Num esforço para se tornar conhecido nacionalmente, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pôs o pé na estrada. Ontem foi a Curitiba para um evento político e visitou uma escola para crianças com deficiência. Na Assembleia Legislativa do Paraná, ele inaugurou a "Câmara Itinerante", um projeto que tem oficialmente o objetivo de aproximar o Legislativo da sociedade e discutir nos estados a reforma política e o pacto federativo. Além de Cunha e deputados federais, políticos do Paraná também participaram do evento, na Assembleia Legislativa do estado. Entre eles, estavam o relator da reforma Política, deputado Marcelo Castro, e o deputado Danilo Forte (PMDB-CE), que falou sobre o pacto federativo. O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), também compareceu e defendeu o fim da reeleição.

cobertura ao vivo

Cunha permaneceu por quase três horas no evento e saiu um pouco antes do término. Depois, almoçou com deputados paranaenses, nenhum deles do PT, e em seguida, à tarde, visitou a Escola Alternativa, que atende crianças com deficiência. Ele cumprimentou pais e alunos, ouviu apresentação musical e até posou para fotos com crianças no colo, numa cena típica de campanha eleitoral. O objetivo de Cunha é levar o projeto a outras cidades durante o seu mandato de dois anos. Ao GLOBO, ele afirmou que a ação não representa custo adicional relevante para a Câmara.

- Custo da Câmara é só apoio. Não tem orçamento. O deslocamento dos deputados é por conta deles. Há o apoio mínimo da Câmara e das Assembleias estaduais com suas TVs - explicou Cunha.

O evento na Assembleia foi transmitido ao vivo pela TV Câmara, com os discursos de Cunha e dos políticos. Houve manifestações de protesto por parte de um grupo reduzido de pessoas na porta da Assembleia. Com uma faixa que pedia financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais, o grupo também criticou a legitimidade do Congresso para fazer a reforma política, cobrando participação popular. Foram lidas perguntas enviadas pela internet para Cunha que também cobraram a realização de um plebiscito popular para mudar as regras eleitorais. Cunha afirmou que um plebiscito para esse tema não tem a concordância dos parlamentares e que cabe aos representantes eleitos fazer a reforma.

Dois participantes que estavam inscritos para falar reclamaram do formato da audiência pública. O professor Arthur Conceição criticou a falta de registro das reivindicações e a garantia de que todos pudessem falar enquanto Cunha ainda estivesse no local. Último a falar, o sociólogo Enimar Fabiano criticou a informação de Cunha de que os deputados não querem o plebiscito para a reforma política:

- Querem fazer reforma sem o povo?

Ao chegar à Assembleia, Cunha voltou a dizer que tem pressa na apreciação da reforma política e que, se a comissão especial não apresentar o parecer em 40 sessões, como previsto no regimento, ele levará a proposta para ser votada no plenário da Câmara.

Ele também falou sobre o pedido feito por seus advogados para o arquivamento do inquérito aberto contra ele, com a autorização do Supremo Tribunal Federal, para investigar suspeitas de envolvimento dele com o esquema de corrupção da Petrobras investigado pela Operação Lava-Jato.

- O normal seria deixar o andamento das investigações, mas na minha situação, como chefe de Poder, ter esse constrangimento de abrir uma investigação sem motivação, tem que ser contestada. Fui à CPI (da Petrobras) espontaneamente e mostrei ponto a ponto o absurdo daquela investigação.

guerra com cid Gomes

Cunha comemorou a demissão do ex-ministro da Educação Cid Gomes (PROS), a quem voltou a atacar:

- É um desqualificado, teve o destino que queria ter, ao ser demitido. A Câmara o está processando. E eu não vou bater boca com aquele que se acha inimputável. Ele se acha um indígena. Então, efetivamente ali é um caso de processo judicial.

Ele também voltou a defender a candidatura do prefeito do Rio, Eduardo Paes, à Presidência da República em 2018. Para ele, as Olimpíadas no Rio servirão para o prefeito mostrar toda a "eficácia de seu trabalho":

- O PMDB tem candidato. Meu candidato é ele.

_________________________________________________________________________________________________________________

Irmãos Gomes usam internet contra Cunha  

BRASÍLIA

Aliados do ex-ministro da Educação, Cid Gomes, começaram uma campanha nas redes sociais pela renúncia do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Uma página no Facebook chamada "Eu exijo a renúncia do Eduardo Cunha" foi criada no início da noite da última quarta-feira, pouco depois do duro embate na Câmara, que terminou com a demissão de Cid. As manifestações contra Cunha foram reproduzidas ontem pelo irmão de Cid, o também ex-ministro Ciro Gomes.

Na página de Ciro no Facebook é possível ver mensagens de apoio a Cid Gomes e ataques contra o presidente da Câmara, além de reproduções da fala do cearense durante a sessão em que reafirmou haver "achacadores" entre os deputados e os aconselhou a "largarem o osso".

Ao GLOBO, Cunha demonstrou pouco interesse sobre a ação dos aliados de Cid Gomes.

- Nem vou ler. Não perco tempo com ele, nem vou respondê-lo, os advogados é que verão o que é cabível. Ele quer entrar no jogo e não serei escada para ele - declarou o presidente da Câmara dos Deputados.

cunha leva cid à Justiça

Na quinta-feira, a pedido de Eduardo Cunha, o procurador da Câmara, deputado Cláudio Cajado (DEM-BA), ingressou na procuradoria-geral da República com três representações criminais contra Cid Gomes. Cajado também acionou a Justiça Federal para tornar o ex-ministro alvo de processo por danos morais contra a imagem da Câmara dos Deputados.

Desde a sessão de quarta-feira, Cid Gomes tem se mantido recluso em sua casa, em Fortaleza. Quando retornou à cidade após o embate com os deputados, foi recebido por aliados e jovens com discursos de desagravo, aclamando o ex-ministro pela sua postura na Câmara. Cid respondeu dizendo que iria lutar sempre.