O fim do programa de leilões diários de swap cambial (que equivalem à venda de dólares no mercado futuro), anunciado na última terça-feira (24) pelo Banco Central, e o ambiente político tumultuado fizeram com que a moeda americana interrompesse uma sequência de três dias de perdas. Nesta quarta-feira, 25, o dólar subiu 2,30% e fechou cotado a R$ 3,1970.

No início do dia, o dólar superou 1% de valorização ante o real, numa primeira reação à decisão do BC. Na terça-feira, a instituição anunciou o fim dos leilões diários de swap a partir de abril e, ao mesmo tempo, indicou que a rolagem dos contratos que estão para vencer a partir de maio será integral.

O mercado financeiro já havia embutido, em grande parte, nas cotações do dólar, a perspectiva de que os leilões não continuassem. Ainda assim, havia alguns ajustes a serem feitos após a confirmação, o que abria espaço para uma pressão de alta no início do dia.

"O dólar só não subiu mais ante o real porque, lá fora, a moeda americana estava caindo", disse um profissional de corretora.

Na avaliação do chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), José Júlio Senna, embora o real tenha se desvalorizado hoje, a decisão do BC ocorre num momento em que a pressão para a alta do dólar está menor. No exterior, a última sinalização do

Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) é de que não há pressa para elevar a taxa de juros.
Internamente, a agência de classificação de risco Standard & Poor's anunciou na segunda-feira a manutenção do grau de investimento do Brasil.

"Os sinais do Fed e as reações de mercado estão mostrando que o fortalecimento do dólar lá fora pode ter uma trégua. E a S&P deu um sinal que ajudou a reduzir o risco Brasil", diz.

Política
Além da questão dos swaps, a questão política pesou sobre os negócios. Na terça-feira, a Câmara aprovou projeto que obriga a presidente Dilma Rousseff a regulamentar em até 30 dias o projeto de lei que trocou os indexadores das dívidas de Estados e municípios com a União. Isso foi encarado pelo mercado como mais uma derrota para o governo, colocando em risco o ajuste fiscal promovido pelo Ministério da Fazenda.

"A influência política sobre a alta do dólar hoje é até maior que a do fim dos swaps", afirmou o operador José Carlos Amado, da Spinelli Corretora. "O swap já estava meio que no preço, o mercado já vinha se ajustando. Mas a política incomoda. Toda vez que acontece algo novo, o mercado fica mais precavido", acrescentou.

Pelos cálculos do Ministério da Fazenda, a mudança no indexador das dívidas de Estados e municípios, de IGP-DI mais 6% a 9% para IPCA mais 4% ou teto da Selic, fará com que o governo abra mão de R$ 163,1 bilhões até 2040. A presidente Dilma já disse que assumir essa despesa agora é "inconsequente".