CURITIBA E SÃO PAULO
A Receita Federal levantou suspeitas sobre os R$ 400 mil dados pelo exministro José Dirceu como parte do pagamento da casa onde funcionava a JD Assessoria e Consultoria, em São Paulo. De acordo com relatório enviado à 13ª Vara Federal do Paraná e anexado ao inquérito que apura o envolvimento de Dirceu na LavaJato, a quantia não passou pelas contas do exministro em 2012, ano em que o negócio foi fechado.
O documento da Receita destaca que o imóvel foi comprado por R$ 1,6 milhão, sendo que R$ 400 mil foram pagos com recursos próprios e o restante financiado pelo Banco do Brasil em 161 prestações. Sobre a compra da casa, localizada numa área nobre ao lado Parque Ibirapuera, o relatório afirma que (há) “possível movimentação financeira incompatível (especialmente em maio), pois, segundo declarações do contribuinte, o mesmo teria pago R$ 400 mil relativos ao imóvel com recursos próprios, porém, esses recursos não circularam pela sua contacorrente”.
O documento diz ainda que caberiam diligências ao vendedores do imóvel, Cecilia Leme da Fonseca e Ruy Leme da Fonseca, para verificar como foi efetuado o pagamento. Procurada, a advogada de Ruy, Ana Cândida Campos, disse que só informará como seu cliente recebeu os R$ 400 mil referentes à entrada para aquisição da casa se for notificado pela Justiça. Ainda segundo o relatório, Dirceu gastou com o imóvel R$ 610.265,36 em 2012 — se considerados os R$ 400 mil da entrada e as prestações do financiamento pagas naquele ano. “No anocalendário de 2012, a movimentação financeira do contribuinte foi de R$ 229.121,93.” Além da compra da casa, o exministro declarou em 2012 ter feito um empréstimo de R$ 230 mil para o seu irmão Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, sócio na JD Consultoria, que também não circulou pela conta do exministro, segundo a Receita.
O documento que avaliou o Imposto de Renda e as contas exministro ainda destaca que “chama atenção a baixa movimentação financeira do contribuinte, sempre muito inferior aos rendimentos declarados”. Em 2012, O GLOBO revelou a compra da casa por Dirceu e mostrou que o Banco do Brasil avaliou o imóvel em R$ 3,03 milhões, apesar de o negócio ter sido fechado por R$ 1,6 milhão. A assessoria de Dirceu disse que o exministro e o seu irmão “estão à disposição da Receita Federal para prestar os esclarecimentos necessários quanto à licitude das transações”.