BRASÍLIA — O ex-governador e ex-ministro Cid Gomes chegou ao Ministério da Educação não pelo tamanho da bancada de 12 deputados do recém-inaugurado PROS, mas por conta do apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff desde quando estava no PSB e se digladiava com o então presidente da sigla, Eduardo Campos. Dilma via em seu futuro auxiliar alguém para melhorar a qualidade da Educação no país e, para cacifá-lo, entregou-lhe seu principal projeto para o segundo mandato, que virou até slogan oficial: Brasil, Pátria Educadora.
A presidente também esperava contar com políticos experientes em sua equipe, para ajudá-la nas tratativas com o Congresso, e Cid parecia ser a pessoa certa, uma vez que já havia sido governador do Ceará por duas vezes e tinha importância política. A presidente também acreditava que, fortalecendo pequenos partidos, como o PROS de Cid, poderia ficar menos dependente do PMDB. Mas o plano falhou na forma e no conteúdo.
Dilma já conhecia Cid e não ignorava o fato de que o destempero verbal parece ser marca de nascença dos irmãos Gomes. O ex-ministro Ciro Gomes, por exemplo, antes do bate-boca, estimulou que Cid mantivesse todas as declarações que havia feito sobre os achacadores da Câmara, conselho seguido à risca. A lista de polêmicas envolvendo Cid é tão extensa quanto sua popularidade no Ceará.
Em janeiro de 2008, como governador do Ceará, ele fretou um jatinho para fazer um tour pela Europa. Levou de carona a mulher, a sogra, dois secretários e as mulheres deles. Percorreram Londres, Madri, Edimburgo, Dublin e Berlim, entre 31 de janeiro e 9 de fevereiro. A justificativa oficial foi de que o governador fora visitar uma feira em busca de investimentos para o estado. O custo do fretamento foi de R$ 388,5 mil.
Depois que esse escândalo já estava estacionado, o governador envolveu-se em outro. Em 2012, enquanto esperava a presidente Dilma, Cid invadiu a pista do aeroporto de Salvador. Seu avião havia pousado antes da aeronave da presidente. Ele ordenou que o piloto, que taxiava para o desembarque, atravessasse a pista principal rumo à Base Aérea. Mas, como o piloto não obteve autorização da torre, Cid não teve paciência para esperar, desceu do jatinho e cruzou a pista a pé.
As questões aéreas não foram as únicas a ampliar a fama de pavio curto de Cid. A paixão pela música também causou ruídos aos ouvintes e contribuintes cearenses. Ainda em 2012, ele inaugurou um centro de convenções, ao custo de R$ 467 milhões. Mas o escândalo não se resumiu ao valor da obra. Para abrilhantar a inauguração do espaço, o governador contratou o tenor espanhol Plácido Domingos. Para que ele cantasse algumas árias, o governo pagou R$ 3 milhões.
Embalado por essa toada, o governador mudou o ritmo, mas continuou na melodia da polêmica. Por R$ 650 mil, a cantora baiana Ivete Sangalo fez o público tirar o pé do chão durante a inauguração de um hospital em Sobral, reduto eleitoral dos irmãos Gomes. Pouco tempo depois, a fachada do prédio recém-inaugurado caiu. Ontem, depois de sambar na cabeça de 400 deputados a quem chamou de “achacadores”, quem caiu foi o próprio ministro.