BRASÍLIA

Foram quatro horas com respostas que variaram entre "nada a declarar" e "reservo-me o direito constitucional de permanecer calado". O depoimento do ex-diretor da Petrobras Renato Duque frustou os parlamentares da CPI. Sem respostas, eles apelaram para que o executivo, apontado como um dos arrecadadores de propinas para o PT, siga o exemplo de outros delatores e confesse o que sabe sobre o esquema de corrupção na estatal. Mas Duque permaneceu impassível. E, por duas vezes, em tom enigmático, repetiu uma frase do livro de Eclesiastes:

- Existe uma hora de falar e uma hora de calar. Esta é a hora de calar - disse Duque.

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) contestou Duque com outra passagem bíblica:

- Vossa Senhoria citou o Antigo Testamento. Pois o Novo Testamento, pelo apóstolo Paulo, diz que somente a verdade vos libertará.

Os deputados tentaram de tudo para que o ex-diretor falasse. Lembraram que Marcos Valério, o operador do mensalão petista, foi condenado a 40 anos de prisão, enquanto o núcleo político teve uma sentença bem mais branda. Disseram que a família de Duque é que sofreria as consequências. E avisaram ele será abandonado pelo PT. Nada adiantou.

Como pressão, alguns chegaram a ameaçar convocar a mulher de Duque para depor. Mas demonstraram que nem sabiam o nome dela. A princípio, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) referiu-se a ela como Elza.

- O que o senhor prefere: falar agora ou ver sua mulher aqui, a dona Elza?

- Elza não é minha mulher. É minha mãe - disse Duque.

Foi uma das raras vezes em que Duque fugiu do script de nada falar na CPI. Ele só foi além de um simples "permanecerei calado", em outras quatro ocasiões, todas para negar informações dos deputados. Num dos momentos, desabafou:

- Nunca pensei que fosse tão difícil ficar calado!

Ele disse não conhecer o doleiro Alberto Youssef, que, em delação premiada, contou que discutia a repartição de propina com ele; que sua esposa não conhece e nunca esteve com o ex-presidente Lula ou com o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamatto; que não existe parentesco entre ele e o ex-ministro José Dirceu; e que seu filho trabalhe em uma subsidiária da UTC, empreiteira acusada na Lava-Jato.

Houve novo bate-boca entre a oposição e o PT. O deputado Delegado Waldir (PSDB-GO), disse que seria preciso comprar óleo de peroba para que os petistas passassem na cara. Valdir Prascidelli (PT-SP) tomou as dores do partido e, apontando para o tucano, pediu respeito. O presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), pediu mais educação ao parlamentar do PSDB.

"Consciência tranquila"

No encerramento de sua participação, Duque respondeu a alguns parlamentares que consideraram que foi um gasto desnecessário trazê-lo de Curitiba para Brasília para depor à CPI e não falar nada.

- Mas foi comunicado com antecedência pelos meus advogados de que eu permaneceria calado. Não posso me responsabilizar por esse custo.

E disse que é inocente das acusações que lhe são imputadas e que se defenderá na Justiça, no momento oportuno.

- Não tenho problema nenhum em discutir qualquer um dos assuntos aqui levantados, porque tenho a consciência tranquila e argumentos para rebatê-los. Apenas tenho a obrigação de seguir minha orientação legal. Não estou me declarando culpado (ao ficar calado). Vou me defender, provar que meus bens têm fundo no meu trabalho. Lamento que a companhia esteja nesta situação agora. Tudo ao seu tempo. Vai ter um tempo para calar e um tempo para falar.

Para o presidente da CPI, o depoimento nada acrescentou:

- Não foi uma reunião produtiva. Foi mais de desabafo dos parlamentares.

O advogado de Duque, Alexandre Lopes, disse que seu cliente não irá assinar termo de delação premiada:

- Em todas conversas que tive com Duque, ele nega os fatos, refuta as acusações e diz: "Eu não tenho o que delatar e quem delatar". Não há possibilidade alguma (de delação). Ele não tem o que delatar nem quem delatar.