Título: Obama quer garantir a reeleição
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 17/07/2011, Economia, p. 13

Os especialistas não têm dúvidas: caso o Congresso aprove o aumento do teto da dívida do governo, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, terá fôlego curto para manter a sua administração funcionando. No entender deles, Obama vê na maior capacidade de endividamento a única saída para garantir a execução de programas sociais que podem lhe garantir a reeleição da disputa marcada para 2012. Mantido o teto atual da dívida, de US$ 14,3 trilhões, não só os credores do país, entre eles, o Brasil, que ficarão sem receber. Servidores públicos, aposentados e desempregados também ficarão sem seus salários e sem os programas sociais.

É o interesse político que também está por trás da resistência de Obama de promover um corte mais drástico nos gastos, como pressiona o Partido Republicano para aceitar um novo teto para a dívida governamental. Os parlamentares da oposição pedem um arrocho de US$ 6 trilhões em oito anos, e o presidente norte-americano propõe uma redução de até US$ 1,5 trilhão ao longo de 10 anos. O aperto proposto pelos republicanos significa engessar as políticas sociais, especialmente na área da saúde, com as quais Obama conta para se manter no poder. "O que está por trás de toda a disputa é a eleição presidencial do ano que vem", diz Raphael Martello, economista da Consultoria Tendências.

Apesar do nervosismo com que todos acompanham as negociações de Obama com o Congresso, não será a primeira vez que a maior economia do mundo dará um calote na sua dívida. Em 1979, Washington atrasou por vários dias o pagamento de títulos públicos. Isso ocorreu por causa da demora do governo em aprovar os recursos, seguida de problemas técnicos no Tesouro norte-americano, retardaram o envio de cheques a uma multidão de investidores individuais. Mais tarde, o governo aceitou pagar juros suplementares para compensar os credores. Apesar de ressarcido, o mercado deu o seu troco e, segundo economistas que analisaram o caso, exigiu nos meses seguintes taxas de juros mais altas para comprar os papéis do governo.

Duas da maiores agências de classificação de risco, a Moody"s e a Standard & Poor"s, já admitem rever as notas dos EUA. Maior credora dos norte-americanos, a China pediu "políticas mais responsáveis" a Barack Obama. (GC)