SÃO PAULO
Após quatro meses preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, o presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, deixou a cadeia ontem e foi para prisão domiciliar, em São Paulo. O executivo é o 17º envolvido no esquema de corrupção da Petrobras a assinar acordo de delação premiada com a Justiça Federal. Outro envolvido, Rafael Ângulo Lopez, ex-funcionário do doleiro Alberto Youssef, também está concluindo o processo de colaboração judicial. E, na semana passada, o vice-presidente da construtora, Eduardo Leite, e o engenheiro e consultor Shinko Nakandakari assinaram os termos de suas delações.
Acusado de lavagem de dinheiro, corrupção e organização criminosa, Avancini informou em sua delação premiada que a empresa pagou pouco mais de R$ 100 milhões em propina para obter contratos de obras na usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Ainda de acordo com o empresário, o valor foi dividido entre PT e PMDB, e cada partido recebeu 1% do valor dos contratos.
Monitoramento eletrônico
Avancini já está em casa. Assim como Leite, ele será monitorado com tornozeleiras eletrônicas e terá que comparecer em juízo sempre que convocado. O primeiro interrogatório com o juiz do caso, Sérgio Moro, está marcado para o dia 4 de maio, em Curitiba.
Atualmente, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, e Eduardo Leite cumprem prisão domiciliar, assim como outros três acusados de participação no esquema de distribuição de propinas por empresas contratadas pela Petrobras. Apenas o doleiro Alberto Youssef segue preso em Curitiba, por motivos de segurança.
Ontem, os advogados de Rafael Ângulo Lopez confirmaram que ele já está prestando depoimento em delação premiada. O acordo ainda não foi homologado. Lopez é apontado pelos investigadores da Operação Lava-Jato como um dos principais carregadores de dinheiro do doleiro no esquema criminoso. A ele caberia o pagamento de propinas a políticos indicados por Youssef.
Lopez teria entregado aos investigadores registros de todas as operações que fez a mando de Youssef, além de comprovantes de viagens feitas para operar o esquema. Para fazer o pagamento, ele teria viajado em voos comerciais com grande quantidade de cédulas amarradas ao corpo.
Como o depoimento de Lopez cita nomes de políticos a quem entregou a propina, o acordo de delação terá que ser homologado pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Outra delação homologada pela Justiça foi a do engenheiro Shinko Nakandakari, apontado pelo executivo Erton Fonseca, da Galvão Engenharia, como operador do esquema de desvio de recursos da Diretoria de Serviços da Petrobras. Além de Shinko, assinaram o acordo também seus dois filhos Luiz Fernando Sendai Nakandakari e Juliana Senai Nakandakari, que já ofereceram um imóvel (um duplex em São Paulo) em garantia do pagamento da multa que terão que pagar à Justiça para terem redução de pena. Os dois filhos são sócios do pai em suas empresas.
depoimento "assustador"
Ao aceitar a denúncia contra o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, o juiz Sérgio Moro disse que o depoimento de Shinko era "assustador":
"O mais assustador é que Shinko confessou o pagamento de propinas ainda no segundo semestre de 2014, quando a Operação Lava-Jato já havia ganho notoriedade na imprensa. Indagado, admitiu que, mesmo com a notoriedade da investigação, nem ele ou a empreiteira sentiram-se tolhidos em persistir no pagamento de propinas, o que também parece ser o caso de Renato Duque, já que realizou operação de lavagem em 2014, já durante o curso das investigações", diz trecho do parecer da decisão de Moro.
Shinko Nakandakari disse à Justiça Federal que pagou propinas para o ex-gerente da Refinaria do Nordeste, Glauco Legatti. Ele afirmou que os pagamentos para Legatti avançaram até o ano de 2014, mesmo depois da Operação Lava-Jato ter sido deflagrada em março do ano passado. O delator confirmou à Justiça do Paraná que operava para a Galvão Engenharia.
Shinko não revelou o valor que diz ter entregue ao ex-gerente geral da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, empreendimento alvo da Lava-Jato. Em novembro, depois que a PF deflagrou a sétima fase da Lava-Jato, a estatal petrolífera afastou Legatti das funções de gerente geral.
Além de citar Legatti, Shinko confirmou à Justiça que pagou R$ 1 milhão "em espécie" e "em parcelas" para Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, indicado pelo PT para o cargo. Ele disse, ainda, que pagou outros R$ 4,4 milhões para Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia e braço direito de Duque.