BRASÍLIA

Encurralada por uma dura conjunção de crises política, econômica e de popularidade, a presidente Dilma Rousseff ainda não conseguiu deslanchar neste início de segundo mandato ações e programas capazes de reverter a onda negativa que se instalou desde janeiro no Palácio do Planalto. Grande parte das promessas anunciadas depois dos protestos de 2013 e na campanha à reeleição segue circunscrita à burocracia administrativa, deixando Dilma sem recursos para gerar fatos positivos para seu governo. Essa semana, entretanto, ela retomou viagens e solenidades no Planalto, dando mostras de que pretende reagir.

Em novembro do ano passado, o Planalto sediou um grande evento com representantes da indústria e criou oito grupos de trabalho para fechar um pacto pela competitividade do Brasil. Os grupos tinham até a primeira semana de dezembro para apresentar propostas nas áreas de rodovias e ferrovias; desburocratização e custo do investimento; comércio exterior; energia; inovação; portos; compras governamentais e mobilidade urbana. O governo fecharia um documento e anunciaria o tal pacto. Passados quatro meses, os empresários envolvidos na iniciativa ainda aguardam uma convocação do governo para nova reunião.

Para o diretor de Políticas e Estratégias da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes, o atraso no cronograma se deve, entre outras coisas, ao agravamento da crise econômica e política. Ele pondera que desde que o governo convocou a indústria para trabalhar na costura do pacto, novos ministros assumiram, retardando os trabalhos.

- Se você não tiver método e uma forma de trabalho centrada em objetivos, isso tende a perder importância e as coisas acabam não saindo. O momento delicado da economia exige medidas de modernização do ambiente de negócios. É chegada a hora de se formar uma coalização de forças para avançar numa reforma que traga mais competitividade e oportunidades de crescimento para a economia - diz Fernandes.

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Modelo de segurança da copa só foi para um estado  

BRASÍLIA

Outra promessa que segue nos gabinetes ministeriais é a instalação de Centros de Comando e Controle em todas as capitais brasileiras. Criadas durante a Copa do Mundo nas 12 cidades-sede, essas estruturas servem para unificar o trabalho das polícias e centralizar o sistema de ocorrências feitas nas chamadas ao 190. Mas, desde julho, quando terminou a Copa, o governo vem realizando questionários junto aos governos estaduais para fazer um diagnóstico sobre a viabilidade de construir os centros em cada um deles. Até agora, apenas um centro foi inaugurado, o de Goiânia, em dezembro de 2014. Faltam ainda 13 unidades para que o governo conclua sua promessa.

- Gostaríamos de entregar todos os centros até o fim de 2016, mas é precipitado, sem os diagnósticos dos estados, garantir um cronograma exato - afirma Regina Miki, secretária nacional de Segurança Pública.

lentidão em outras áreas

Na área de saúde, o governo tem rendimento lento em relação a um dos pactos firmados após os protestos de junho de 2013, quando prometeu criar, até 2017, 11.447 vagas de graduação em Medicina e 12.376 vagas de residência médica. Desde então, foram geradas 4.546 vagas em cursos de Medicina e 3.640 de residência. Se quiser cumprir a promessa, Dilma terá mais do que dobrar a média de criação anual de vagas de residência.

Outro programa alardeado pela presidente, o Mais Especialidades, ainda está na fase de diagnósticos com estados e municípios sobre as principais demandas do SUS.

A terceira fase do Minha Casa Minha Vida, que promete entregar três milhões de residências populares até o fim de 2018, também não deslanchou. A criação de 12 milhões de novas vagas do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) também segue lenta. Segundo o MEC, nos últimos cinco meses foram realizadas 170 mil matrículas. Para o Planalto, a demora no lançamento de ações positivas não afasta a oportunidade de a presidente reverter o quadro negativo. Em resposta ao GLOBO, a Secretaria de Imprensa da Presidência disse que "as ações estão sendo concluídas".