Título: Chávez dá chance para seu vice
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Fonte: Correio Braziliense, 17/07/2011, Mundo, p. 21

Venezuela

Presidente embarca para quimioterapia em Cuba e transfere parte de seus poderes

Pela primeira vez em 12 anos, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, delegou ontem parte de suas funções ao vice-presidente, Elías Jaua, antes de retornar a Cuba para continuar seu tratamento contra um câncer, em uma nova fase na qual se submeterá à quimioterapia. Seu afastamento de Caracas foi autorizado pela Assembleia Nacional, que aprovou ontem um pedido do mandatário para se ausentar. Em junho, quando foi operado na ilha e passou quase um mês fora do país, o líder não fez nenhuma solicitação ao parlamento ¿ que tem maioria chavista ¿, apesar de a Constituição venezuelana determinar que os deputados aprovem viagens do presidente ao exterior com duração superior a cinco dias. A Secretaria da Assembleia Nacional convocou seus 165 deputados para uma sessão extraordinária na manhã de ontem, na sede do Palácio Federal Legislativo, para apreciar o pedido de Chávez, feito por meio de uma carta e enviado à Casa na sexta-feira. O artigo nº 235 da Constituição Bolivariana estabelece que ¿a ausência do território nacional por parte do presidente da República requer autorização da Assembleia Nacional ou da Comissão Delegada quando se prolongue por um período maior que cinco dias consecutivos¿.

Após duas horas de debate, o presidente da Assembleia declarou que a ¿bancada bolivariana, por razões de legitimidade, legalidade e humanidade¿, votaria pela autorização. A oposição votou a favor da permissão, mas solicitou que o vice-presidente assumisse a chefia de Estado. O pedido da oposição deu início a outra discussão, com troca de acusações entre governistas e opositores. ¿Autorizamos a viagem do presidente para Cuba e esperamos que se recupere, mas, enquanto durar a ausência, todos os atos devem ser tomados na Venezuela, e não em Cuba¿, disse o deputado opositor Hiram Gaviria. Por sua vez, o governista Diosdado Cabello acusou a bancada opositora de adotar uma postura egoísta. ¿Vocês (deputados de oposição) querem é que o presidente se vá para sempre. Sejam sinceros¿, provocou.

Comentarista Ao mesmo tempo em que ocorria o debate no parlamento, Hugo Chávez comentava a discussão em uma transmissão pela tevê. Ele classificou de ¿ridículos¿ os argumentos da oposição de recusa à possibilidade de exercer a Presidência a partir de Cuba. ¿Esses porta-vozes da contrarrevolução e do imperialismo perderam a consciência dos limites do absurdo, inclusive beirando o ridículo¿, disparou. Chávez, porém, delegou várias funções e prerrogativas a Jaua, incluindo a de expropriar bens e comprar divisas, mas não cedeu todo o controle do governo. O presidente também agradeceu a aprovação da licença e prometeu que ¿voltará logo¿. ¿Obrigado à Assembleia Nacional por esta autorização, e espero que não seja um prazo muito grande¿, disse.

Chávez revelou ter câncer em uma mensagem lida em Havana, em 30 de junho. Quando chegou a Cuba, três semanas antes, ele cumpria a última etapa de uma viagem iniciada no Brasil. Quatro dias depois de desfazer o mistério sobre sua doença, o mandatário retornou de surpresa a Caracas para celebrar o aniversário de 200 anos da independência da Venezuela. Na ocasião, anunciou ter feito duas cirurgias (em Cuba) para a retirada de um tumor, sem revelar quais órgãos foram atingidos. Suspeita-se que a doença tenha atingido o cólon ou o estômago, embora a versão extraoficial seja de um câncer de próstata.

Casamento gay em Havana No mesmo dia em que celebrará o 85º aniversário do ex-presidente Fidel Castro, em 13 de agosto, Cuba oficializará a primeira união oficial entre um transexual e um homossexual. Wendy Iriepa, 37 anos, submetida a uma cirurgia de mudança de sexo em 2007, e Ignacio Estrada, 31, homossexual soropositivo, se casarão em uma cerimônia aberta que terá como madrinha a blogueira dissidente Yoani Sánchez. A escolha da data não foi coincidência, já que o casal quer destacar o ¿gigantesco¿ ato. Há um ano, Fidel admitiu a perseguição a homossexuais no início da revolução cubana. Mariela Castro, filha do atual presidente, Raúl Castro, foi pivô da campanha pelo respeito à diversidade sexual, inclusive com a legalização das operações de mudança de sexo, em 2008.