Título: Governo em estado de alerta
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 17/07/2011, Economia, p. 15

CONJUNTURA

Dilma cobra ações enérgicas de sua equipe para conter estragos no país em caso de calote nos EUA e de derrocada dos países da Zona do Euro

A presidente Dilma Rousseff determinou a seus auxiliares mais próximos que façam um acompanhamento instantâneo da crise mundial. Apesar do discurso positivo que vem sendo feito em público, de que o Brasil está mais bem preparado para enfrentar um terremoto global, caso os Estados Unidos deem calote em sua dívida no início de agosto, nos bastidores, há a certeza de que o país terá de arcar com uma fatura alta ¿ inclusive com crescimento muito abaixo do previsto atualmente, entre 4% e 4,5% ao ano.

A tensão no governo aumentou com a certeza de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentará a taxa básica de juros (Selic) em ao menos 0,25 ponto percentual na próxima quarta-feira, para 12,50% ao ano. O argumento do BC é de que, mesmo com as crescentes incertezas internacionais, a inflação no país ainda não está sob controle e é preciso reforçar o arrocho para que a política de juros atinja o seu ponto máximo no início de 2012, quando entrará em vigor o novo salário mínimo, com aumento de 14%.

Como já reforçou o presidente do BC, Alexandre Tombini, com tal reajuste, o mínimo tenderá a pressionar o consumo e, sobretudo, forçar uma nova alta nos preços dos serviços, que, no acumulado de 12 meses, andam rodando na casa dos 8%. Historicamente, quando o piso salarial sobe, serviços como de cabeleireiros, mecânicos e pedreiros tendem a incorporar o aumento. É justamente para evitar a propagação desse movimento, que muitos economistas preveem nova elevação da Selic em agosto, também de 0,25 ponto.

Descontrole ¿Juros maiores reduzem a demanda, inclusive por serviços. Assim, os prestadores não se sentem tão confortáveis para cobrar mais caro. É isso o que quer o BC¿, explica um auxiliar de Tombini. Ele destaca que há a possibilidade de o presidente do BC conversar com Dilma antes da reunião do Copom, que começa na terça-feira. ¿Mas não creio que a presidente pressionará pela suspensão do aperto monetário. Ela sabe que o pior para o seu governo é o descontrole inflacionário¿, disse.

Tombini também deverá fazer a Dilma um relato profundo sobre como o BC está vendo o risco de calote nos EUA e as dificuldades na Europa, com a Grécia à beira de um calote e a Itália sendo apontada como o próximo país da Zona do Euro a sucumbir por causa de um gravíssimo descontrole fiscal. A dívida pública italiana, de 1,9 trilhão de euros, é a terceira maior do mundo, menor apenas que a dos Estados Unidos e a do Japão.