GOIÂNIA

Em sua primeira agenda de rua depois dos protestos de 15 de março, a presidente Dilma Rousseff defendeu ontem a democracia e o direito de manifestação, mas pediu tolerância e diálogo. Cercada de um forte esquema de segurança, montado pelo Palácio do Planalto e pela prefeitura petista de Goiânia, que incluiu um tapume cercando o local onde assinou ordem de serviço para construção de um BRT, com verbas do PAC, Dilma estava acompanhada do governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, que condenou as manifestações apoiadas em nível nacional pelo PSDB e pelo senador Aécio Neves (MG).

- Nós temos obrigação de respeitar a democracia. E como é que é a democracia? Direito de todos falarem, todos se manifestarem, porém, também, direito a todos serem ouvidos. Por isso, eu peço tolerância e peço diálogo. Porque o diálogo implica que a gente olhe o próximo, aquele com quem nós dialogamos, como uma pessoa igual a nós - afirmou a presidente.

Dilma chegou ao local do evento com uma hora de atraso, acompanhada de Marconi Perillo, que foi vaiado pelos petistas. Embora o PSDB tenha apoiado as manifestações do último domingo, Perillo condenou a intolerância e a injustiça contra Dilma. O governador afirmou manter uma "relação republicana" com a presidente e o prefeito, ambos petistas. Disse ainda ser grato à Dilma pelo que o governo federal fez por Goiás.

- Eu recebi conselhos para não estar aqui, mas disse que eu, enquanto governador, jamais concordei com a intolerância e as injustiças em relação à presidente. Eu, que sempre a recebi aqui respeitosamente, não vou temer comparecer a um evento, porque uma parte pode me hostilizar. Eu venho aqui como governador legitimamente eleito pelo estado de Goiás. Venho aqui receber a presidente da República que foi legitimamente reeleita e que tem meu apoio para a governabilidade. O Brasil não pode ser vítima da intolerância ou desrespeito. O Brasil não pode ser vítima de minorias - disse o governador que, nesse momento, foi aplaudido.

Em um raio de dois quilômetros do Paço Municipal, onde ocorreu o evento, foram montados postos de triagem do público. No entorno do local, foi instalada uma barreira com grades, depois um tapume de placas de ferro e novamente uma cerca de grades. Efetivos da Guarda Civil Metropolitana, da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal fizeram a segurança da cerimônia.

O esquema foi organizado para impedir que manifestantes ligados aos movimentos Vem Pra Rua, Caras Pintadas e Brasil Livre chegassem ao Paço Municipal. Por volta das 14h30m, um grupo de 24 manifestantes, com faixas de "Fora Dilma", "Fora PT" e "Impeachment Já", chegaram à entrada, mas foram barrados. Batendo panelas, os manifestantes gritaram e cantaram "Dilma vá embora que o Brasil não quer você, leva com você o Lula e a quadrilha do PT".

O prefeito de Goiânia, o petista Paulo Garcia decretou ponto facultativo para os órgãos que funcionam no Paço Municipal. A prefeitura também colocou ônibus de graça para levar os convidados entre os postos de triagem e o evento. Segundo o Planalto, 3.500 pessoas participaram da cerimônia. No Twitter, Garcia respondeu às críticas sobre a organização do evento: "Aviso aos navegantes. Gostemos ou não existe um protocolo presidencial. Ponto final".

Parceria institucional

No evento, Dilma fez um afago político a Perillo, anunciando mais uma etapa das obras do Aeroporto Santa Genoveva - construção do pátio e da pista - com promessa de entrega em novembro. As obras ficaram paralisadas por quase dez anos, por indícios de superfaturamento. A presidente fez questão de destacar a parceria entre os governos estadual e federal.

- O governador Marconi Perillo tem sido um parceiro do governo federal nos desafios que nós enfrentamos ao longo dos anos em que fomos eleitos, eu para governar o Brasil, ele para governar Goiás. Essa parceria se dá acima das nossas diferentes filiações partidárias. Somos um país democrático, em que a gente disputa durante a eleição. Acabou a eleição, eleitos aqueles que o povo escolheu, a gente passa a governar - afirmou Dilma.

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Na lista de Marta, novos companheiros 

A senadora Marta Suplicy deixou de lado os velhos companheiros do PT e convidou novos amigos para a festa de seus 70 anos esta noite em São Paulo. Da lista de convidados, saem Lula e Rui Falcão e entram o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e seu vice, Márcio França (PSB), o que confirma que a quase ex-petista está de malas prontas para ingressar no PSB, partido ao qual se filiará até maio. Se trocou os amigos, o banqueteiro é o mesmo das festas sempre elegantes de Marta, Toninho Mariutti.

Marta vai reunir um grupo de cem pessoas, entre políticos, artistas e integrantes da alta sociedade paulistana. A organização ficou por conta da empresa do marido da senadora, Márcio Toledo, articulador da saída de Marta do PT e de seu ingresso no PSB, com aval dos líderes tucanos.

Há exatos 13 anos, quando começava a campanha do PT à Presidência, a ex-ministra comemorava seus 57 anos em uma festa conjunta com o então presidente do partido, José Dirceu - hoje condenado pelo mensação. Lotaram um bar paulistano com estrelas petistas e artistas, sempre ao som de música brasileira e cubana.

Este ano, nem o ex-presidente Lula foi lembrado. Tampouco o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que Marta escalou como secretário quando era prefeita da cidade, ou o presidente da legenda, Rui Falcão, que já foi vice-prefeito de Marta. Também ficou fora da lista de convidados o ex-marido de Marta Eduardo Suplicy.

A comemoração será realizada no salão de festas do apartamento de Toledo e Marta, nos Jardins, área nobre da capital paulista. O convite enviado por e-mail tinha um fundo cor de rosa, mas os convidados mais importantes receberam telefonemas e visitas de Toledo, que comanda todo o evento.

O governador Alckmin deve declinar do convite por ter agenda no interior de São Paulo. Deve representá-lo o chefe da Casa Civil, Edson Aparecido, que recebeu telefonema de Toledo na semana passada.

Já o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, sairá hoje às pressas da reunião estratégica do partido em Brasília para prestigiar a senadora. Deputados da bancada também devem participar da festa de Marta.

Na reunião em Brasília, a pauta do PSB é justamente a disputa municipal de 2016. Marta quer ser a candidata a prefeita pelo PSB, "o que casa muito bem com os planos do partido de ter o máximo de candidaturas em grandes cidades", como disse Siqueira ontem.

A disputa pela prefeitura de São Paulo é o maior temor dos petistas, que avaliam que Marta dificultará a tentativa de reeleição do prefeito Haddad. Por outro lado, é a maior aposta do PSDB para enfraquecer seus eternos rivais na capital.