BRASÍLIA­

A ida do agora ex­ministro da Educação Cid Gomes à Câmara para explicar uma declaração sua de que há na Casa achacadores virou confronto e bate­boca com os parlamentares da base. O resultado: a queda do ministro da Educação, com apenas dois meses e 18 dias no cargo, depois de um xeque­mate de peemedebistas, que pediram a demissão do ministro.

A primeira baixa na equipe da presidente Dilma Rousseff desencadeia uma inevitável reforma ministerial em seu governo, medida vista como indispensável para a superação da crise política que marca o início do seu segundo mandato. O secretário executivo Luiz Cláudio Costa assumirá interinamente o cargo de ministro da Educação. No confronto entre Cid e o PMDB de Eduardo Cunha (RJ), o partido, que cobra maior participação no ministério, saiu fortalecido. Em meio ao clima beligerante entre o ministro e o presidente da Câmara, peemedebistas mandaram um recado a Dilma: ou ele ou nós, exigindo a demissão de Cid. Cunha disse que a saída do ministro não significa que o governo esteja refém do partido. — Não aceito essa pecha, porque todos os partidos pediram a demissão dele. Não existe estar refém de quem quer que seja, o PMDB não pediu a demissão para ocupar o cargo dele, pediu foi respeito ao Parlamento.

A decisão da presidente está correta, porque demonstra respeito ao Poder Legislativo — afirmou. Tão logo Dilma aceitou a demissão, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante ,telefonou para Cunha para informar sobre a saída de Cid. O deputado então espalhou a informação pela Câmara. Pouco depois saiu a confirmação oficial do Planalto. ESPECULAÇÕES INCLUEM MERCADANTE Com a saída de Cid, voltaram a circular no Palácio do Planalto especulações de que Mercadante, fragilizado no cargo, poderia voltar ao MEC. Essa mudança agradaria ao ex­presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que gostaria de ver o ministro da Defesa, Jaques Wagner, na Casa Civil. Depois da demissão de Cid, Wagner esteve com a presidente.

Fontes do Planalto, porém, negam essa mexida. Dilma vem resistindo à mudança porque Mercadante é seu ministro mais próximo e considerado “imexível”. Uma solução caseira seria a volta de José Henrique Paim Filho, que saiu do MEC para dar lugar a Cid e foi indicado por Dilma para uma diretoria do BNDES. À presidente já chegaram ideias de substituir o ministro das Relações Institucionais (SRI), Pepe Vargas, por um nome do PMDB — Eliseu Padilha (Aviação Civil) ou o ex­presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves —, ou pelo atual ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo (PCdoB), que já comandou a pasta no governo Lula. Peemedebistas, no entanto, dizem que não querem este ministério porque ele não tem autonomia. Tudo depende da vontade de negociação de Dilma. No governo, fala­se num arranjo: entregar ao PMDB a Integração Nacional, cobiçada pelos peemedebistas na reforma de dezembro, desde que o partido aceite também a SRI. O PP comanda a Integração, mas a legenda ficou enfraquecida pela Operação Lava­Jato, que atingiu o presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI), e quase metade da bancada de deputados.

Para não tirar o PP totalmente do governo, a sugestão que chegou a Dilma é que ela dê uma pasta menor, como Portos ou Pesca, que estão com o PMDB. Apesar de a reforma ter que passar pelos peemedebistas, a fórmula não é considerada fácil. Há um grupo que defende a ida de Henrique Alves para o Turismo, ocupando o cargo de Vinícius Lages, afilhado de Renan. No partido do vicepresidente Michel Temer há muita insatisfação com os rumos da gestão Dilma e com o acúmulo de crises políticas geradas pelo governo. Cid Gomes foi à Câmara, convocado pelos deputados, para explicar declaração sua sobre a existência de “300, 400 deputados que defendem o quanto pior melhor, e aproveitam um governo fragilizado para “achacarem mais”.

Diante de uma plateia conflagrada de mais de 300 deputados, o ministro reafirmou o que disse, provocando a ira dos parlamentares. Deputados de seu partido, o PROS, da base e também da oposição acreditam que o ministro partiu para o ataque para manter o ativo eleitoral no Ceará. O próprio ministro disse na tribuna que voltaria à sua cidade, Sobral, de cabeça erguida. Cid Gomes chegou à Câmara acompanhado de uma comitiva de políticos cearenses, entre eles o governador do estado, Camilo Santana. Cunha logo mostrou que aquela claque o incomodava e pediu que quem não fosse deputado ou credenciado, deixasse o plenário. Deputados estaduais e vereadores reclamaram, mas foram para as galerias. Cunha se irritou e mandou esvaziar a galeria. — Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação, ou então larguem o osso! Saiam do governo! Vão para a oposição! Isso será mais claro para o povo brasileiro — afirmou Cid. Depois, em fala dirigida a Cunha, atacou: — Fui acusado de mal­educado. Pois muito bem, eu prefiro ser acusado por ele de mal­educado do que ser como ele, acusado de achaque. Houve reações dos deputados, que pediam que ele classe a boca. Cunha deu a palavra aos líderes, entre ele o do PMDB, Leonardo `Picciani (RJ), que pediu a demissão do ministro. Cid deixou o plenário da Câmara antes do fim da sessão, logo depois que o deputado Sérgio Zveiter (PSD­RJ), da tribuna, o chamou de palhaço. Em rápida audiência com a presidente, entregou o cargo. 

— A minha declaração e a forma como eu coloquei a minha posição na Câmara, é óbvio que criam dificuldades para a base do governo e, portanto, eu não quis criar nenhum constrangimento e pedi demissão em caráter irrevogável — disse o ex­ministro.