Em sua quinta passagem pelo Congresso em menos de um ano, a ex-presidente da Petrobrás Graça Foster levou ontem para a CPI que investiga irregularidades na estatal a mesma estratégia do PT de vincular ao governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) o esquema de corrupção alvo da Operação Lava Jato. 

“Não consigo imaginar como pode ser verdadeira a fala do Barusco de que ele sozinho recebia propina (na época do governo FHC). Não consigo entender isso de forma alguma. Fico surpresa de saber que alguém pode ganhar alguma coisa no meio da estrutura sem ninguém de cima saber. Quando a gente vê o Barusco falando de si, a gente pensa que está em outro planeta”, disse. 

Ela se referia ao que disse à CPI no dia 10 de março o ex-gerente de Serviços da Petrobrás Pedro Barusco, de que sua atuação no esquema em 1997, na gestão tucana, era “isolada” e que a propina foi “institucionalizada” a partir entre 2003 e 2004, início do governo Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-gerente, que fez um acordo de delação premiada, acusou o PT de receber entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propina oriunda de contratos da estatal. Segundo Barusco, os valores se referem à propina recebida a partir de contratos da companhia. 

Foram seis horas e 40 minutos de sabatina na Câmara. Em dado momento, Graça disse que sente “muita vergonha” dos colegas que participaram do esquema de corrupção flagrado pela Lava Jato. “Lógico que passo horas do meu dia pensando em tudo o que está acontecendo (investigação da Lava Jato) na Petrobrás. Eu entrei aqui nas outras CPIs, em audiências, com muito mais coragem do que entro hoje (ontem). Podiam ter todas as suspeitas, mas não tinham os fatos que estão aí. Eu tenho realmente um constrangimento muito grande por tudo isso, de olhar para vocês. Já passei por várias fases de sentimento. Eu tenho vergonha, muita vergonha”, concluiu. 

A ex-presidente da estatal chegou ao plenário 2 da Câmara às 10h20, escoltada por deputados petistas e acompanhada de, ao menos, quatro advogados, inclusive uma da Petrobrás. Os parlamentares Sibá Machado (AC), Maria do Rosário (RS), Afonso Florence (BA) e Valmir Prascidelli (SP) se revezaram em elogios e defenderam Graça Foster das críticas da oposição. 

‘Melhor do que eu’. Apesar da tentativa de blindagem, a ex-dirigente foi pressionada por deputados de oposição a dizer se gostava mais do PT ou da companhia. “A Petrobrás, mil vezes a Petrobrás”, respondeu. Em seguida fez uma autocrítica. “Certamente a Petrobrás merecia um gestor muito melhor do que eu. Não tenho a menor dúvida disso.” A ex-presidente negou que a perda de R$ 88,6 bilhões registrada no terceiro trimestre do ano passado seja referente à corrupção. “Esses R$ 88 bilhões representam o valor justo por conta de uma série de ineficiências, até mesmo por causa de chuva e outros, não são o número da corrupção.” 

A ex-presidente da Petrobrás, Graça Foster, durante audiência na CPI na Câmara 

A ex-presidente da Petrobrás, Graça Foster, durante audiência na CPI na Câmara 

 

Ela disse ser a Polícia Federal a responsável pela descoberta da corrupção na estatal. “Não tenho dúvida em relação ao bem que a Operação Lava Jato já vem causando à Petrobrás.” Graça destacou ter sido indicada pela presidente Dilma Rousseff tanto para a diretoria (Gás e Energia) quanto para a presidência da Petrobrás. Afirmou desconhecer os responsáveis pelas indicações de Nestor Cerveró, Paulo Roberto Costa e Renato Duque, ex-executivos investigados por envolvimento no esquema de desvios. Declarou nunca ter visto o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, acusado por Barusco de receber US$ 300 mil para a campanha presidencial de Dilma em 2010. 

Bastidores. Preocupada com o estado emocional da antiga funcionária de carreira da companhia, a presidente Dilma Rousseff agiu diretamente para evitar que a fragilidade da executiva fosse explorada na sessão e seu depoimento comprometesse o governo. A ida da ex-presidente da Petrobrás foi marcada em substituição à de Julio Faerman, representante da SBM Offshore no Brasil, que não foi localizado. Num primeiro momento, Graça informou que estava doente, mas, diante da exigência de apresentação de um atestado médico, ela recuou e confirmou sua vinda. Até a véspera do depoimento, Dilma tentou intervir para adiar a oitiva. 

Graça evitou chorar durante o depoimento, mas não pôde esconder os olhos marejados. Na saída, um esquema de segurança foi montado para que ela não fosse abordada por jornalistas.

 

Tucano que chefiou BNDES não declara conta em HSBC da Suíça

O ex-deputado federal Márcio Fortes, integrante da direção nacional do PSDB e ex-presidente do BNDES, é um dos mais de 8 mil brasileiros da lista de correntistas do HSBC na Suíça vazada por um ex-funcionário do banco, no escândalo conhecido como Swissleaks. Autoridades investigam se houve crime na abertura e manutenção dessas contas.

A lista de políticos divulgada nesta quinta-feira, 26, pelo portal UOL e pelo jornal O Globo inclui entre os correntistas com valores depositados no HSBC o vereador do Rio Marcelo Arar (PT) e o empresário Lirio Parisotto, segundo suplente no Senado do atual ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB-AM). Nenhum dos três declarou as contas suíças à Justiça Eleitoral quando disputaram cargos eletivos.

Um dos fundadores do PSDB, Fortes tem 70 anos, é empresário da construção civil e presidiu a João Fortes Engenharia, construtora criada por seu pai, João Fortes, em 1950. Segundo a reportagem do UOL e do Globo, o tucano abriu duas das três contas da lista em 1991, quando presidia o Banerj, banco estatal fluminense. Elas foram encerradas em 2003 e 2004, mas nenhuma consta da declaração de bens entregue ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) em 1998, quando Fortes se elegeu deputado.

A terceira conta foi aberta em 2003 e tinha US$ 2,4 milhões entre 2006 e 2007, período ao qual a lista do Swissleaks faz menção. Essa conta bancária também não consta da declaração entregue na campanha de 2006.

Fortes foi presidente do BNDES na gestão José Sarney, entre 1987 e 1989. Depois de ajudar a fundar o PSDB, assessorou o primeiro candidato tucano à Presidência, Mário Covas. Em 1994, foi eleito deputado pela primeira vez com a maior votação do Rio para a Câmara.

Fortes teve participação importante na arrecadação financeira das campanhas do PSDB à Presidência em 1994, 1998 (vencidas por Fernando Henrique Cardoso) e 2002 (José Serra).

O empresário não atendeu às ligações do Estado feitas para o seu telefone celular. Sua secretária informou que Fortes está fora do País, mas poderia responder perguntas por e-mail. As respostas não chegaram à reportagem até esta edição ser concluída. Ao Globo e ao UOL, o tucano disse acreditar que as duas primeiras contas foram abertas no período em que prestou serviço para uma instituição sediada na Suíça. Sobre a terceira conta, afirmou desconhecê-la.

Outros casos. O vereador Marcelo Arar, que é radialista e promotor de eventos e teve seu nome vinculado a duas contas conjuntas no HSBC da Suíça, também não atendeu ao Estado. Um assessor disse que ele não poderia dar entrevista porque se recupera de cirurgia bariátrica. Uma das contas de Arar estava com saldo zerado na época que os dados foram compilados e a outra tinha US$ 247,8 mil. O petista negou a existência das contas ao Globo e ao UOL.

Dono da Videolar, fábrica de materiais plásticos, Lirio Parisotto foi incluído pela revista Forbes como um dos bilionários brasileiros. A lista do Swissleaks liga o suplente de senador a cinco contas, com saldos de até US$ 45,9 milhões. Ao Globo e ao UOL, o empresário disse, via assessoria de imprensa, ter declarado todo seu patrimônio à Receita Federal e ao Banco Central, mas não apresentou documentos que comprovem a informação.

 

Senadores querem ouvir governo sobre Swissleaks

 

A CPI do HSBC no Senado aprovou ontem (26) requerimento para ouvir o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre as providências tomadas pelo governo diante das denúncias do caso que ficou conhecido como Swissleaks. Se o ministro aceitar o convite, a audiência será realizada na quarta-feira. Também foram aprovados convites para ouvir o secretário daReceita Federal, Jorge Rachid; e o presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Antonio Gustavo Rodrigues.

Na sessão de ontem, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), vice-presidente da CPI, criticou a omissão das autoridades do País em relação às investigações sobre as contas abertas por brasileiros no exterior e disse que essas audiências eram necessárias para esclarecer por que nenhuma providência havia sido tomada até agora.

“A omissão está patente. Por isso, nós precisamos ouvir as autoridades brasileiras. Essa investigação começou no mundo todo em 2008. Por que o Brasil não tomou nenhuma providência em relação a isso? Ou nós temos um sistema de informação sobre sonegação muito falho ou as autoridades do Brasil fracassaram para detectar o que pode ser o maior caso de evasão fiscal do País”, disse.

No Rio, Cardozo disse que irá a “qualquer comissão” e que o Brasil está à espera de papéis vindos da França.


Os senadores ouviram ontem os jornalistas Fernando Rodrigues, do portal UOL, e Chico Otávio, do jornal O Globo, que publicaram reportagens sobre os brasileiros com conta na agência do HSBC na Suíça. Rodrigues se negou a fornecer à CPI a lista de 8.677 brasileiros correntistas do banco, sob alegação de risco de vazamento.