-SÃO PAULO- Ex-tesoureiro da campanha presidencial de Dilma Rousseff, o deputado estadual Edinho Silva (PT-SP) divulgou ontem carta aberta ao PT na qual admite “erros” do partido no “campo político”, diz que a legenda nunca esteve “tão paralisada” e defende que é hora de ir “para a luta política”. As observações foram feitas depois de Edinho recusar o convite do governo federal para comandar a Autoridade Pública Olímpica (APO).
“Não há novidade, companheiras e companheiros. Há, sim, erros no nosso campo político. Nunca na nossa história assimilamos com tanta facilidade o discurso oportunista de uma direita golpista e nunca estivemos tão paralisados (...) Há momentos na história em que a dúvida leva à derrota e há momentos em que o recuo leva ao aniquilamento. É hora de ‘pegarmos a nossa história nas mãos’, e com a certeza na frente revigorarmos os nossos sonhos e irmos para a luta política”, diz trecho da carta publicada, um dia depois de o exgerente executivo da Petrobras Pedro Barusco ter afirmado à CPI que repassou dinheiro para a campanha de Dilma em 2010.
DESISTÊNCIA AINDA SERÁ FORMALIZADA
Convidado pela presidente Dilma para assumir a APO, o deputado esteve em Brasília na semana passada para comunicar a assessores de Dilma que não assumirá o posto. Esses assessores ainda tentaram convencer Edinho a não desistir, mas o petista deve oficializar sua decisão assim que conseguir conversar pessoalmente com a presidente.
A nomeação de Edinho para a Autoridade Pública Olímpica precisaria passar pelo Congresso, e a avaliação é de que a instabilidade política não viabilizaria a aprovação dos parlamentares, o que o deixaria exposto. No texto, ao citar o escândalo da Petrobras e as investigações da Operação Lava-Jato, o deputado diz que, caso seja comprovado “que alguém tenha usado o PT para corrupção, deve ser penalizado”.
“Se a corrupção é endêmica e povoa as instâncias governamentais, ela tem que ser combatida com muita dureza. Companheiros e companheiras, nós sempre defendemos isso. Fomos nós que adotamos como política pública o Orçamento Participativo, a prestação de contas em plenárias populares, a radicalização da transparência. Isso tudo desde as nossas primeiras prefeituras. Errado está quem desrespeitou a nossa história. Se pessoas se utilizaram do PT para enriquecimento, toda vez que isso for provado, essas têm que pagar e nós temos que ser os primeiros a defender a penalização. Repito: nós nascemos e nossa existência só se justifica por sermos o maior e mais robusto instrumento de lutas ‘para a libertação integral do povo brasileiro’. Não podemos e não vamos servir a outros interesses”, diz a carta de Edinho.

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, preso no processo do mensalão, publicou o texto de Edinho em seu blog e o classificou como “uma excelente reflexão sobre o PT”. “Nossa história, os 12 anos de governos do partido no plano federal e, coroando isso tudo, uma análise do momento vivido pelo país e pela legenda”, disse Dirceu.

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Toffoli vai a Dilma após mudar de turma no STF

O ministro Toffoli foi recebido por Dilma ontem, dia em que foi formalizada sua ida para a turma do STF que julgará a Lava­Jato. ­BRASÍLIA­ O ministro Dias Toffoli foi recebido em audiência pela presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, um dia depois de decidir passar a integrar a Segunda Turma do Supremo, que julgará a maior parte da Lava­Jato.

O encontro durou uma hora e meia, com a presença dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo ( Justiça). Dilma e Toffoli negaram que o tema da conversa, marcada de última hora, tenha sido a Lava­Jato. Os dois disseram que o encontro discutiu a proposta de Toffoli de criar o Registro Civil Nacional. No Acre, Dilma explicou: — Porque hoje era o dia que eu podia e ele podia. Eu podia, mas quase que não podia, porque eu vinha para cá. Mas, como tem duas horas de fuso, fiz a reunião com o ministro Toffoli. A reunião não estava prevista até a noite de terça­feira, quando foi divulgada a agenda da presidente.

Toffoli disse que foi coincidência o encontro entrar na agenda de Dilma ontem. A assessoria do ministro divulgou o ofício de 18 de dezembro em que ele pediu audiência. Ontem, o presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, autorizou a transferência de Toffoli da Primeira Turma para a Segunda Turma. Toffoli disse que decidiu mudar em resposta ao apelo de colegas. Na Segunda Turma, ele participará do julgamento de 21 dos 25 inquéritos da Lava­Jato.

A proposta de transferência partiu dos ministros Gilmar Mendes e Teori Zavascki, com o objetivo de preencher a vaga aberta com a saída de Joaquim Barbosa. Até maio, a presidência da Segunda Turma permanecerá com Teori, que também é o relator dos inquéritos. A partir de maio, caberá a Toffoli presidir a Segunda Turma e pautar os julgamentos. — Na medida em que o (ministro) mais antigo não expressou a vontade de ir, eu, como segundo mais antigo, me expressei nesse sentido — disse Toffoli, que reagiu às críticas de que sua mudança para a Segunda Turma tem viés político.

Ontem, o ministro Gilmar Mendes, do STF, reuniu­se com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB­RJ), que está na lista da Lava­Jato. Gilmar negou que o assunto tenha sido Lava­Jato. Segundo ele, o tema foram projetos apresentados na época do Pacto Republicano. Logo depois que Gilmar deixou o gabinete, Renan Calheiros e Fernando Collor, que também estão na lista dos investigados, foram ao gabinete de Cunha.