RIO - O desempenho da economia brasileira deve piorar neste ano, antes de ter uma recuperação moderada em 2016. É essa a análise de economistas, que esperam recuo de mais de 1% neste ano e só veem a possibilidade de novo fôlego para o PIB no ano que vem. Identificar o que vai conduzir essa recuperação parcial, no entanto, ainda é tarefa difícil, com as incertezas sobre a retomada do crescimento global e na política do país.

Uma das possíveis fontes de esperança é a desvalorização do real frente ao dólar — uma demanda antiga da indústria, que, em tese, melhora a competitividade dos preços de produtos brasileiros em relação aos concorrentes internacionais. A mudança do patamar do câmbio, que fechou ontem em R$ 3,24, no entanto, não deve ser suficiente para alterar completamente o cenário. Isso porque, com a economia mundial ainda retomando o ritmo, é possível que exportadores não cheguem a se beneficiar do dólar alto. Além disso, o setor externo pesa pouco no resultado: no ano passado, as exportações tinham um peso de 11,5% do PIB.

— A única coisa que está clara é a desvalorização cambial. Isso veio para ficar. Obviamente, isso isoladamente não puxa crescimento de um país como o Brasil — destacou Luiz Carlos Prado, professor do Instituto de Economia da UFRJ.

 

CHINA E PETROBRAS

 

A fraca demanda global deve influenciar ainda um setor que se destacou no PIB do ano passado: a indústria extrativa. Também com peso modesto no resultado (4%), o segmento cresceu 8,7%, um cenário que não deve se repetir em 2015. Além da desaceleração da economia da China, deve pesar a crise na Petrobras.

— A gente tem alguns setores até com desempenho bom, como extrativa mineral, mas tem a crise da Petrobras por outro lado, que conta contra — diz Vinícius Botelho, do Ibre/FGV.

O especialista destaca que, com isso, a recuperação deve ficar para 2016, começando justamente naqueles setores que mais sofreram nos anos anteriores.

— Essa recuperação deve vir dos setores que estão desacelerando mais, como a indústria de transformação, mais sensível aos ciclos de negócios. Em outros, como consumo das famílias, há mais caminho para cair: os reajustes de energia ainda não terminaram de vir, por exemplo, o que ainda deve afetar o indicador.

O consenso é que a recuperação deve mesmo ficar para 2016. Felipe Salles, economista do Itaú Unibanco, prevê uma recuperação no ano que vem de 1,4%. Ele não está sozinho: a pesquisa Focus, do Banco Central, realizada com cerca de 100 analistas do mercado financeiro, indica alta de 1,05% no ano que vem.