Uma semana depois de o portal estadao.com.br revelar o conteúdo de um documento reservado do Palácio do Planalto que vê “caos político” e critica a “comunicação errática” do governo federal, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Thomas Traumann, pediu ontem (25) demissão do cargo à presidente Dilma Rousseff.

É o terceiro ministro que deixa o cargo desde o início do segundo mandato de Dilma no Planalto, em janeiro deste ano.

Em nota à imprensa, a Presidência da República comunicou que Dilma aceitou o pedido e “agradeceu a competência, dedicação e lealdade de Traumann no período como ministro e porta-voz”. A Presidência não informou o sucessor de Traumann na Secom - por enquanto, a pasta será comandada pelo secretário executivo Roberto Messias.

A saída de Traumann já era esperada pelo governo, após a divulgação do documento interno. Dilma ficou muito irritada, segundo palavras de assessores próximos, com o vazamento do texto.

O documento diz que os apoiadores da presidente estão levando uma “goleada” da oposição nas redes sociais e aponta como saída o investimento maciço em publicidade oficial em São Paulo, cidade administrada por Fernando Haddad (PT), que se tornou o epicentro das manifestações de 15 de março contra Dilma.

Traumann estava no comando da Secom desde fevereiro do ano passado, em substituição da então ministra Helena Chagas, que havia pedido demissão em janeiro. Anteriormente, ele era porta-voz da Presidência, posto que ocupava desde 2012.

Enquanto não há definição quanto ao sucessor de Traumann, estão em estudo duas possibilidades: manter o atual modelo da Secom ou atribuir a um auxiliar palaciano exclusivamente as funções da publicidade, enquanto a Secretaria de Imprensa cuidaria da relação com a mídia.

Para a chefia da Secom, estão cotados os nomes do jornalista Américo Martins, diretor-geral da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), e do deputado Alessandro Molon (PT-RJ).

Reforma

Apesar da pressão do PMDB e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma resiste em fazer uma reforma ministerial mais ampla.

Além do novo titular da Secom, Dilma deve definir o sucessor de Cid Gomes no Ministério da Educação (MEC), que vem sendo chefiado interinamente pelo secretário executivo da pasta, Luiz Cláudio Costa. Já faz uma semana que Cid deixou o cargo após uma dura discussão com parlamentares na Câmara.

No momento, a presidente só quer fazer as substituições na Secom e no MEC. Um interlocutor direto da presidente disse à reportagem que ela “insiste em fazer alterações pontuais”.

Na avaliação de Dilma, este não é o momento de promover muitas alterações na equipe, e sim de concentrar esforços na aprovação do ajuste fiscal. A presidente decidiu institucionalizar a reunião de coordenação política, a ser realizada em todas as manhãs de segunda-feira. Nestes encontros, Dilma tem convidado o vice-presidente Michel Temer e ministros com bom trânsito no Congresso para participar do novo modelo de coordenação.

Para o MEC, o Planalto busca o nome de um educador com bom trânsito e bem articulado. Entre os cotados para o ministério, estão o diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna e ex-membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), Mozart Ramos, e o filósofo e escritor Mário Sérgio Cortella, que tem a simpatia de petistas e foi secretário municipal de Educação de São Paulo entre 1991 e 1992, na gestão de Luiza Erundina.

Escalado pela presidente para apresentar um plano estratégico para a área de educação, o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger - que entrou no primeiro escalão de Dilma no lugar de Marcelo Nery em fevereiro -, tenta se cacifar para o cargo.

As primeiras informações eram de que Traumann iria ocupar o cargo de gerente de comunicação institucional da Petrobrás, no lugar do sindicalista Wilson Santarosa, demitido na semana passada, mas, ele não deve mais ser designado para esse posto.