Poupado de um novo rebaixamento, o Brasil ainda tem o status de bom pagador na classificação da Standard & Poor's (S&P), apesar da crise política, do mau estado da economia e das incertezas quanto às ações de uma presidente acuada até pelos companheiros e aliados. Mas o País continua no patamar mais baixo do grau de investimento. Basta um corte da nota para levá-lo ao grau especulativo. A S&P, uma das três mais importantes agências de avaliação de risco, divulgou na segunda-feira a boa notícia - a manutenção da nota de crédito soberano, depois de uma rodada de conversas com a equipe econômica. A agência, disse o ex-ministro Antônio Delfim Netto, deu um aval para o governo provar sua capacidade de fazer o ajuste. É uma interpretação realista. A presidente Dilma Rousseff e sua equipe ganharam tempo, sem as atribulações de mais uma avaliação negativa, para avançar na arrumação das contas públicas e na agenda de reformas, enfrentando as pressões contrárias e os grandes obstáculos políticos.

Outras duas grandes agências, a Moody's e a Fitch, também mantêm o Brasil na escala do grau de investimento, dois níveis acima do grau especulativo. Para reduzir os títulos do Tesouro ao padrão de junk bonds (papéis de lixo), teriam de jogar o crédito soberano do País dois patamares abaixo. Também esse detalhe dá ao governo algum espaço para respirar e se mover, apesar das cobranças de empenho na correção dos desajustes.

A aprovação do Brasil pela S&P foi reafirmada, no entanto, sem distinção e louvor, embora um crédito de confiança tenha sido concedido ao Executivo. Ao cortar a nota do País, no ano passado, a agência incluiu na avaliação a expectativa de um cenário muito ruim depois das eleições. "No rebaixamento dos ratings de crédito do Brasil, em 2014, incorporamos nossas expectativas de que as trajetórias de crescimento e fiscal do País seriam mais fracas que aquelas registradas em anos recentes e de que o governo teria um espaço de manobra menor para enfrentar choques econômicos", informou a S&P.

"O rebaixamento dos ratings", ainda segundo os autores do informe, " também incorporava nossas expectativas de que o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff seria marcado por um histórico de decisões de política econômica ambíguas e inconsistentes."

As previsões negativas confirmaram-se, em boa parte, nos meses seguintes, mas "a sinalização da política econômica mudou significativamente". A equipe da agência levou em conta as novas promessas de ajuste das finanças públicas, "tanto dentro quanto fora do orçamento", e o compromisso de eliminação de "várias distorções econômicas". A correção inclui a atualização de preços contidos politicamente. O comunicado menciona como dados positivos o novo ciclo de aperto monetário iniciado pelo Banco Central e a diminuição das intervenções no câmbio, com abertura de espaço para a desvalorização do real.

A análise apresentada pela S&P, para justificar a manutenção do Brasil no grau de investimento, inclui um exame das condições econômicas e políticas do País, com referências, é claro, ao escândalo da Petrobrás. Mas a avaliação política é positiva. As investigações na empresa e os inquéritos sobre fornecedores e políticos são, de acordo com a nota, "um testemunho da força institucional desta jovem democracia". A análise inclui também a projeção de uma contração econômica de 1% neste ano e de taxas de crescimento de 2% em 2016 e de 2,3% em 2017. Poucas estimativas divulgadas nas últimas semanas têm sido tão otimistas.

Apesar da aposta nas instituições e na disposição do governo de realizar os ajustes, a S&P mudou de estável para negativa a perspectiva de crédito corporativo da Petrobrás, sem baixar sua classificação. Rebaixou, no entanto, o perfil individual da empresa. A avaliação do crédito corporativo inclui a possibilidade de ajuda do Tesouro, em caso de grande dificuldade. Não se considera essa hipótese no caso do perfil individual.

Por enquanto, a ajuda da S&P à política de ajuste iniciada pelo Executivo é muito maior que a do PT e dos partidos aliados.