Quem disse que uma andorinha só não desfaz verão? Basta um mau caixeiro, para acabar com a freguesia da loja. O Estado não pode ficar tão caro, a ponto de ser um peso insuportável para a sociedade que o criou. “Cuidado com as mínimas despesas: uma pequena fenda pode afundar um navio”, ensinava Benjamin Franklin. Esses alertas e dúvidas soam com muita clareza neste Brasil em que vivemos. O Estado está em crise porque a economia está pobre e desorganizou o equilíbrio das forças políticas. Há um escândalo de corrupção no país, mas os cofres estão vazios para silenciar os justos.

Ainda este ano, a Petrobras vai se desfazer de 39 bilhões de reais de seus ativos; o dólar passará em muito de patamares só vividos em setembro de 2004; o desemprego, segundo a Organização Internacional do Trabalho, aumentará nos próximos três anos até atingir a marca preocupante de 7,3% ao ano; e, segundo, os mais otimistas, a inflação acumulada de 7,7% dos últimos 12 meses é uma pálida mostra do que ainda vem por aí.

Quaisquer que sejam as justificativas factuais para a crise política, nada resiste à constatação de que o Executivo só está enfraquecido porque o Estado está pobrinho. Faltou competência até para um fundo de reserva da paz parlamentar. Pobres estão também todos seus entes federativos e, portanto, igualmente fragilizados politicamente. Todos os novos governadores eleitos em 2014 anunciaram cortes no funcionalismo e custeio da ordem de 13 bilhões por ano. O estado de São Paulo encabeça a lista, com 6,6 bilhões, seguido pelo Rio com 2,6 bilhões e acompanhados até pelo modesto Espírito Santo, com 1,3 bilhão de reais ao ano. Não há como atender os necessários compromissos com as bases aliadas sem uma gestão competente de recursos.

O Executivo federal está se enrascando em uma enorme crise institucional de governabilidade, pelo estado de penúria a que se deixou chegar. A situação é tão crítica que o Morgan Stanley, a partir do ínfimo crescimento do PIB de 0,3 %, em 2014, informou que a combinação anunciada da política fiscal e cambial apertadas causará recessão em 2015. Na melhor das hipóteses, a expansão do PIB para 2016 será de 1,3%. O braço assistencial da União, cada vez mais anêmica, em pouco tempo não poderá mais socorrer plenamente os estados federados. Já em 2015, o Fundo de Participação dos Estados (FPE), em janeiro, teve uma arrecadação 280 milhões menor que a de janeiro do ano passado. Tudo porque as contas de dezembro de 2014 foram, segundo os tecnocratas, simplesmente atípicas. A política protecionista dos governadores vai começar a fazer água.

Sem grandes projetos federais, não tem governador de sucesso; sem ele, não tem bancada; sem deputados federais e senadores, onde fica a maioria no Congresso? Foise a vaca tossindo para o brejo! O Executivo precisa de uma base parlamentar azeitada, assim como a classe política precisa manter sua base eleitoral alimentada. Sem esse equilíbrio bisonho, a fisiológica democracia brasileira não permite a governabilidade. A base sólida de todo esse sistema é uma situação econômica saudável. Conquistá­la é um preço fundamental para alcançar a estabilidade democrática. Um Estado pobre tem políticos frágeis, que não sabem que só há duas maneiras de fazer política: vivese para a política ou se vive da política. Lamentavelmente, para maldição do povo, só conhecem a segunda afirmativa da oração.