Título: O pouso suave da economia
Autor: Azedo, Luiz Carlos; Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 23/07/2011, Política, p. 3

Dilma Rousseff ressalta que não adianta promover o combate à inflação com medidas prejudiciais ao crescimento do país e à geração de empregos

Dois dias depois de o Banco Central anunciar o quinto aumento da taxa básica de juros (Selic), de 12,25% para 12,5% ao ano, a presidente Dilma Rousseff afirmou que há uma determinação do governo de fazer um "pouso suave" da economia. Segundo ela, não há porque se promover um aperto monetário muito forte a curto prazo para controlar a inflação que resulte em "crescimento zero", pois os efeitos seriam danosos demais ao país. "Queremos um pouso suave da economia, com a inflação convergindo para a meta (4,5%) dentro de um horizonte possível", disse a um grupo de cinco jornalistas.

Para a presidente, a prioridade é garantir um crescimento razoável do Produto Interno Bruto (PIB) ¿ entre 4% e 4,5%, pelas contas de seus assessores ¿, de forma que o Brasil continue criando empregos e reduzindo as desigualdades sociais. "Não queremos inflação sob controle com crescimento zero. Esse seria o pior dos mundos. Já vimos isso em outras oportunidades e não foi bom", afirmou. "Não vamos derrubar o crescimento da economia a ponto de não termos o mecanismo de estabilização", emendou.

O compromisso assumido publicamente pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, é de levar a inflação, que, em 12 meses, está em 6,8%, para o centro da meta até o fim de 2012. Com esse objetivo, a autoridade monetária elevou a taxa Selic de 10,75% para 12,5% desde janeiro último e adotou uma série de medidas prudenciais para conter o crédito e o consumo. Parte dos analista acredita que o BC precisa fazer mais e promover pelo menos uma nova alta nos juros em agosto, pois a esperada desaceleração da atividade ainda não está clara, sobretudo quando se olha para o mercado de trabalho ¿ o desemprego está em 6,2%, o menor nível em nove anos.

Ajuste fiscal Na avaliação de Dilma, a despeito das críticas do mercado, o BC está fazendo um bom trabalho, agindo de forma correta. "Além dos juros, o Banco Central vem adotando medidas prudenciais para conter a inflação", disse. A presidente ressaltou ainda que, também do lado fiscal, o governo está dando a sua contribuição para o controle da inflação ao cortar gastos, tanto com custeio da máquina quanto com investimentos. Ela lembrou que, de janeiro a maio, o governo central (Tesouro Nacional, BC e Previdência Social) registrou superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida) de R$ 45,5 bilhões, mais da metade da meta de R$ 81,7 bilhões prevista para todo o ano.

"É um compromisso do governo fazer a inflação convergir para a meta. Estamos cortando gastos, buscando maior eficiência no uso dos recursos e controlando melhor as despesas", afirmou Dilma. Os analistas, porém, ressaltam que a qualidade dos gastos destacada pela presidente ainda não está espalhada nos números do Tesouro. Nos cinco primeiros meses do ano, as despesas com pessoal aumentaram 11%, enquanto os investimentos deram um salto de apenas 1%, mesmo o Brasil precisando de obras de infraestrutura para garantir o crescimento sustentado e diminuir os custos de produção.

Férias coletivas A preocupação de Dilma em manter uma taxa razoável de crescimento para o país encontra eco no mercado. Na opinião da economista sênior para a América Latina, Zeina Latif, não há mais necessidade de o BC continuar aumentando os juros. A inflação, acrescentou ela, tenderá, a partir de agora, a convergir para a meta, dentro do previsto pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Segundo o economista Carlos Thadeu Filho, da Franklin Templeton, a desaceleração da atividade ficará mais evidente no terceiro trimestre do ano. "O mercado de trabalho começa a esfriar, empresas estão dando férias coletivas e os preços das commodities (produtos básicos com cotação internacional), caindo", assinalou.