O último conflito em Gaza, em julho de 2014, tirou a vida de 2.200 pessoas, quase todas palestinas, incluindo 513 crianças. Após semanas de bombardeios israelenses, grande parte da cidade foi reduzida a escombros. Nos meses seguintes, centenas de milhares de pessoas sobreviveram graças a ajuda internacional, distribuída pela UNRWA, a agência da ONU que dá assistência aos refugiados palestinos. As 11,5 mil toneladas de arroz doadas pelo governo do Brasil foram fundamentais nesta emergência.

Desde 2010, o governo brasileiro vem aumentando seu apoio à agência, em reconhecimento ao trabalho da UNRWA para melhorar as condições de cinco milhões de refugiados palestinos que vivem em Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Síria e Líbano. Graças a esse esforço, em dezembro de 2014 o Brasil foi admitido no Comitê Consultivo da UNRWA — o primeiro país do Brics e da América Latina a integrar o mais alto órgão de decisão da agência.

A UNRWA começou a funcionar em 1950, após a primeira guerra árabe-israelense, quando centenas de milhares de palestinos foram expulsos de suas casas. É a operação humanitária mais longa nos 70 anos de história das Nações Unidas. A ONU se orgulha deste trabalho nas áreas de educação, saúde e serviços sociais. Todos os dias, meio milhão de crianças estudam em uma das 666 escolas administradas pela UNRWA. A cada ano, milhões de palestinos têm acesso a cuidados de saúde em clínicas da agência. E serviços de microcrédito oferecem uma perspectiva de melhoria para milhares de famílias.

Todas as operações da UNRWA se baseiam nos princípios da ONU de neutralidade, tolerância e respeito aos direitos humanos. Somos intransigentes em relação a isso, apesar da dificuldade de operar em contextos tão difíceis: a guerra civil na Síria está entrando em seu quinto ano, Gaza está em ruínas e, na Jordânia e no Líbano, os palestinos vindos da Síria estão numa situação de extrema vulnerabilidade.

 

 
 

Quase todos os 30 mil funcionários da UNRWA são, eles mesmos, refugiados palestinos, que vivem com suas famílias nas áreas onde atuam. Nossos colegas pagam um preço alto por seu trabalho. Onze funcionários da UNRWA morreram durante o último conflito em Gaza, e 14 na Síria desde 2011.

 

Periodicamente, a UNRWA é injustamente acusada de endossar, de alguma forma, o extremismo. Mas durante as últimas hostilidades em Gaza, foi a própria UNRWA que descobriu e denunciou os grupos extremistas que haviam colocado foguetes em escolas da ONU. À medida que o conflito se intensificou, a UNRWA condenou o disparo de foguetes contra Israel e o bombardeio israelense das escolas onde milhares de civis tinham buscando proteção.

O Brasil hoje participa da tomada de decisões de uma fundamental agência humanitária da ONU em um momento de mudanças turbulentas no Oriente Médio. Assim, contribui também para a estabilidade da região, dando aos refugiados da Palestina a esperança de um futuro digno e pacífico. Muitos dos países que apoiam a UNRWA, o fazem precisamente por seu trabalho contra a intolerância e a discriminação, ajudando a criar as condições para a solução de um conflito que dura há tempo demais.

Ao Brasil dizemos: muito obrigado.

Giancarlo Summa é diretor do Centro de Informação da ONU no Brasil (Unic Rio)