A deterioração da economia brasileira nos últimos meses, com cenário macroeconômico recessivo e oferta restrita de crédito, está abrindo espaço para que gestoras de recursos nacionais explorem oportunidades de negócios neste momento mais agudo da crise. Grupos como Peninsula Investimentos, capitaneada pelo executivo Antonio Quintella, ex-presidente do Credit Suisse; Opus e Banco Plural estão atentos a esse movimento e planejam captar recursos para injetar em empresas com situação financeira delicada.
No jargão de mercado, essas operações são conhecidas como "distressed assets", ou fundos especializados em ativos problemáticos, de alto risco. Grandes gestoras e bancos apostaram nesse filão nos Estados Unidos e na Europa, sobretudo após 2008, com a crise financeira global. No Brasil, os bancos públicos, como o BNDES, que saíam em socorro de empresas problemáticas, inibiram o avanço desses fundos por aqui. Mas, agora, com o ajuste fiscal e crédito limitado, as gestoras ganham mais espaço.
Empresas de óleo e gás, mercado imobiliário, energia e construção civil estão entre as mais fragilizadas. Fábio Silveira, economista da GO Associados, acrescenta usinas de açúcar e etanol, além de indústrias de equipamentos e máquinas, na lista de segmentos mais vulneráveis. "A tendência é clara para o risco de crédito entre 2015 e 2016, abrindo espaço para a atuação desses fundos", diz Silveira.
A Peninsula Investimentos pretende levantar um fundo de R$ 500 milhões no segundo semestre para financiar empresas em crise, mas que possuam ativos considerados recuperáveis. "Esse período de atividade menos intensa, inflação relativamente elevada e juros altos nos leva a crer que está se formando um cenário oportuno para a atividade que estamos desenvolvendo", diz Quintella.
Para atuar nesse mercado, Quintella trouxe em fevereiro para a Península a equipe da gestora JGP, sediada no Rio e fundada por ex-sócios do BTG Pactual, para desenvolver uma área de crédito dedicada a empresas problemáticas. Rafael Fritsch, ex-JP Morgan, que era o responsável por essa divisão na JGP, vai comandar esse negócio.
Em 2011, quando ainda estava na JGP, Fritsch coordenou a captação de R$ 200 milhões para um fundo para esse mesmo propósito. Agora esse fundo está em fase de desinvestimento sob cogestão da Peninsula. Quintella acredita que o cenário continuará desafiador nos próximos anos e avalia que a Peninsula poderá levantar mais recursos para a criação de outros fundos.
A gestora começou a estudar as empresas que poderão ser investidas. A captação deve ocorrer em seis meses, com investimentos previstos para 2016 e 2017.
De acordo com Fritsch, com a captação concluída, a expectativa é investir em cerca de 10 a 15 empresas. "Não temos um viés que vai identificar oportunidades em setores A ou B. Vamos avaliar as que têm a melhor equação de risco, retorno."
Parceria. O banco Brasil Plural deve concluir em maio captação entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões para investir em empresas em crise. De acordo com Warley Pimentel, diretor do Brasil Plural, o IFC, braço do banco mundial, vai participar com R$ 50 milhões, para até 10 companhias. "O objetivo é investir em empresas com problemas, mas não necessariamente em recuperação judicial", diz.
Para Vitor Hugo Roquete, sócio da gestora Opus, a escolha por determinada empresa para esse tipo de aporte independe do desempenho do setor no qual ela atua. "Todos os setores têm campeões e empresas problemáticas", diz. A Opus, que tem um fundo de R$ 50 milhões em ativos problemáticos em fase de desinvestimento, pretende nos próximos meses captar até R$ 100 milhões.
Os alvos na crise não são necessariamente empresas em recuperação judicial, embora essa situação ofereça maior segurança aos fundos, uma vez que há a figura de um juiz para administrar esse processo, com uma garantia real, como um imóvel ou ativo, por exemplo, lembra Pimentel, do Plural.
Em março, as recuperações judiciais requeridas cresceram 78,6%, para 75 solicitações, contra 42 em fevereiro. As micro e pequenas empresas lideraram os requerimentos, com 50 pedidos, seguidos pelas médias (18), e pelas grandes empresas (7), de acordo com a Serasa Experian.