Título: Na rua, a tentação da gordura
Autor: Gama, Júnia; Leite, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 29/07/2011, Brasil, p. 6

A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) também apontou que quatro em cada 10 brasileiros comem na rua. O fato de não preparar a comida ¿ o que, para alguns, dificulta as escolhas alimentares mais saudáveis ¿ não atrapalha a dieta do biólogo Bruno Filizola, 33 anos. Encontrado frequentemente em restaurantes naturais de Brasília, ele, em seus pratos, dá preferência a alimentos nutritivos, como saladas, legumes e cereais. O biólogo afirma que adquiriu essa consciência no ambiente universitário, onde as preocupações com a saúde e com o desenvolvimento sustentável são mais recorrentes. Para ele, a piora nos hábitos alimentares do brasileiro deriva da falta de informação. "As classes mais baixas associam comer produtos industrializados a um certo status (...). No Brasil, o aumento da renda não está sendo acompanhado por um desenvolvimento sustentável. Parece que o Brasil quer imitar os Estados Unidos nos pontos em que os americanos falharam", diz.

Segundo a POF, mais de 90% da população ingere frutas, legumes e verduras abaixo dos níveis recomendados pelo Ministério da Saúde. Os brasileiros têm combinado a típica dieta ¿ à base de arroz e feijão ¿ com alimentos pouco nutritivos e muito calóricos. Para Elizabetta Recine, professora do Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília (UnB), é necessário proteger a alimentação tradicional e tornar os alimentos saudáveis mais acessíveis. "Precisa ser fácil e barato consumir frutas e hortaliças", aponta, indicando que estabelecimentos que comercializam esse tipo de produto deveriam ser multiplicados pelo país.

A especialista acredita que, a partir da pesquisa, será possível desenhar políticas públicas mais assertivas, ajudando o brasileiro a ter acesso a uma dieta mais nutritiva. Elizabetta ressalta que o país não tinha uma sondagem com o grau de detalhamento da POF desde a década de 1970. A pesquisa foi realizada com base em análises de medidas no consumo alimentar individual de pessoas a partir de 10 anos de idade. A amostragem foi de 13,5 mil domicílios.

Segundo o gerente da pesquisa, Edilson Nascimento Silva, os dados mostram a necessidade de serem pensadas políticas de prevenção. "Principalmente as crianças e os adolescentes precisam ter uma dieta diversificada. Os índices de inadequação indicam um alerta sobre sobrepeso, obesidade e desenvolvimento de doenças crônicas", diz. (JG)