BRASÍLIA — A divulgação de um documento analítico do governo que fala em “caos político” no país e ataca o ministro Joaquim Levy, de autoria do ministro Thomas Traumann, da Secretaria de Comunicação Social (Secom), deixou a presidente Dilma Rousseff “perplexa” ontem, segundo fontes do Palácio do Planalto. Dilma disse a auxiliares que foi criado um problema desnecessário, mais um complicador num momento de vulnerabilidade do governo.

No texto, divulgado anteontem, Traumann avalia que a comunicação do governo é “errada e errática”, e diz que “não será fácil virar o jogo”, numa referência à crise política. O ministro recomenda respostas mais objetivas a Dilma, sugere que ela converse e se exponha mais, e desnuda de forma profunda tudo que tem dado errado no governo. Ao fazer um diagnóstico da crise, Traumann diz que o Planalto e o PT estão perdendo por WO para a oposição em conteúdo nas redes sociais.

“Se fosse uma partida de futebol, estamos entrando em campo perdendo de 8 a 2. De um lado, Dilma e Lula são acusados pela corrupção na Petrobras e por todos os males que afetam o país. Do outro, a militância se sente acuada pelas acusações e desmotivada por não compreender o ajuste na economia. Não é uma goleada. É uma derrota por WO”, diz trecho do documento, de oito páginas.

Ontem, houve especulações entre os governistas sobre quem teria sido o responsável pelo vazamento do material. Traumann viajou para os Estados Unidos na noite de terça-feira, horas depois de o documento ter se tornado público, e não foi encontrado. Ele havia acertado com Dilma na semana passada que viajaria para visitar um parente que está em tratamento médico.

A Secretaria de Comunicação Social ganhou status de ministério no governo Lula. A pasta é estratégica por ser responsável pela relação do Palácio do Planalto com os meios de comunicação e cuidar de toda a publicidade institucional do governo. Só no ano passado, a Secom empenhou R$ 231,2 milhões para pagamento de campanhas. Nestes valores estão incluídas ações de publicidade, comunicação digital, relações públicas, pesquisas e eventos de toda a administração direta do governo.

Com a reeleição de Dilma em outubro passado, a pasta foi alvo de ataque especulativo de aliados. Setores do PT interessados em comandar a verba publicitária e em reformular a linha de comunicação do governo tentaram indicar o ministro. A nomeação de Traumann, no entanto, é considerada da cota pessoal de Dilma. Ele foi porta-voz da Presidência e sucedeu Helena Chagas, que deixou a Secom no começo do ano passado, por desgaste na relação com a presidente.

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Um petista envergonhado  

As denúncias contra o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, incomodam deputados do partido. O desconforto ficou evidente durante encontro com o presidente Rui Falcão ontem, quando parlamentares que integram a coordenação da bancada defenderam o afastamento de Vaccari. Afonso Florence (PT-BA) foi um dos que demonstrou mais incômodo com a presença do tesoureiro na legenda, argumentando que sua permanência é motivo de situações constrangedores pelas quais tem passado.

— Eu sou vaiado no aeroporto, no restaurante, na rua. Temos que dar uma arrumada nisso — disse Florence (PT-BA), segundo um participante da reunião.

O Ministério Público Federal ofereceu esta semana denúncia contra Vaccari e outras 26 pessoas pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

No encontro, o presidente do PT teria afirmado, segundo deputados presentes, que Vaccari quer ir à CPI da Petrobras se defender. Há uma divisão no partido quanto ao afastamento do tesoureiro. Parte da sigla considera que isso soaria como confissão de culpa.

Em coletiva, Rui Falcão negou que houvesse uma discussão interna sobre o afastamento de Vaccari do cargo e defendeu o tesoureiro. Na reunião de ontem, os petistas também discutiram eventuais inciativas jurídicas contra o Ministério Público Federal devido à sustentação de que o partido teria recebido propina por meio de doações legais de campanha.

— O PT está apanhando calado — reclamou outro deputado petista, logo depois de deixar a reunião.