu plano diabólico.

Dilma participou da abertura da colheita de arroz orgânico de uma cooperativa. Na plateia, havia cerca de 3 mil militantes, a maioria do MST e da Via Campesina. Ela usou um chapéu de colono e discursou criticando a oposição. Classificou quem torce contra o sucesso do governo como "pescadores de águas turvas". E defendeu as medidas de ajuste fiscal mesmo diante das críticas de Stédile.

Na entrevista coletiva após a cerimônia, Dilma disse que não concordava em tudo com Stédile, mas que respeitava suas "sugestões".

- Ele tem a concepção dele, eu tenho a minha. A concepção de um movimento é uma, a de um governo é outra - disse. - É absolutamente democrática a crítica dele. Agora, entre ser democrática e a gente aceitar, há uma pequena distância.

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Substituições nas pastas começam semana que vem  

BRASÍLIA

A presidente Dilma Rousseff deve começar a fazer mudanças na equipe na próxima semana. Pelo menos essa é a expectativa do PMDB da Câmara, que espera a indicação do ex-deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para o Ministério do Turismo. Já o PT defende que a Secretaria de Comunicação (Secom), com a quase certa saída de Thomas Traumann, volte a ter um perfil mais político e citam como modelo os antecessores Luiz Gushiken e Franklin Martins. Um dos nomes citados por petistas para a Secom é o de Edinho Silva, que foi tesoureiro da campanha de Dilma à reeleição. A presidente pretendia indicá-lo para a Autoridade Pública Olímpica (APO), mas os planos mudaram porque ambos avaliaram que sua nomeação seria rejeitada pelo Senado, devido à rebelião da base aliada.

A primeira tarefa de Dilma, no entanto, é indicar um novo ministro da Educação, depois da saída repentina de Cid Gomes. Um dos cotados para a vaga é o ex-ministro José Henrique Paim. Ele teria o apoio do setor educacional e do ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), braço-direito de Dilma. Já o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), quer emplacar Isolda Cela, ex-secretária de Educação do governo Cid Gomes e atual vice-governadora do Ceará. Outros nomes bem cotados para o MEC são os de Nilma Gomes, da Secretaria de Igualdade Racial, e o educador paulista Mario Sérgio Cortella.