O endividamento total da Petrobras aumentou 31% em 2014 e atingiu R$ 351 bilhões, um recorde no setor de petróleo mundial. O presidente da companhia, Aldemir Bendine, reconheceu que a delicada situação da estatal é o "desafio central" para a retomada do crescimento. Outro indicador que aponta a capacidade da empresa de pagar suas dívidas, a alavancagem subiu 36% na comparação com 2013, expondo a urgência da estatal em conseguir novos recursos.

A alavancagem é medida pela relação entre o total de endividamento líquido e a sua capacidade de geração de caixa (Ebtida) para pagar o que deve. Nesse indicador, a estatal ultrapassou a marca de 4,7 vezes. Um nível considerado adequado pela própria estatal, por meio de seu conselho de administração, seria de 2,5 vezes. Para efeito de comparação, a Exxon, maior petroleira do mundo, registrou alavancagem de 0,48 em 2014.

 


"A companhia passou por um período de dificuldade onde foi a mais prejudicada. Hoje, a gestão de dívidas é um dos desafios centrais da Petrobras. Passada a limpo, retomará a capacidade enorme de geração de valor para os acionistas e toda a sociedade brasileira", afirmou Bendine. Segundo a estatal, a alta no endividamento se deve a uma depreciação cambial de 13,4%.

A viabilidade do pagamento das dívidas da companhia está ligada ao prazo contratado. De acordo com o balanço, nos próximos três anos, a companhia deverá amortizar cerca de R$ 45 bilhões por ano. Nos anos seguintes, o nível se elevará até atingir o volume de R$ 208 bilhões em 2020.

Esses prazos estão relacionados à expectativa da companhia de aumentar sua produção. De acordo com o último Plano de Negócios, de 2014, a estatal prevê dobrar a produção atual, de 2,6 milhões de barris por dia para 4 milhões de barris. Ontem, a diretoria informou que está revisando o Plano de Negócios, para parâmetros mais realistas, de acordo com o atual cenário mundial.

Piora

A situação da Petrobras começou a se deteriorar a partir de 2010, quando adotou uma política de preços de combustíveis ajustadas à política macroeconômica do governo. Por três anos, a companhia represou reajustes de preços e sacrificou seu caixa para evitar uma alta da inflação. A estatal estima que as perdas chegaram a R$ 80 bilhões no período.

Segundo os dados divulgados ontem, o endividamento líquido da companhia ficou em R$ 282 bilhões, descontadas as disponibilidades de caixa e financiamentos contratados no último ano. Mesmo com esses descontos, a Petrobrás ampliou em 27% seu endividamento.

A alavancagem é um dos itens fundamentais na análise da segurança financeira da companhia para as agências de classificação de risco, por exemplo. A Moody’s atribuiu à fragilidade do indicador o motivo de retirar da empresa, em fevereiro, a nota de grau de investimento. Essa nota indica aos investidores que a empresa representa um risco muito baixo. As outras duas agências globais, a Standard & Poor’s (S&P) e a Fitch sinalizaram que poderiam também rebaixar a Petrobrás.

Diante do grande desafio, Bendine informou que vai detalhar as estratégias para reduzir o endividamento no Plano de Negócios e Gestão para os próximos cinco anos, em um prazo estimado de 30 dias. Segundo ele, será preciso "controlar a ansiedade para entender a companhia daqui para frente".

"A melhora do endividamento se dará com a melhor geração de caixa, com a nossa financiabilidade. Já demonstramos que temos credibilidade com os organismos financeiros, como os recentes financiamentos obtidos. E se houver demanda com nosso plano de desinvestimentos", afirmou.

Para governo, balanço auditado da Petrobrás traz ‘alívio’

Na avaliação do Palácio do Planalto, divulgação dos resultados da empresa ‘é a superação de uma fase’

 

A presidente Dilma Rousseff espera que, com a publicação do balanço da Petrobrás, se consiga “virar a página” deste episódio que foi considerado traumático para a empresa. Na reunião de coordenação do governo, realizada no final da tarde de quarta-feira 22, a presidente Dilma comentou sobre a importância da apresentação do balanço com os nove ministros presentes. A presidente lembrou ainda que a empresa tomou um conjunto de medidas para se recuperar e que elas já estão surtindo efeito. 

 

 

 

A divulgação do resultado da Petrobrás foi considerada “um alívio” para todos que acreditam que o mercado verá a empresa com transparência, retomando a sua credibilidade, que foi atingida pelas denúncias de corrupção na empresa, permitindo que a petroleira volte a focar seus esforços na produção e nos investimentos, que precisam ser assegurados. Para o Planalto, “o balanço é a superação de uma fase” e, com a publicação do dados, agora, “a Petrobrás têm todas as condições de retomar seus projetos e investimentos”. 

 

O governo espera assim, encerrar uma nova etapa da Petrobrás. Um dos ministros presentes ao encontro citou que, com a publicação do balanço, a situação da estatal poderá voltar a ser regularizada. 

 

Um assessor palaciano, no entanto, comentou que o prejuízo registrado pela empresa de R$ 21,58 bilhões em 2014 foi um dado que não estava sendo esperado. Reconheceu, também, que foi “muito negativo” o fato de a empresa apresentar o primeiro prejuízo desde 1991. Mas, ressaltou que, “tudo isso deve ficar no passado e que todos estão focados em olhar para a frente e focar na recuperação da empresa, na sua produção e nos novos investimentos que serão feitos”. 

 

O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, avaliou que o balanço comprova a qualidade e o compromisso dos funcionários da empresa, que continuam trabalhando “em meio a tantos desafios”. O ministro, no entanto, destacou que o resultado operacional da Petrobrás foi 15% maior do que o registrado em 2013. “Isso é uma demonstração desse empenho e também uma garantia de que a companhia está pronta para continuar seus ajustes e iniciar uma nova etapa de sua história”, comentou Braga por meio de nota. 

 

O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), afirmou que os dados do balanço reforçam a posição da oposição de eventualmente pedir o impeachment da presidente Dilma. Ele considerou que os dados são a “comprovação da fraude” na Petrobrás e que Dilma, pelos cargos que ocupou, foi responsável e beneficiária das irregularidades. 

 

“Eu não conheço nenhum governo que tenha um balanço em que uma auditoria comprovou R$ 6,5 bilhões em corrupção e pagamento de propina. Para quem foi presidente, ministra de Minas e Energia, ministra da Casa Civil, presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, isso mais do que nunca fala que essa utilização da Petrobrás (…) foi diretamente pelo (João) Vaccari (ex-tesoureiro do PT) para o caixa de campanha”, disse Caiado. / COLABORARAM EDUARDO RODRIGUES, RICARDO BRITO E DAIENE CARDOSO 

 

Oposição diz que números da Petrobrás comprovam 'má gestão e corrupção'

Para Aécio Neves, o governo não 'tem nadapara comemorar' e asperdas com corrupçãopodem ser ainda maiores

BRASÍLIA - O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), divulgou nota em que diz que os dados do balanço da Petrobrás mostram "mais um capítulo de um filme de má gestão e corrupção" e que, ao contrário do que defendem governistas, "não há nada para comemorar". O tucano afirmou que, em pouco mais de uma década, o governo do PT conseguiu "manchar anos de eficiência da estatal", que há poucos anos era a maior da América Latina e uma das empresas mais eficientes do mundo no seu setor.

 

"Não há nada para comemorar em relação aos dados publicados hoje (ontem). A empresa registrou um prejuízo de R$ 21,58 bilhões, em 2014, ante um lucro de R$ 23,4 bilhões, em 2013, e teve um crescimento de sua dívida de mais de 30%, terminando o ano de 2014 com um endividamento total de R$ 351 bilhões. Essa dívida elevada é incompatível com o plano de investimento da companhia, o que significa que, para cumprir parte do seu plano de investimento, a empresa terá que vender ativos", afirmou.

 

Para o tucano, as perdas de R$ 6,194 bilhões relacionadas à corrupção, citadas no balanço, podem ser ainda maiores. Ele ressaltou que a apuração dos escândalos de corrupção envolvendo a estatal e seus fornecedores ainda está em andamento pela Polícia Federal, Ministério Público e Justiça Federal.

 

Para Aécio, a reavaliação de ativos (o impairment), que totalizou R$ 44 bilhões, é um valor elevado e evidencia o que considera como "indiscutível falta de planejamento decorrente da má gestão e uso político da Petrobrás pelo governo do PT".

 

O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), disse que os dados do balanço reforçam a posição da oposição de eventualmente pedir o impeachment da presidente Dilma. Para ele, os dados são a "comprovação da fraude" na Petrobrás e que Dilma, pelos cargos que ocupou, foi responsável e beneficiária das irregularidades.

 

"Eu não conheço nenhum governo que tenha um balanço em que uma auditoria comprovou R$ 6,5 bilhões em corrupção e pagamento de propina. Para quem foi presidente, ministra de Minas e Energia, ministra da Casa Civil, presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, isso mais do que nunca fala que essa utilização da Petrobrás (…) foi diretamente pelo (João) Vaccari (ex-tesoureiro do PT) para o caixa de campanha", disse Caiado.