Pressionado por senadores de oposição e até da base governista pela alta da inflação, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, deixou ontem (24) de lado a discrição e desabafou: a alta do IPCA no curto prazo “não é um horror sem fim”.

Acostumado mais a afagos do que críticas no Congresso, Tombini teve que enfrentar provocações e cobranças dos parlamentares, durante audiência pública no Senado Federal, e explicar repetidamente como fará para voltar a domar a inflação, que este ano deve romper o teto da meta de 6,5%.

A demonstração de desconforto veio ao final de quatro horas de audiência em que foram colocados em xeque não só a alta dos preços, mas a atuação do BC sobre os juros antes e depois da campanha presidencial, intervenção no câmbio, crescimento da economia e autonomia da instituição. Tombini foi acusado de trabalhar com ingerência política do Palácio do Planalto nas decisões sobre o rumo da taxa de juros.

“O BC tem total tranquilidade sobre suas políticas”, disse. Não faltou assunto para os senadores colocarem Tombini contra a parede. O presidente do BC procurou convencê-los de que, embora mais forte no curto prazo, a pressão dos preços vai ceder e convergir para o centro da meta, de 4,5%, no ano que vem. A trajetória não é considerada crível pelo mercado.

O BC quer evitar que a elevação da inflação este ano contamine os preços em 2016. “Há progresso no controle da inflação”, disse. Tombini mostrou até projeções feitas pelo mercado financeiro e que hoje mostram queda no IPCA para 2016, 2017 e 2018, embora no curto prazo esteja acima de 8%. Ele assegurou que a política monetária está e seguirá “vigilante”. Com isso, disse, os benefícios serão estendidos para além de 2016, garantido um crescimento sustentável da economia.

Retomada

Tombini traçou um prognóstico positivo para a atividade econômica, prevendo retomada no segundo semestre e com a economia crescendo com um pouco mais de “vigor” em 2016. No primeiro semestre, admitiu, ficará fraca.

Para o presidente, o fortalecimento da política fiscal facilitará a convergência da inflação para a meta, porque aumenta a potência dos efeitos da política fiscal. A partir de abril, garantiu que o IPCA mensal estará em patamar bem menor. Tombini disse que o ajuste fiscal do governo é “robusto” e necessário, além de argumentar que as propostas de reformas dos benefícios trabalhistas e previdenciários não retiram direitos, mas fazem ajustes de “instrumentos”. Em linha com o discurso do PMDB, Tombini disse que todo o governo, inclusive o BC, tem de fazer sua parte neste momento de ajuste. “Certamente é necessário mostrar autoridade neste momento”, disse. “Quanto mais ajuste tivermos agora, menos teremos lá na frente”, acrescentou. Quando questionado sobre a forma que a presidente Dilma Rousseff lhe cobra, Tombini disse que não dá satisfações sobre a rotina da autarquia. “Quando me cobram algo, me cobram a visão, não o dia a dia”, garantiu.

Depois de ouvir as críticas, Tombini reagiu e disse que a instituição tem “posição firme” e opera com autonomia “de fato” para decidir sobre os juros e que não há improvisação em relação à autonomia. Na sessão, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) chegou a discutir com senadora Gleisi Hoffman (PT-PR), praticamente única integrante da base que saiu em defesa do presidente do BC.